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O Triptych de Marilyn Manson (Parte 1): Antichrist Superstar



Genial e controversa não são palavras comumente usadas para caracterizar uma mesma pessoa, quanto mais a obra de uma vida inteira. Mas é assim que podemos ver os dez álbuns de estúdio lançados por Marilyn Manson nesses mais de dez anos como artista: Genial, controversa, emocional e, em muitos pontos, doentia e perturbadora.

Recheada de críticas, analogias e jogos de palavras, a obra de Manson é diversificada e com muitos pontos altos; especialmente quando se trata do chamado "Triptych", uma sequencia de três álbuns lançados sucessivamente que se interligam formando a obra-prima da carreira do artista. Nossa proposta aqui é analisar cada um destes três discos separadamente em uma série de três postagens distintas que trarão interpretações e visões acerca do significado e da intenção de Manson ao elaborar obras tão complexas.

(Com isso em mente, os posts trarão algumas visões e interpretações pessoais sobre cada um dos discos e de suas letras, assim como alguns dados extraídos de sites como "The Manson Wiki", "SongFacts"e também da auto biografia de Manson, "The Long Hard Road Out Of Hell")

A primeira parte do "Triptych" é de longe a mais polêmica. "Antichrist Superstar" é, em muitos aspectos, um álbum difícil e complexo, trazendo diversos conceitos filosóficos, metáforas e referências pessoais e biográficas. O pano de fundo para tanto conteúdo é a saga da metamorfose do Verme (personagem principal da narrativa) em um ser superior e livre, o chamado Anticristo Superstar.

Apenas nesse conceito superficial já se pode perceber a grande influência dos escritos e das teorias de Nietzsche, autor que Manson lia bastante nessa época, nesse trabalho. A saga de transformação do verme está intimamnete relacionada à teoria do Super Homem , teorizada pelo filósofo, que abordaremos mais para frente.

É um disco que busca desconstruir, em todos os aspectos, os valores e padrões socias (principalmente os cristãos), o conceito de Deus e a importância da religião. Apenas analisando essa definição superficial do disco já podemos perceber traços autobiográficos sendo trazidos a tona, pois Manson foi criado em família e escolas cristãs que abominavam a música que o jovem Brian Warner (Nome real de Manson) ouvia e restringiam seu comportamento ao extremo, fazendo com que crescesse no jovem Brian uma rebeldia natural.

O título é uma óbvia referência ao aclamado musical "Jesus Christ Superstar", de Andrew Lloyd Webber" e, apesar de ter sido o primeiro a ser lançado (No dia 8 de Outubro de 1996), é referenciado como sendo a última parte da história contida no "Tryptich", fato que já foi afirmado pelo próprio Manson como sendo uma possibilidade de interpretação. Mas, seja como for, é um disco que funciona muito bem sozinho.

As músicas são divididas em três ciclos, cada um deles contendo músicas que expressam uma fase do crescimento do verme e de sua transfiguração e ascensão à posição de anticristo.

CICLO I: O HIEROFANTE

Hierofantes, na Grécia e no Egito antigo, eram sacerdotes da alta hierarquia. Em tradução literal, significa "Aquele que traz a luz", podendo, no contexto do disco, simbolizar a fase de desenvolvimento e apresentação do ser que, futuramente, governará a todos.
Nessa primeira parte não vemos muitas narrativas diretas acerca do crescimento e da metamorfose que futuramente serão sofridas pelo personagem, mas somos sobrecarregados por muita crítica social e muito da visão de Manson sobre o mundo que o cerca.

IRRESPONSIBLE HATE ANTHEM

A frase "When you're suffering, know that I have betrayed you" (Quando você estiver sofrendo, saiba que eu te enganei) seguida por Manson incitando uma plateia a repetir os versos 'We hate love/We love hate" (Nós odiamos o amor/Nós amamos o ódio) dão início ao disco em um de seus momentos mais violentos. 

