Capítulo 1: Imagine
Não me lembro bem como tudo começou, mas me lembro de ser muito solitário quando criança, pelo menos até o dia em que eu ganhei aquele presente. Minha primeira bicicleta parecia ter chegado para acabar com a minha solidão, pois em todos os lugares que eu ia, sempre ia com ela, independente da distância eu sempre andava com ela. Era minha diversão principal, na verdade a única diversão. Além de uma diversão, pela falta de amigos, ela acabou se tornando minha amiga.
Me lembro apenas de um dia estar indo até a casa da minha tia, visitar meu primo, quando eu a peguei e antes de montar nela eu falei:
- Vamos nessa amiga, nos aventurar um pouco.
E foi então que para minha surpresa ela me respondeu:
- Vamos, mas as aventuras maiores ainda estão por vir.
Lógico que fiquei assustado, pois não vi ninguém por perto para falar aquilo, mas então ela continuou a falar:
- Não se assuste, sou apenas eu, sua bicicleta e seu amigo.
Por mais que eu estivesse assustado eu senti confiança nas palavras que eu ouvia, palavras estas que pareciam estar vindo da minha mente. Resolvi continuar meu caminho até a casa do meu primo e durante o caminho nós fomos conversando e ele, o ser da minha bicicleta, foi me explicando tudo.
- Ramon, eu me chamo Allfa e você foi escolhido pela Luz da imaginação para se tornar alguém especial, alguém que o futuro será maior do que você mesmo pode imaginar agora. Existe um mundo imaginário lá fora onde coisas impossíveis se tornam possíveis na mente daqueles que acreditam em si mesmos. Aqueles que são escolhidos pela Luz para abrirem seus olhos da imaginação recebem uma espécie de treinador para ajudar a desenvolver suas habilidades.
- Então quer dizer que eu terei super-poderes? Como um super-herói?
- Considere como se fosse isso, mas haverá responsabilidades que estarão sobre nós dois.
- Sem problemas. Quando eu começo meu treinamento?
E desde aquele dia a vida como eu a conhecia se transformou em um fechar e abrir de olhos, pois uma das primeiras coisas que o Allfa me ensinou foi a me transportar para o tal mundo imaginário de que ele havia falado. Bastava eu apenas fechar os meus olhos por um instante e utilizar a luz da minha imaginação e no momento em que eu abria meus olhos outro mundo se apresentava diante de mim. Até mesmo eu ficava diferente como seu eu fosse outra pessoa e o Allfa se apresentava na sua verdadeira forma que era um homem alto de pele escura vestindo uma armadura prateada como se fosse um cavaleiro medieval, diferente de mim que estava com uma roupa um pouco mais na moda.
O mundo imaginário era composto das mesmas coisas que o mundo real, pois havia casas, prédios, automóveis e pessoas, todas vivendo a sua vida normalmente a única diferença é que nesse mundo as pessoas da vida real podiam ser quase tudo que suas imaginações quisessem. O Allfa explicou que muitas pessoas do mundo imaginário ainda vivem suas vidas imaginárias simplesmente como suas vidas reais, por não possuírem mais tanta imaginação como quando eram jovens. Ele também disse que seria muito provável que eu nunca perdesse minha imaginação de jovem pois o poder da luz em mim era maior do que em qualquer outra pessoa.
No começo do treinamento o Allfa disse que a missão dos que recebem a luz como eu era manter a paz e harmonia, tanto no mundo real quanto no imaginário. Quando eu perguntei sobre ter super-poderes como um super-herói eu não imaginava que um herói era exatamente o que eu seria. Assim como existem pessoas que tem boas imaginações, existem também aqueles que só imaginam coisas ruins e era exatamente contra essas coisas ruins que eu iria literalmente lutar.
