Na época de Freud (estamos falando do final do século XIX e início do século XX), o que a cultura europeia dizia para os indivíduos?
“Você precisa ser uma pessoa decente, virtuosa, moralmente irrepreensível e capaz de dominar completamente suas emoções e impulsos.”
Essa era basicamente a mensagem que uma pessoa na Europa daqueles tempos ouvia reiteradamente desde criança.
É por essa razão que o tipo de adoecimento psíquico que chegava com mais frequência à clínica de Freud era a neurose.
Afinal, um sujeito se torna obsessivo, histérico ou fóbico justamente por fracassar na vã tentativa de se adequar a um imperativo moral totalmente idealizado.
Nós ainda vemos neuróticos na clínica, mas eles estão se tornando cada vez mais raros.
Num mundo em que decência, virtude e moral saíram de moda, pouca gente hoje em dia adoece por não conseguir se conformar a um ideal de pessoa “de bem”.
Mas os consultórios dos psicanalistas continuam cheios e isso revela a existência de uma nova atmosfera cultural, igualmente adoecedora.
Cada vez mais recebemos pessoas deprimidas, ansiosas, inseguras, com baixa autoestima.
E elas não sofrem da incapacidade de serem “moralmente irrepreensíveis”.
Pelo contrário!
Algumas delas sequer possuem um sistema de referências normativas suficientemente sólido que lhes diga: “É assim que você deve ser.”.
No fundo, muitos desses pacientes estão… perdidos, “desbussolados”, como diz o psicanalista Jorge Forbes.
Se os pacientes de Freud sofriam com o EXCESSO de Sentido vindo da cultura, nossos pacientes padecem justamente da… FALTA de sentido.
Sem referências simbólicas estáveis, não conseguem fazer projetos, se angustiam diante das várias possibilidades de escolha e se tornam as vítimas perfeitas para os gurus da alta performance.
O poder imperativo de que gozavam a Religião e a Tradição na época de Freud foi triturado.
E hoje seus grãos se encontram espalhados nas mãos de “influenciadores” que se posicionam como arautos da verdade e prometem a seus seguidores uma vida “épica” e “destravada”.
Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
E para quem está se afogando, jacaré é tronco.
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