"Irresponsible Hate Anthem" é agressiva e direta tanto musicalmente quanto liricamente. Faz uma dura crítica ao americanismo e à sociedade americana, temática que é notada desde o primeiro verso;"I'm so all american I'd sell you suicide (Eu sou tão americano que te venderia suicídio), e em outros passagens como a icônica "I wasn't born with enough middle fingers" (Eu não nasci com dedos do meio suficientes). É uma faixa de abertura, que estabelece toda a atmosfera pesada e agressiva que se fará presente na maioria das demais músicas do disco.

THE BEAUTIFUL PEOPLE

Maior hit da carreira de Manson, essa faixa continua com a agressividade e a crítica social da primeira música, dessa vez tendo um lavo mais específico: A ditadura da beleza e dos padrões estéticos. Pode-se fazer um paralelo interessante com  outro conceito de Nietzsche: A "Moral de escravos". Nessa teoria, exposta em seu livro "Genealogia da Moral", o filósofo defende que os ditos "escravos" respondem com passividade à moral de ditada pelos seus senhores, criando assim um ambiente de opressão.

Esse conceito é aplicado em diversos versos no decorrer da música, como por exemplo em "The weak ones are there to justify the strong" (O fracos estão aí para justificar os fortes). 

Essa crítica não deixa de ser autobiográfica, visto que Manson sofria por conta do tipo de música que ouvia e por seu comportamento. Nesse caso as "pessoas bonitas" seriam a escola e os valores sociais como um todo, que o impediam de exercer sua liberdade.

Musicalmente, a música conta com uma batida tribal, que lembra em alguns aspectos marchas fascistas, e um riff pesado em Drop D, que dá à música o peso que ela precisa. O tema inicial  se repete por toda a extensão da faixa, com o riff numa espécie de dissonância que "incomoda" ao ser ouvida pela primeira vez. 

Os vocais dos versos são praticamente falados, como em um sermão ou um discurso público, e o refrão é agressivo, com vocais rasgados que questionam e afirmam a auto imagem do eu lírico, perguntando ao ouvinte o que ele vê, se "é algo bonito ou algo livre", e ainda caracteriza aqueles que impõem os padrões estéticos como primatas, respectivamente em "Hey you, what do you see? Something Beautiful or something free?" e "If you live with apes, man it's hard to be clean".

É interessante perceber a jogada de Manson nessa última passagem citada. Em tradução literal, ela fica "Se você vive com primatas, é difícil ser limpo". Sendo os primiatas seres primitivos, é natural que sejam associados à sujeira. Com esse conceito em mente, Manson afirma que não é possível escapar daquilo que, teoricamente, é uma regra geral de um certo grupo, ou seja, um padrão. Usando essa analogia, Manson afirma que não é possível ser limpo em um grupo de primatas, ou seja, todos devem seguir o mesmo padrão.

Clipe


O clipe de "The Beautiful People" é tido como um dos mais assustadores de toda a carreira de Manson, ao lado de "Sweet Dreams (Are Made Of This)". Contém imagens rápidas e flashes misteriosos, intrigantes e amedrontadores. Logo no começo vemos rápidos flashes de artigos e produtos usados em cirurgias plásticas e procedimentos estéticos (próteses, cadeira de cirurgia...), representando os resultados e a opressão da ditadura estética, que levam os indivíduos a se submeterem a tais procedimentos para se encaixar socialmente. Minhocas também podem ser vistas, talvez simbolizando o estado de verme que o cantor se encontra nessa primeira parte do disco.

Ao começar a cantar, vemos Manson envolto por faixas e ataduras, objetos também utilizados em procedimentos estéticos. Em outra imagem, vemos o vocalista utilizando um aparelho facial usado em cirurgias, imagem que se tornou uma das mais representativas dessa fase do cantor.


Passados 1 minuto e 4 segundos, vemos uma sombra de um indivíduo em um processo de "melhoramento", ou seja, se adequando aos padrões. Esse indivíduo, mais tarde é revelado como uma entidade alta, acima de todos os outros. Vamos focar nisso mais adiante.

Ao longo de todo o clipe, vemos imagens de pessoas marchando, obedecendo cegamente os preceitos e valores impostos pela sociedade, ou seja, alienados.

