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Onde estão as chaves?

Hoje eu fui até a casa da minha mãe. Porque eu precisava muito falar com ela. Porque Era domingo e tinha jogo e eu não suporto mais futebol. Porque era final de bimestre a gente sempre passeia, todo final de bimestre. Porque eu passei por tantos lugares nesse mundo, que deve existir algum em que eu me sinta bem.
Passei na casa da minha mãe porque ela faz tanta, mas tanta falta, que confunde a minha razão e mistura as minhas lembranças. E hoje eu não sei mais o que é realidade e o que é sonho. Ou pesadelo.

Porque nesse ano eu vivi um monte de coisas, mas o que eu melhor aprendi foi engolir a tristeza e imprimir um sorriso: assim as pessoas se sentem melhores. No começo você até tenta dialogar com a razão e explicar que não haverá emprego, viagem ou filhos que diminuirá a falta que ela faz. Mas aí vêm os números, um mês ainda é pouco, mas seis meses já é bastante e então o número mágico: um ano. E você é obrigada a superar. Então você aprende e pede um café. E sorri. E eu tomei tantos cafés nesse último ano… Mas as vezes você recai, e tenta explicar mais uma vez, que ela era sua mãe e sua melhor amiga. Que só ela te conhecia e te dizia a verdade. Que você se divertiam e brigavam. Que comiam hambúrguer no fim da tarde de domingo e passavam a noite corrigindo provas. Que você dormiu na cama dela, porque estava doente, e ela dormiu no sofá. Então elas te dizem para seguir a vida, e não cultivar sofrimento. Parecem se esquecer que você defendeu o mestrado, estudou, aprendeu outra língua, não largou os empregos. Mesmo sem achar que essas coisas façam sentido, já que ela não está mais aqui.

Hoje eu fui até a casa da minha mãe. Estacionei o carro, peguei a chave e quase entrei.



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