Olá amigos, baseado no último post do VDC pensei em escrever aqui sobre questões que estou passando aqui em Portugal. Minha vida sempre foi difícil assim como a de quase todo mundo. A vida é difícil pra maioria pois a maioria tem pouco conhecimento, dinheiro e um ambiente desestruturado para crescer, então o post não será focado em choramingas. Quem não choraminga de vez em quando? Não conheço, mas temos que ter horror a este hábito. Choramingar só te põe fora dos trilhos e distancia da solução dos problemas, mas tenho que explicar algumas coisas antes de seguir em frente.

 

Quando finalmente surgiu a oportunidade de sair do Brasil, as contas públicas já haviam sido destruídas pela roubalheira da quadrilha de esquerda do PT e do Foro de São Paulo e Isso me afetou muito, pois meu plano contemplava um câmbio de até R$ 3,00 por Euro e de repente chegou em R$ 4,70. Pois é. Imigrar não é "0 ou 1". Assim como abrir uma empresa. Nada é. Existem nuances que você só vai sentir quando pular.

 

Tive que me atirar no redemoinho ou meu sonho de vida poderia jamais se concretizar. A prima italiana de minha esposa estava para ir embora da Itália e isso prejudicaria muito e encareceria a questão da finalização do processo de cidadania, além de que tínhamos chegado a um ponto nos empregos que apontavam que esta era a hora de deixa.los antes de "estabilizar" na vida (comprar um apartamento, ter filhos, sei lá o que pode ocorrer). Somado à Tudo o ônibus que minha esposa tomava para o trabalho na região metropolitana levou uma rajada de metralhadora durante aquela greve da PM (e já havia sido assaltado). Eu mesmo precisava acompanhar ela até a parada portando minha faca e este ambiente absurdo de insegurança foi a gota que faltava (nesta última semana assassinaram um conhecido com um tiro na cabeça em um assalto ai no Brasil).

 

Outro golpe duro foi, chegando aqui, ter ficado impossibilitado de trabalhar legalmente por muitos meses, e aqui ninguém parece dar emprego informal não só pelo medo de multas, mas pela mão de obra ser extremamente barata. Pense nisso! Se você não é médico, engenheiro ou tem a capacidade de se sustentar trabalhando pela internet, sinto muito, vai ser mais fácil contratarem um macaco treinado no próprio país que você.

 

Está ficando cada vez mais difícil trabalhar, pois os países desenvolvidos vão colocar robôs nos trabalhos que antes eram ocupados por imigrantes. Se trabalhar já é ruim o suficiente, imagine nem isso ser possível. Se não acredita espere mais 10 anos. Já tem até robô advogado, robô motorista e robô vendedor.

 

 

 

Até tive pena de um casal brasileiro que apareceu sábado aqui na loja cheio de sonhos de viver em um lugar melhor, pois eles estão com a ilusão de arrumar um contrato de trabalho e legalizar a estadia aqui, e isso será muito difícil sem ter bons amigos. A cultura aqui é burocrática ao extremo e bastante diferente dos países anglófonos. As pessoas parecem nem considerar fazer algo se não tiver uma lei pregada no poste por algum "comissário".

 

Não me entenda errado, eu acredito que o fator principal para quem tem o projeto de sair do Brasil é ser IMPLACÁVEL e ficar no novo país de qualquer jeito, até que sua estadia seja permitida. O "de qualquer jeito" significa enfrentar solidão, preconceito, fome, frio, necessidades por falta de ferramentas como um simples ventilador, desemprego, ameaça de deportação, sei lá. Considere tudo. Apenas advirto que, sem um monte de grana pra te sustentar, isso tudo vai ser muito mais difícil em um país não-anglófono.

 

Meu avô teria vergonha de ouvir o que eu poderia contar sobre seus ancestrais militares-mascates-navegadores que ele tanto louvava se estivesse vivo. Certamente ia achar os portugueses se tornaram um povo sem ambição, o maior dos pecados segundo ele e eu concordo. Ambição na vida é absolutamente tudo. Fato confirmado por conversas com nativos que tive. Eles mesmo admitem.