Ao mudar a atmosfera da música, também vemos mudar a imagem Manson, agora caracterizado como um líder totalitário/religioso, saudado e ovacionado por dezenas de pessoas. Podemos traçar uma relação entre essa cena específica e a temática de "Antichrist Superstar", pois ela também trata da ascensão de um ser insignificante à posição de astro mundial.

Nesse momento também vemos as ditas figuras gigantes mencionadas  anteriormente, que simbolizam essa ascensão de um nível mais baixo para um nível mais baixo e que , em um momento posterior, se juntam a Manson, figura gigante principal, no processo de alienação da população.

Essas são as bases e representações que aparecem em todo o restante do vídeo, que, visto de um ângulo macroscópico, é uma visão figurativa do que a ditadura estética faz com os seres humanos.

VMA 1997

Manson volta a usar "The Beautiful People" como veículo de crítica nessa apresentação que deu o que falar na época. (Clique aqui para assistir)

Já começa a apresentação satirizando um pronunciamento oficial de um presidente, com a presença de uma banda que anuncia a sua chegada e uma enorme bandeira que claramente ridiculariza a dos EUA.
O "discurso" proferido por Manson, traduzido para o português, foi o seguinte:

"Meus caros americanos,
Nós não seremos mais oprimidos pelo fascismo do Cristianismo. E nós não seremos mais oprimidos pelo fascismo da beleza. Eu vejo todos vocês sentados por aí dando o melhor de vocês para não ser feios, dando o seu melhor para não se encaixar, dando o seu melhor para conquistar seu lugar no Paraíso. Mas deixe-me perguntar: Você deseja estar num lugar repleto de babacas?"

Terminado o discurso, a batida começa e a música tem início. Inicialmente, não há nada diferente, apenas Manson trajando uma longa veste preta e rasgando os versos da música. 
Porém, aos dois minutos e trinta e cinco segundos, ele retira a veste e revela que está usando um lingerie por baixo.

Dado o choque no público, o vocalista se dirige à plateia e profere os versos "Hey you, what do you see? Something Beautiful or something free?", perguuntando à plateia o que ela acha daquele visula. 

Mais uma crítica bem pensada, mas insanamente ousada.

DRIED UP, TIED AND DEAD TO THE WORLD

Aqui vamos para um lado mais pessoal do cantor, com confissões e retratos do que parece ser um relacionamento abusivo e instável, não necessariamente familiar ou amoroso, mas com o mundo em geral. A música trata bastante do uso de drogas e várias referências ao assunto são encontradas em versos como "I am anything whem I'm high" (Eu sou qualquer coisa quando estou "alto"). 

Nesse ponto da história, o abuso de drogas já era parte da realidade da banda, que vinha em uma ascensão moderada desde o primeiro álbum "Portrait Of An American Family" e do EP "Smells Like Children", que continha o famoso cover de "Sweet Dreams (Are Made Of This)" , do grupo pop Eurythmics. Porém, a banda estava tão imersa no consumo de drogas e no espírito das turnês que um novo álbum parecia um sonho distante, pois,como  Manson revela em sua biografia, os músicos não demonstravam comprometimento algum com a gravação músicas. Além disso, Manson e sua banda se envolveram em um conflito com a gravadora, o que atrasou mais ainda o lançamento do disco.

Toda essa série de eventos deu à letra de "Dried Up, Tied And Dead To The World" um ar melancólico e pesado. Musicalmente, a música traz alguns elementos bem sutis do metal industrial, estilo que a banda buscava explorar cada vez mais, e é mais lenta e arrastada do que as duas anteriores. 
Manson a cita como uma de suas favoritas do disco.

TOURNIQUET

Música que fecha o primeiro ciclo e primeiro single do álbum, "Tourniquet" foi baseada em um sonho de Manson sobre construir uma mulher a partir de próteses e partes de seu próprio corpo. A letra descreve em detalhes a composição e o processo de criação de tal ser, como no primeiro verso em que ele afirma "She's made of hair and bone and little teeth" (Ela é feita de cabelo e ossos e pequenos dentes). 

