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0477 - Coisa Feita - Esperanza Spalding [2009]

Será que o saudoso Aldir Blanc e seus parceiros composição João Bosco e Paulo Emílio conheceram Esperanza Spalding? A artista norte-americana, exímia contrabaixista, fã declarada da música brasileira, bem que poderia ser mesmo a tal “avatar vodu” exaltada na canção Coisa Feita, rebento desses três geniais compositores.

Quando eles compuseram essa letra que fala das qualidades da princesa do Daomé (antigo reino africano onde fica atualmente o Benin), obviamente nenhum deles poderiam ter se inspirado em Esperanza Spalding, visto que ela nem era nascida. Mas numa eleição imaginária feita com os três para eleger a alteza do Daomé, acho que Esperanza Spalding seria eleita por unanimidade. Até porque só ela atualmente sabe ser “bem mulher de pegar um contrabaixo pelo pé” e pelo pescoço e destrinchar cada corda, fazendo-o reverberar brilhantemente na cara do mundo masculinizado do jazz. 

Aliás é de se notar que ao pensar em artistas mulheres que se destacaram no jazz, quase sempre lembramos das grandes cantoras como Ella Fritzgerald, Billie Holiday, Sarah Vaughan e Nina Simone. Mas dificilmente lembramos de mulheres instrumentista, como é o caso de Esperanza, que também é uma grande cantora, mas foi primeiramente reconhecida como uma excelente instrumentista.

Voltando a Coisa Feita, essa minha predileção por essa dentre outras tantas composições de Aldir Blanc talvez venha desse “balangandã” de expressões incomuns utilizado na letra que acabam enriquecendo nosso cabedal. Mas sobretudo, gosto porque é uma letra divertida e muito respeitosa com a mulher negra. 


Atualmente com 7 discos de estúdios gravados, o último deles intitulado 12 Little Spells, ganhador do prêmio Grammy de 2019 como melhor álbum vocal de jazz, e com trabalhos mais experimentais e parceiras com Wayne Shorter, Herbie Hancock, entre outros grandes nomes da música, Esperanza ainda arranja espaço para trabalhar numa organização chamada Free Slaves que combate o tráfico humano. Até por isto, tenho mais certeza que Esperanza deve ser mesmo a reencarnação da tal “mulher que não se esquece lá do Daomé”, integrante dum exército de mulheres daomeanas que, como a história nos mostra, combateram os invasores europeus, evitando assim que elas fossem presas e se tornassem escravas.

Na cabeça de Esperanza, nenhum aprisionamento de vidas é viável, exceto o da atenção de seus fãs, principalmente quando ela nos ataca com seu modo hipnotizante de tocar seu contrabaixo. Uma amostra deste seu poderio instrumentista pode ser observada justamente numa cover sensacional de Coisa Feita feita por ela, apresentada em 2009 no Festival San Sebastian ao lado guitarrista brasileiro Ricardo Vogt

Como não bastasse a composição casar com esse contexto de mulher independente e guerreira, o som do contrabaixo captura imediatamente a atenção do ouvinte. Ele remete a um surdo de marcação como se ela estivesse acompanhando uma bateria de escola de samba. E sua reverência a música brasileira, faz de quebra a gente se entregar a elogios pela forma como pronuncia cada vocábulo afro-brasileiro.


Que Esperanza Spalding continue nossa princesa do Daomé no jazz e que continue a perpetuar seu trabalho artístico por muito anos. E que as obras de Aldir Blanc continuem a ser admiradas e sirvam de inspiração para as próximas gerações de artistas brasileiros e de outros países.


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