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Livro 18: Por lugares incríveis, de Jennifer Niven


Sinopse:
"Violet Markey tinha uma vida perfeita, mas todos os seus planos deixam de fazer sentido quando ela e a irmã sofrem um acidente de carro e apenas Violet sobrevive. Sentindo-se culpada pelo que aconteceu, a garota se afasta de todos e tenta descobrir como seguir em frente. Theodore Finch é o esquisito da escola, perseguido pelos valentões e obrigado a lidar com longos períodos de depressão, o pai violento e a apatia do resto da família.


Enquanto Violet conta os dias para o fim das aulas, quando poderá ir embora da cidadezinha onde mora, Finch pesquisa diferentes métodos de suicídio e imagina se conseguiria levar algum deles adiante. Em uma dessas tentativas, ele vai parar no alto da torre da escola e, para sua surpresa, encontra Violet, também prestes a pular. Um ajuda o outro a sair dali, e essa dupla improvável se une para fazer um trabalho de geografia: visitar os lugares incríveis do estado onde moram. Nessas andanças, Finch encontra em Violet alguém com quem finalmente pode ser ele mesmo, e a garota para de contar os dias e passa a vivê-los".


Sobre a autora:
"É autora de quatro romances para adultos -American BlondeBecoming Clementine,Velva Jean Learns to Fly e Velva Jean Learns to Drive -, três livros de não ficção - The Ice MasterAda Blackjack e The Aqua Net Diaries- e um livro de memórias sobre suas experiências no ensino médio. Apesar de ter sido criada em Indiana, hoje vive com o noivo e três gatos em Los Angeles, seu lugar preferido para andanças. Para mais informações, acesse , ou encontre-a no Facebook".


Minha opinião:

Li Por lugares incríveis para o clube leia mulheres de julho. Esse clube contou com a participação especial da Capitolina, revista adolescente com viés feminista que é puro amor.

Como sempre, vou recomendar o clube. Acontece todo mês na Blooks Livraria do shopping Frei Caneca. Para agosto, o livro selecionado foi A amiga genial, de Elena Ferrante. Próximo encontro acontece dia 25 de agosto (mais informações aqui)



Por lugares incríveis é um livro YA (young-adult), ou seja, destinado a pessoas entre 14 e 21 anos.

Eu gostei e desgostei do livro. Vou colocar aqui tanto os aspectos positivos quanto os negativos.

Cada capítulo é narrado do ponto de vista de um dos protagonistas. Para não deixar confuso, vou dizer sob qual ponto de vista estão os trechos.


O que é legal:
(TW: depressão, suicídio, imagem forte)

Primeiro ponto que me chamou atenção durante a leitura foi a inclusão de trechos de escritores clássicos em um livro YA (olhaí eu tomando na cara do meu preconceito). Essa inserção é feita de maneira natural, ajudando a história a prosseguir. Não fica algo planfetário estilo enfia isso aê pra ver se os jovens se interessam em ler clássicos. Cada trecho tem um sentido para a trama.

Outra coisa bacana é que a maioria dos trechos são de Virginia Woolf. Um valorize as minas no meio do livro.

Segundo ponto que me chamou atenção foi a maneira realista com que a autora retratou os adolescentes (a maioria dos personagens tem 17 anos no livro), fugindo do formato Malhação ao qual estamos acostumados. Ela retratou adolescentes que bebem, fazem sexo, têm depressão. Não uma adolescência "limpinha" e maquiada.

Exemplo. O que Finch pensa quando está sofrendo bullying: "Quero bater a cabeça dele em um armário e enfiar a mão em sua garganta e puxar seu coração pela boca"

Terceiro ponto foi a presença de temas que não costumam ser tratados, ou que o são de maneira atenuada, em livros desse gênero, como depressão e suicídio.

Suicídio, principalmente, é um assunto muito tabu na sociedade. Uma pessoa do clube comentou que parece que só se pode falar de suicídio se for de uma forma ""glamourizada"" como nessa foto famosa:


No dia 1 de maio de 1947, a jovem Evelyn McHale, então com 23 anos, se jogou do 86º andar do Empire State Building e caiu em cima do teto de uma limusine. Um fotógrafo registrou a imagem acima do ocorrido.

Uma pesquisa rápida no google vai te mostrar textos chamando esse de "o mais belo suicídio". A pessoa do clube comentou que viu alguém postando a foto com a legenda "isso que é morrer de forma glamourosa".

Gente, parou de glamorizar suicídio, né?

(SPOILERS! INCLUSIVE DO FINAL DO LIVRO!)

O livro vai totalmente no oposto dessa romantização que o suicídio passa pra poder ser falado. Ele mostra a situação limite que leva alguém a optar pelo suicídio e o efeito devastador que a atitude tem nas pessoas que ficam.

No final, tem uma nota da autora falando sobre a quantidade de pessoas que se suicidam por ano e sobre a bipolaridade (doença do protagonista). Ela também fala como um diagnóstico e um tratamento adequado poderiam ter salvo a vida de Finch.

(FIM DOS SPOILERS!)

Depois de uma mensagem PROCURE AJUDA, o livro traz uma lista de lugares para os quais é possível ligar atrás de ajuda.

Achei muito legal essa iniciativa.


O que não é legal:
(TW: assédio)

Fiquei muito incomodada com a maneira como a relação dos protagonistas foi construída.