Muitos viram a proposta da música como uma maneira de retratar as mulheres como objetos e não como seres humanos. Manson afirma que a música é na verdade uma manifestação sobre a sua necessidade de amor e compaixão. Se analisarmos os versos que se encontram mais adiante na música, veremos que há bases que sustentam essa afirmação, pois percebe-se que Manson deseja que a sua criação viva para sempre, que nunca estrague e que sua inocência seja preservada.

Na parte musical, "Tourniquet" mantém o arranjo suave da faixa anterior, com ainda mais elementos melódicos e ainda menos peso. Uma variação de atmosfera acontece aos 2 minutos e 45 segundos da música, em que as batidas se tornam mais intensas e a guitarra mais suja. Aliás, esse é um ponto a ser considerado: As guitarras desta música não são tão presentes como nas duas primeiras faixas A linha de frente é feita pelo baixo, que guia a música com precisão. Esse arranjo mais leve e suave ilustra bem o sentimento de solidão e isolamento mencionado pelo cantor, que canta os versos de uma forma a sustentar ainda mais esse sentimento.

Clipe

Se a música é calma e leve, não se pode dizer o mesmo sobre o vídeo feito para ela. É uma produção grotesca, bizarra e extremamente desconfortável.

Seu conceito é simples: Retrata a criação da mulher descrita na letra, em detalhes. Ou seja, cenas de Manson retirando partes do seu corpo (Unhas, cabelos, pelos e até parte da pele) são recorrentes. 

O que realmente perturba e incomoda no vídeo são os flashes e cenas rápidas, nas quais vemos insetos sendo consumidos e a real aparência da mulher criada pelo vocalista: Um ser distorcido e caindo aos pedaços.
Também vemos algumas cenas de Manson sozinho em um quarto fechado, com diversos escritos na parede. Esse quarto representa o sentimento de solidão e angústia descritos na letra, corroborando a fala de Manson de que a letra é sobre a sua necessidade de atenção.

Porém, A parte essencial do vídeo é o final, quando vemos Manson e sua criação vestindo roupas com asas, simbolizando explicitamente a metamorfose a evolução do verme que é descrita ao longo ao álbum inteiro. Aqui, Manson ganha as suas asas, ou seja, se liberta daquilo que o prendia e o oprimia. Vamos aprofundar esse conceito mais a frente, já no segundo ciclo.

CICLO II: A INAUGURAÇÃO DO VERME

A partir daqui já vemos a narrativa do verme mais explícita. O verme, no contexto do álbum, é uma metáfora para Manson quando criança, ou seja, Brian Warner; um ser indefeso e insignificante que aos poucos vai ganhando suas asas, ou seja, vai crescendo e se desenvolvendo gradativamente. Ao ganhar suas asas, o verme (Brian) se livra de tudo aquilo que o prendia, de seus traumas e de sua criação religiosa para se tornar o grande anticristo Superstar (Marilyn Manson).
Aí se encontra o conceito do Super Homem de Nietzsche, um ser superior e livre de qualquer conceito de moral e religião, que exerce totalmente a sua vontade de potência (Em suma, um ser livre).

É a parte do álbum com mais músicas e com mais metáforas e analogias, além de, é claro, referências à vida do jovem Brian e à sua visão de mundo; tudo isso dentro da narrativa da ascensão do verme.

LITTLE HORN

Trazendo a violência e a agressividade das primeiras faixas de volta, essa também é uma composição baseada num pesadelo que Manson teve, dessa vez sobre um futuro apocalíptico em que mulheres têm suas mandíbulas presas e são forçadas a dançar em clubes noturnos para entreter uma seleta elite de pessoas. 

"Little Horn" também é um personagem bíblico, que aparece no livro de Daniel. Esse personagem também apareceu em um sonho e era um homem que pregava contra Deus. A referência é bem clara: O anticristo está nascendo.