Eu havia pensado que o treinamento seria tão fácil quanto o fechar e abrir de olhos que me levava ao mundo imaginário, mas não foi. O Allfa fez questão de mostrar em suas aulas de combate corporal que apesar de estarmos em mundo imaginário a dor não deixava de existir. Ele era o dobro da minha altura e não tinha piedade alguma em seus ataques contra mim, pois dizia que se eu enfrentasse algum inimigo real ele não teria nenhuma compaixão de um simples garoto como eu. As vezes eu me enfurecia, pois ele me subestimava até demais, mas isso foi por pouco tempo porque no dia em que eu o derrotei sem mesmo fazer esforço algum ele disse que eu já estava preparado para um tratamento diferenciado.
Eu realmente estava mais forte e mais rápido do que um ser humano da vida real já adulto e eu ainda era apenas uma criança. O treinamento de ataques físicos estava concluído e o Allfa resolveu passar para um treinamento mais complicado: o treinamento de Energia de luz. Quando eu perguntei sobre super-poderes eu nunca havia pensado que seria tão poderoso como o Allfa me mostrou. A primeira demonstração da energia da luz que ele me mostrou foi uma espécie de emanação de luz brilhante se irradiando do seu corpo, como se fosse uma espécie de aura e quando ele me mostrou era como se eu estivesse de frente de gigante imã ao contrário que tentava me repelir ao invés de atrair.
Eu conseguia sentir aquela energia como se ela corresse por todo o meu corpo, fiquei imóvel quando vi o Allfa concentrar aquela energia em seu punho que ficou parecendo uma lâmpada acessa de tão claro e mais impressionado ainda eu fiquei quando ele usou essa energia no punho pra destruir metade daquela parede atrás dele como apenas um soco. No momento eu só pensei o seguinte: “Caramba! Eu tenho que aprender fazer isso!”. Eu só não tinha idéia de que aquela demonstração era a coisa mais simples que se podia fazer controlando a energia de luz.
Eu estava prestes a descobrir que eu seria capaz de fazer muito mais do que explodir paredes usando a energia, pois o Allfa me disse as seguintes palavras:
- Esta energia em forma de luz foi dada a você em grandes quantidades há algum tempo atrás e é bem possível que você possua muito mais energia do que eu. Se você puder controlá-la poderá utilizá-la de várias maneiras, como forma de ataque, defesa e até locomoção.
- Como assim? Como locomoção? De que maneira Allfa?
- Assim.
E quando percebi ele estava levitando há alguns centímetros do chão.
- Então você quer dizer que eu posso voar!?
- Sim, basta você controlar a energia para formar uma fina camada de luz cobrindo seu corpo e direcioná-la na direção que você quiser se mover, inclusive para o céu.
Estava decidido, eu não ia descansar enquanto não aprendesse voar, mas como sempre falar é mais fácil que fazer. Nos primeiros dias eu mal conseguia emanar a energia em forma de aura como o Allfa fez no começo, mas com o tempo fui percebendo que não estava conseguindo controlar isso porque ficava muito ansioso. O Allfa explicou que assim como sentimos a energia de luz, ela também nos sentia, então não bastava simplesmente controlá-la mais também se deixar ser controlado. Era uma integração entre meu corpo e a energia, um conjunto que deveria trabalhar em grupo.
Depois que entendi como a sincronia funcionava o primeiro passo estava dado e a primeira etapa do treinamento concluída. Agora eu deveria aprender a direcionar a energia para um ponto do meu corpo. Mais uma vez eu me enganei porque achei que seria fácil fazer isso agora que eu conseguia emanar a energia de luz, mas por algum motivo sempre que eu pensava em direcionar a energia para a mão direita ela ia para a mão esquerda, quando eu tentava direcionar para a mão esquerda ela ia para os pés e assim por diante.
- A energia está dominando você mais do que você à ela. Você tem que ser mais convicto em seus pensamentos.
E foi assim que eu fiz ela se concentrar na minha cabeça, mas pelo menos ela foi para onde eu queria e a partir daí já começava a me obedecer. Já conseguia direcioná-la para qualquer lugar do meu corpo e quando eu pulverizei minha primeira pilha de tijolos eu me senti o máximo e fiquei com vontade de sair dando soco em tudo que eu via pela frente.