Logo no começo, Finch salva a vida de Violet. A história que corre no colégio é que ela o salvou. Ela perdeu a irmã há um ano em um acidente de carro e ainda não superou.

Violet paga um micão na aula e Finch decide pagar um micão maior pra ajudá-la. Ela sorri pra ele, agradecendo.

Aí pronto.

Finch fica "ai ela sorriu pra mim e foi verdadeiro, quero essa mina" e começa a cercar Violet. Rola um verdadeiro assédio.

Vou colocar alguns trechos aqui. Talvez tenham alguns spoilers mais fortes.

Finch dá um jeito de Violet não ter como recusar ser sua dupla no trabalho do colégio. No mesmo dia, ele faz um facebook e adiciona ela. Aí acontece essa cena (ponto de vista de Finch):

"De repente, uma mensagem aparece na caixa de entrada.

Violet: Você me encurralou. Na frente de todo mundo.

Eu: Você aceitaria ser minha dupla se eu não tivesse feito aquilo?"

Ótimo quando a gente respeita o fato da outra pessoa talvez não querer ser nossa dupla no trabalho, né?


Depois, rola outra conversa pelo facebook sobre o trabalho (ponto de vista de Violet):

"Finch: Se você não quiser conversar pelo facebook, posso ir aí.

Eu: Agora?

Finch: Bom, teoricamente, em cinco ou dez minutos. Tenho que me vestir primeiro, a não ser que você prefira que eu vá pelado, além do tempo que vou gastar no caminho.

Eu: Está tarde.

Finch: Isso é relativo (...). A gente só vai conversar. Nada mais que isso. Não estou dando em cima de você.

Finch: A não ser que você queira. Que eu dê em cima de você.

Eu: Não.

Finch: "Não", você não quer que eu vá, ou "não", você não quer que eu dê em cima de você?

Eu: Os dois. Todas as anteriores.

Finch: Tá bom. A gente pode conversar na escola. Talvez na aula de geografia, ou posso procurar você no almoço. Você em geral está com Amanda e Roamer, né?

Ai, meu Deus. Faz isso parar. Faz ele desistir.

Eu: Se você vier aqui hoje, promete parar com isso de uma vez por todas?"

A mina já tá pedindo a Deus pro menino desistir e sumir. Sintomático. Talvez, só talvez, ele esteja forçando a barra.


Finch ignora que Violet claramente ta odiando tudo isso e manda na conversa seguinte (ponto de vista da Violet):

"Finch: (...) Você ainda vai me querer quando eu tiver quatro metros e oitenta de altura?

Eu: Como vou querer você com quatro metros e oitenta de altura se nem te quero agora?"

Não satisfeito, Finch diz na mesma conversa:

"(...) mas aí ele escreve: Me encontre no Quarry.

Eu: Não posso

Finch: Não me deixe esperando. Pensando melhor, encontro você aí.

Eu: Não posso.

Nenhuma resposta.

Eu: Finch?"


Além dela já ter demonstrado que não está gostando da situação e dito que não quer ele, Finch ainda ignora o "não" de Violet e vai até a casa dela (ponto de vista de Finch):

"Jogo pedras na janela, mas ela não desce. Penso em tocar a campainha, mas isso só acordaria seus pais. Tento esperar, mas a cortina não mexe e a porta não abre e está frio pra cacete, então entro no Tranqueira e vou pra casa"


Quando achamos que não pode ficar mais bizarro, chega a manhã seguinte (ponto de vista de Violet):

"Manhã seguinte. Minha casa. Saio pela porta e encontro Finch deitado no gramado, olhos fechados, botas pretas cruzadas na altura do tornozelo. A bicicleta está encostada ao seu lado, metade na rua e metade fora.

Chuto a sola de uma bota.

-Você ficou aqui fora a noite toda?

Ele abre os olhos.

-Então você sabia que eu estava aqui. É difícil saber se estamos sendo ignorados quando estamos, devo ressaltar, no frio congelante do ártico. - Ele levanta, coloca a mochila no ombro, pega a bicicleta".

Ela não te ignorou, amigo. Se alguém ignorou alguma coisa aqui, foi você quando ela disse não.


A partir daqui, eu parei de anotar esses trechos. Sim, tem muito mais coisa problemática.

Mas o pior de todos pra mim foi esse. Finch está com os dois melhores amigos e eles estão falando sobre violet (ponto de vista de Finch):

"De repente, não quero que Bren e Charlie falem sobre Violet , porque quero que ela seja só minha. Como no Natal em que eu tinha 8 anos e ganhei minha primeira guitarra, que batizei de Intocável, porque ninguém além de mim podia encostar nela"

O cara compara a mina a um objeto. Objetificação escancarada manda beijos.

Fora isso, ele a vê como uma posse que ninguém, além dele, pode encostar. Alguém avisa a Violet que ela ta entrando em um relacionamento abusivo.


Pelo menos, tem uma parte em que Finch quer de todo jeito que Violet entre no carro dele. Ela vira e fala:

"Você tem que parar de tentar convencer as pessoas a fazer o que elas não querem. Você é simplesmente invasivo"

Infelizmente, ela entra no carro contra sua vontade.



Resumindo:

Por lugares incríveis poderia ser um livro ótimo que desmistifica depressão para jovens e adolescentes, além de incentivá-los a procurar ajuda. Mas a romantização de assédio e a maneira abusiva com a qual é construído o relacionamento dos protagonistas estraga tudo. 


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