A letra da música está toda centrada nesses dois episódios (O sonho e a Bíblia), trazendo descrições e previsões de sofrimento para toda a humanidade, assim como acontece na passagem bíblica (vide versos como "Out of the bottomless pit comes the little horn/ Little Horn is born" (De fora da cova sem fundo, vem o pequeno chifre/ O pequeno chifre nasceu) ), e mais do que isso, afirma que a humanidade sucumbirá e sofrerá aos pés de seu novo líder, vide linhas como "Everyone will suffer now" e "The world spreads its legs for another star / The world shows its face for another scar" (O mundo abre suas pernas para outra estrela / O mundo mostra a sua face para outra cicatriz). Essa letra, aliada ao caos que toma conta da parte instrumental da música trazem uma mensagem bem clara acerca dos eventos que estão por vir (Descitos nas outras faixas do disco): Preparem-se, pois ele está vindo.

CRYPTORCHID

Uma faixa pequena e curiosa. Aqui começamos e ter um contato efetivo com a natureza e o estado do verme, ainda pequeno e desprezível. É dividida em duas seções musicais distintas:

1) Tensa e misteriosa, descreve a opressão imposta pela sociedade sobre todos, como visto nos versos "But when they got to you / it's the first thing that they do" (Mas quando eles chegam a você / É a primeira coisa que eles fazem), que decrevem a perda da liberdade no momento em que os valores são impostos sobre os indivíduos.

Uma passagem interessante está no terceiro e quarto versos da música: "When a boy is still a worm it's hard to learn the number seven" (Quando um garoto é apenas um verme, é difícil aprender o número sete). Nessa construção, o número 7 representa o Paraíso e o céu, já que o número 6 representa o mal e o inferno. Com isso, Manson diz que a opressão social não possibilita aos cidadãos fazer aquilo com que se sentem confortáveis, pois muitas vezes esse comportamento não está de acordo com as normas sociais, já criticadas em "The Beautiful People". Isso de fato acontecia com o pequeno Brian.

2) Começa com um som de coração. É uma parte mais calma e otimista, com um arranjo de teclado suave e macio aos ouvidos, representando o começo da metamorfose do verme em um ser superior, vsita no verso "The angel has spread its wings" (O anjo abriu as suas asas). Assim como na faixa anterior, há previsões e considerações sobre os efeitos futuros do crescimento do verme, vide passagens como "The moon has now eclipsed the sun" (A lua agora encobriu o sol) e "The time has come for bitter things" (A hora chegou para coisas mais amargas. Esse verso faz um trocadilho bem pensado com a palavra "Better", trocando-a por "Bitter").

Clipe

Também perturbador, mas agora com um ar de um vídeo antigo, com cenas grotescas que parecem ter saído dos cantos mais obscuros da Deep Web. O vídeo é uma parceira de Manson com o diretor Merhige, que dirigiu o clipe e cedeu algumas cenas de seu filmes de terror experimental "Begotten" para o clipe da música, que conta com uma pequena participação de Manson.

Não é um clipe com um contexto ou uma narrativa definida. Trata-se mais de uma experiência visual e sensorial a ser sentida pelo espectador.

DEFORMOGRAPHY

Uma das mais incomodantes do disco, essa é uma música repleta de caos e desordem, principalmente na parte instrumental. Começa lenta, mantendo um ritmo que lembra em alguns pontos o da faixa anterior, mas vai crescendo e adicionando cada vez mais camadas de guitarras até chegar em seu ápice, numa espécie de refrão em "You're such a dirty dirty superstar" (Você é um superstar sujo). Também são percebidos elementos mais evidentes do metal industrial nessa composição, como, por exemplo, as guitarras rítmicas pesadas e os sons eletrônicos ao fundo, além das diversas camadas de vocais distorcidos.

Liricamente, a letra leva o verme um nível adiante em sua evolução, agora já um ser autossuficiente e tomando a atitude e a aparência de seu estágio final de desenvolvimento. Manson também se dirige à uma pessoa específica em versos como "I'm the one you want and the one you want is so unreal" (Eu sou aquele que você quer e esse que você quer é tão irreal). Essa pessoa pode tanto ser o ouvinte como também pode ser o jovem Brian Warner, com grandes ambições de se tornar um astro. Ao dizer que "o que você quer é tão irreal", ele pode estar afirmando que a visão que Brian tinha do estrelato era falsa, que a verdade é suja, como também mostra o verso "You're such a dirty dirty superstar" (Você é um superstar sujo).

