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Vamos falar de traição

Será que já secaram? Os nossos corações?

Estava encharcado e todo amarrotado quando no varal o pendurei. Na falta de outro, saí por aí vestida de sem coração. É uma roupa confortável e alguns disseram que até bonita.

Enquanto as lágrimas tingiam de vermelho a área de serviço, me coloquei a perguntar: o que é que deixa nesse estado os nossos corações? É muito simplista falar que é o amor ou o fim dele. Traição talvez explicasse, mas eu não sou possessiva o suficiente para acreditar nisso.

A traição, no sentido simples da palavra – o ato de estar com outra pessoa quando se vive um acordo monogâmico – é uma poderosa arma de extermínio do amor. Ouso acreditar que o medo dela acontecer é onde mora seu poder letal. Esse medo, que alguém um dia chamou de ciúmes, já me assassinou também alguns amores.

Um dia, cansada de chorar tais mortes, decidi evitar a sorte: tomei a decisão racional de não mais precisar da monogamia. É quase inteligente: se não há acordo, não há traição e, se não há traição, não há ciúmes. Parecia um plano brilhante.

Mas não estamos acostumados a não seguir padrões. A posse é vista hoje como sinônimo de querer. O fato de que não nos “exijam” algum tipo de comportamento é visto como “não se importar” ou, pior ainda, como falta de comprometimento. Aliás, isso pra mim não faz sentido algum: poucos sabem o nível dele que é exigido para deixar livre alguém por quem você está completamente apaixonado.

Nesse mundo de relações líquidas, as pessoas acreditam que fechar os punhos evitaria que o amor escorresse por entre os dedos. Eu só tenho uma certeza: não existe fórmula pronta. Não dá pra querer convencionar quereres. O melhor tipo de relação é aquele que te faz bem. Se for de verdade, vale tudo.

O que eu sei é sobre mim: me importo muito pouco que a pessoa que eu amo se sinta atraída por outra. Desejos são fluídos, relações são sólidas. Entendo que a atração e o desejo não se direcionam sempre a um só corpo, mas não entendo como não direcionar sinceridade e carinho ao corpo que ama.

Traições, mentiras, ciúmes já me mataram amores, mas nunca o coração. As vezes na vida em que tive de pendurar o coração encharcado em lágrimas pouco tiveram a ver com descobrir que o amor morreu, mas sim em perceber que ele não tinha nem nascido.

Hoje vou até o varal vestir novamente o coração. Foram muitas noites que o deixei exposto à luz. Só acharam bonita a roupa os que nunca me viram com o traje todo. E se as relações serão abertas, fechadas ou mistas eu pouco me importo. Quem eu vier a carregar nesse coração que trago no peito haverá de entender, assim como eu, a monogamia como consequência e não causa.




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