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Sobre leões e leoas, ou um adeus ao Olímpico


“E então o sol vai embora, e o torcedor se vai. Caem as sombras sobre o estádio que se esvazia. [...] O estádio fica sozinho e o torcedor também volta à sua solidão, um eu que foi nós; o torcedor se afasta, se dispersa, se perde, e o domingo é melancólico feito uma quarta-feira de cinzas depois da morte do carnaval” (Eduardo Galeano,Futebol ao Sol e à Sombra, L&PM Pocket, p.15)

Particularmente, neste fim de ano, a melancolia tem visitado os torcedores gremistas. O ano inteiro tem sido uma quarta-feira de cinzas iminente: é o último ano do Olímpico. O casarão de muitas conquistas e de muitas derrotas, que ostenta no meio da Azenha o título maior que um clube pode ter – o de campeão do mundo – vai dar lugar à grandiosa Arena, que dá boas vindas pra quem chega à cidade de clubes campeões.  A inauguração da Arena, certamente, abre alas a um novo carnaval; mas ver o Olímpico sair da avenida não será fácil pra nenhum torcedor do tricolor gaúcho.

Mas este texto não é pra falar sobre os últimos dias do Olímpico – na verdade, talvez seja mais uma maneira de conseguir processar esse momento. Eu quero trazer aqui uma parte da história do estádio que foi esquecida – o que, a esta altura do campeonato, me soa praticamente como uma espécie de heresia.

Lá nos idos de 1980, chegava para cuidar das redes tricolores um dos maiores goleiros brasileiros: Emerson Leão. Leão consolidou sua carreira no Palmeiras na década de 70, no qual ganhou alguns títulos estaduais e brasileiros, e na Seleção Brasileira na mesma década, ficando até 457 minutos sem tomar gol na Copa de 78, na Argentina. No ano de 1981, Leão fechou o gol gremista e conquistou o primeiro Campeonato Brasileiro do tricolor.

Leão, entretanto, não era admirado apenas por torcedores, mas também por torcedoras. Além de ser um dos melhores goleiros do Brasil, era também um dos jogadores mais bonitos – ao menos, era o que diziam as moçoilas da época. E pra provar isso, algumas gurias porto-alegrenses fundaram uma torcida organizada que homenageou o goleiro: As Leoas do Olímpico.

A ideia surgiu de uma guria, dona um salão de beleza no centro de Porto Alegre: comentou com algumas clientes sobre a ideia de montar uma torcida feminina (em pleno início da década de 80!) e foi fortemente incentivada por elas. Nascia na Borges de Medeiros a primeira torcida feminina gremista, que se reunia na rua Saldanha Marinho – onde a presidente morava, na época – e marchava ao estádio vestida com o manto tricolor e calça jeans, e uma faixa em homenagem ao goleiro Leão.

Em cerca de dois anos – aproximadamente o tempo que Leão permaneceu no Grêmio – a torcida chegou a ter em torno de 75 mulheres, de várias idades que agitavam a arquibancada do Olímpico. Era destaque nos jornais – como se pode ver nas fotos – e, reza a lenda, também entre os colorados, que assobiavam quando passava a comitiva feminina em direção ao estádio. As mulheres se sentiam em casa, num mundo majoritariamente masculino, e elas tinham, de fato, um lugar lá: Elas Tinham Lugar no Olímpico, elas tinham lugar no futebol. No fundo, no fundo, Leão era apenas uma desculpa bonita pra torcer pelo Grêmio.

A ideia toda dessa loucura, aquela guria dona do salão de beleza, foi da mãe desta que vos escreve. Herdei da dona Lourdinha a paixão pelo estádio e o amor pelo tricolor, embora nem sempre tenha frequentado o casarão como eu gostaria. Certamente, o amor pelo futebol foi algo muito bem ensinado dentro da minha casa, tanto pela torcedora gremista, quanto pelo carioca torcedor do América-RJ (carioca este que se encantou não só pela gaúcha, mas também pelo Grêmio, por quem quase tem ataques cardíacos desde a década de 60). Por isso, não podia deixar esse pequeno pedaço da história do Olímpico – e da minha – se perder por aí, quando parte da nossa vida se confunde com a do clube que eu amo. 

Camisa Feminina Tricolor 1981

Zero Hora, 27.04.81, pgs. 32 e 33

Detalhe; ZH, 27.04.81, pgs 32 e 33

Carteirinha da Torcida. No detalhe, minha avó (sim, ela também ia ao estádio).

Zero Hora, 22.06.81 (s/pg)


Rua Borges de Medeiros, em 1981

Rua Borges de Medeiros, em 1981.

Ao centro, minha avó. Estádio Olímpico Monumental, 1981

Rua Borges de Medeiros, em 1981.

Estádio Olímpico Monumental, 1981

No encontro com o Leão, no gramado do Olímpico. Departamento Fotográfico da Zero Hora.



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