WORMBOY

A evolução e o metal industrial continuam em "Wormboy", que mantém a mesma base da anterior, tanto musicalmente quanto liricamente. Agora o verme está crescido, é um ser em estágio final de evolução, rememorando os eventos de quando ainda era um verme pequeno e insignificante (Ou seja, quando ainda era Brian Warner e não Marilyn Manson). Versos que apontam essa visão são "Then I got my wings and I never even knew it" (Então eu ganhei minhas asas e nem sabia disso), "When I was a worm, thought I wouldn't get through it" (Quando eu era um verme, pensava que não conseguiria passar por isso). Reparem que o uso do passado em "When I was a worm" indica que essa é uma fase passada, ou seja, a transformação está se completando. O Anticristo está surgindo.

MISTER SUPERSTAR

Está feita a transformação. O verme está morto, o anticristo superstar vive agora. É um ser superior, desejado e ovacionado por todos. A música que inaugura essa nova fase do verme é inicialmente cantada do ponto de vista dos amantes e seguidores do anticristo, afirmando que fariam tudo por ele, que o amam e que até se matariam por ele (I'll do anything for you / I just want to love you / I'll kill myself for you).

Porém, internamente, o Anticristo superstar está conflituoso, não sabe ao certo o que sentir. Está desiludido com o seu atual estado, perceba as desvantagens do estrelato e quer se desligar, como descrito em "I wish I could just turn you off / I never wanted this" (Eu queria poder desligá-lo / Eu nunca quis isso).

Mas, de qualquer forma, uma nova força está surgindo, como sugere o final caótico da música, que é mais falado do que precisamente cantada e mantém o mesmo arranjo durante praticamente a extensão inteira, exceto pela mudança de atmosfera no primeiro refrão, que lembra em alguns aspectos do metal melódico que seriam mais aproveitados na terceira parte do Triptych, que abordaremos em outra postagem.

ANGEL WITH THE SCABBED WINGS

O último estágio da consolidação do status do Anticristo é caótico e conflituoso. Musicalmente, é um dos momentos mais inspirados do disco, com um riff bem bolado e mudanças rítmicas bem colocadas. A atmosfera é tensa na música inteira, com vocais gritados e rasgados que dão a ela a agressividade necessária.

A letra trata de maneira mais profunda a dualidade da vida de um rockstar, abordando o conflito entre a essência e a aparência de um astro. Essa dualidade é trazida em versos que são colocados juntos, mas que possuem ideias totalmente opostas, como acontece em "He is the maker” (Ele é o criador) e "He is the taker" (Ele é o tomador), e também em "He is the savoiur" (Ele é o salvador) e "He is the raper" (Ele é o estuprador). O próprio título da canção já mostra esse conflito e essa antítese que há entre o que as pessoas acham que ele é e o que ele realmente é, pois, se traduzido literalmente, o título fica "Anjo com as asas cicatrizadas", ou seja, não é um anjo verdadeiro, apenas aparenta ser.

Apesar disso, continua a ser seguido, amado e endeusado por seus seguidores, como evidenciado em "Get back you're never gonna leave him" (Para trás, você nunca irá deixá-lo) e "Get back, you're always gonna please him" (Volte / você sempre irá agradá-lo). Ainda encontramos, na versão demo da música, uma linha que diz "Greater than God" (Maior do que Deus). Agora sim, o Anticristo Superstar reina absoluto, novos tempos chegaram.

(É uma das músicas mais conhecidas de Manson, sendo parte integrante de seu setlist até os dias de hoje)


KINDERFELD

É a única música do álbum que referencia explicitamente um evento real. É também uma das mais complexas, pois possui diversos personagens e pessoas que aparecem e narram os acontecimentos de seus próprios pontos de vista.

O acontecimento contido na letra da música é o fatídico momento em que Manson e seu primo, Chad, viram o seu avô, Jack Warner, em um ato grotesco de satisfação sexual, no porão da casa onde morava. Para acobertar os sons, Jack usava seu trem mecânico, que ficava ligado por todo o tempo enquanto o ato era realizado.



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