 

 

 

 

Apenas um parêntese: para mim isso tudo é culpa da esquerda que dominou a educação e a mídia de modo devastador. Fazem de tudo pra fazer o povo se envergonhar de ter colonizado outros países, escondendo o fato que isso foi um fator primordial para a evolução da globalização e do capitalismo. Não só aqui, mas no geral existe uma forte campanha para fazer as pessoas se envergonharem do passado.

 

Voltando à questão do emprego, minha esposa e eu decidimos executar um sonho antigo de abrir nossa própria empresa. Praticamente tudo deu errado. Dificuldade em achar um local, reforma-lo (a mão de obra aqui é extremamente lenta - digo sem medo que eles são bem menos eficientes que no Brasil para vender qualquer produto ou serviço, acredite se quiser). Fornecedores ruins, contabilista vadio e mais um monte de coisas. Tudo bem, estamos vivos e aumentando as vendas, mas se analisarmos de modo frio, abrir a empresa foi um erro. Como disse o blog do Seu Madruga certa vez, ser empregado é mais fácil (não me entenda mal, não quero voltar a ser empregado nunca mais).

 

Porém uma pessoa aqui com um salário de cerca de 700, 800 Euros já sustenta o casal com uma qualidade de vida melhor que a que tínhamos no Brasil com cerca de 5 ou 6k juntos (sem contar que vivíamos frugalmente com 2,5k para aportar o excedente).

 

 

 

Já contei a vocês, meu plano é tentar ao máximo por um ano e meio ou dois na loja. Caso não consiga pagar todas as contas (da loja e as pessoais) com as vendas da loja após este período, vou contabilizar e voltar a fritar hambúrguer. Felizmente o rendimento de meus investimentos no Brasil cobrem os gastos deste período em cerca de dois anos. Não valerá a pena manter este ritmo por muito mais tempo, sem grana nem tempo pra curtir a vida.

 

Além disso falei para minha esposa em um momento de descontrole que este é meu último grande projeto na vida e expliquei o porque. Porque eu estou perto de conquistar os maiores objetivos da vida. Um foi finalmente sair do Brasil, e agora com minha permissão de residência em mãos, somente uma guerra ou a morte me tiram daqui. Outro foi alcançar a IF. Sei que o conceito é discutível mas para mim, ter as contas pagas com certa folga é a IF, o resto é lucro. Perdi este objetivo quando abri a empresa e passei a depender de transferir dinheiro do Brasil para ajudar nas contas, e mesmo isso que deveria ser simples é uma dor de cabeça e está se tornando um problema com limites, imposto de renda e câmbio.

 

Como diz o Gene Simmons, existem pessoas em situações desesperadoras de guerra, fome, doença e todo tipo de problema bem mais sério que o meu, portanto se eu acordei em cima da terra com relativa saúde e liberdade, já venci. O resto depende de mim.

 

Acredito que devemos ter metas bem estabelecidas para conseguir viabilizar objetivos que começam vagos, e por isso afirmei que, caso a empresa não vingue após dois anos vou fechá-la, para não dilapidar meu patrimônio já conquistado, que afinal será uma singela aposentadoria.

 

No post do VDC ele pergunta o que estamos fazendo para melhorar dia após dia e eu respondo tentando me tornar um melhor vendedor e administrador. Melhor em casa, mais organizado e respeitoso com as pessoas. Mais ponderado. Acabei desdenhando do físico e alimentação, mas pretendo voltar a me exercitar. Ir e voltar para a empresa a pé faz parte deste objetivo - neste trajeto ouço música ou algum livro, e assim não perco tempo fazendo isso em casa.

 

A todos que queriam saber um pouco mais da odisseia do CF, aí está. Tenho tomado cuidado com o blog, não por medo de descobrirem minha identidade, mas porque quanto mais escrevemos mais somos julgados pelos haters fracassados.

 

Ao fim do post convido a assistirem essa palestra do Bastter que deu nome ao meu post.