Sempre fui fascinada por relógios. Os de ponteiro mesmo, não os digitais. A sincronia que eles exigem de todas as Suas minúsculas partes para que o todo faça sentido sempre me pareceu semelhante ao que exigimos do amor.

Aquele minúsculo espaço comporta muitas peças e exige do seu criador uma delicadeza e minúcia que chega a ser bela. Sempre fiquei pensando nos motivos que nos levam a ir mais fundo. Provavelmente o primeiro relógio da terra foi enorme. Suas peças, embora em sincronia, provavelmente tinham o diâmetro dos nossos corpos. Por que, mesmo sabendo o quão complexo e delicado Seria, alguém se arriscou a dizer que podia ser pequeno a ponto de podermos pendurar nos pulsos?

O que nos leva a pesar a dificuldade e escolher ficar, escolher ir mais? No caso dos relógios, gosto de imaginar que alguém no mundo pensou que o tempo seria melhor se cada um pudesse carregar o seu.

Não medimos o tempo, mas com certeza somos a composição de partes que deveriam viver em harmonia milimétrica. Mas os relógios também deveriam não parar e às vezes param.

Deles, li que as engrenagens servem para três coisas: transmitir o movimento adiante, inverter o sentido dele e para reduzir a velocidade do movimento – quanto maior a engrenagem e mais dentes ela tiver, mais vagaroso o Giro.

Seria então o amor nossa engrenagem? Enquanto me pego em alta velocidade, num giro desastroso e desordenado, é inevitável deixar de pensar que gostaria de escutar um “click” evidenciar que as máquinas voltaram a se encaixar e que o giro agora pode e será mais compassado.

Se tivermos sorte, suas únicas pausas serão quando surgir a necessidade de trocar as baterias e uma vez realizada tal manutenção, bastará que se ajuste os ponteiros e que coloque tudo para funcionar novamente.