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Procura-se amor que saiba usar a CRASE


Quero, sim. Eu quero mesmo. Você pode achar tolice.

Concordo que há coisas mais importantes a valorizar no ser amado além de sua desenvoltura com o próprio idioma. Eu concordo, mas não abro mão: quero um amor que fale e escreva direitinho.

Claro que também ajuda se for gente honesta, bondosa, perfumada, trabalhadora, engraçada e com tantos outros predicados que a tornem, no conjunto, bela. Mas eu acho mesmo que uma pessoa capaz de respeitar a sua língua, estudar gramática, conhecer suas normas e seguir suas regras é, ao menos em tese, o prenúncio de um amante exemplar.

Alguém que não desiste e nem esculhamba na primeira dúvida, que corrige quando erra, que se esforça por aprender a complexidade de um idioma é pessoa resoluta, persistente, leal. Tem firmeza de caráter, perseverança, cuidado, apreço. Todas essas coisas que melhoram a vida e, entre outros benefícios, ajudam a fazer os casais felizes.

A todo tempo, tem sempre alguém em algum lugar maltratando a Língua. No bilhete dos amantes, na bronca do chefe, no discurso do político, no recado da vizinha, nos e-mails entre colegas, nas declarações de amor e em toda sorte de textos ditos ou escritos há sempre uma incorreção enxerida. Porque errar, a gente erra mesmo. Todo mundo erra.

Mas aí acontece um milagre. Entre tanta gente falando e escrevendo mal, de repente alguém diz ou escreve certo uma frase qualquer e pronto. Dá em mim uma ternura tão grande, um sentimento de compreensão, um desejo de amizade, uma vontade inocente de trocar palavras simples, de perguntar à pessoa como vai a vida. Uma intenção de melhorar. Eu quero um amor assim. Alguém que, ao fazer o que é certo, me inspire a querer ser melhor também.

E se não for pedir demais, eu quero um amor que saiba usar a crase. Sim, porque poucas coisas na Língua Portuguesa são mais bonitas e tocadas pela poesia do que a crase. Vê se pode: “crase” vem do grego. Quer dizer “fusão”, “união”, “mistura”. Em uma de suas utilizações mais comuns, a crase denota o casamento do artigo “a” com a preposição “a”.


Duas vogais idênticas, almas gêmeas, se fundindo em uma só. Para marcar o idílio, a dupla ganha um sinal maroto, o acento grave ( ` ) denunciando que ali existe um casal feliz: a + a = à. Não é bonito? Eu acho muito, muito bonito.

Então afirmo sem mais. Gente que fala e escreve certinho, em conjunto com outras qualidades, provoca em mim um desejo de amor. Quem faz bom uso do próprio idioma é, para mim, como a ponta de um iceberg: esconde embaixo da superfície um mundo de coisas não reveladas que o sustentam e provocam a minha curiosidade, o meu respeito e a minha admiração. Assim, à primeira vista, eu tenho o hábito estranho de tomar gosto por quem faz bom uso do idioma. Eu gosto mesmo. Gosto de cara. 


Agora, se a pessoa ainda por cima souber usar a crase, aí não tem jeito: eu caso na hora.

=::  UMA MENTE DE AMIGOS  ::=


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