O Vibrio Mimicus, um microrganismo que compartilha semelhanças metabólicas e genéticas com o Vibrio cholerae, tem ganhado destaque como agente causador de doenças diarreicas transmitidas por alimentos e água em nível mundial. Embora menos prevalente do que outros membros do gênero Vibrio, como o Vibrio parahaemolyticus e o não-O1/não-O139 Vibrio cholerae, o Vibrio mimicus tem o potencial de causar uma doença grave, semelhante à cólera.

A incidência do Vibrio mimicus, embora menor do que a de outros Vibrio, ainda é motivo de preocupação. Dados limitados indicam que sua prevalência é comparável à do Vibrio fluvialis. Vale ressaltar que algumas cepas do Vibrio mimicus possuem a capacidade de produzir toxina da cólera (CTX) ou toxinas semelhantes à cólera, enquanto outras não possuem esses genes. No entanto, mesmo sem a presença dos genes CTX, o Vibrio mimicus pode causar doenças graves, com taxas de hospitalização significativas.

Um surto recente na Flórida, EUA, trouxe o Vibrio mimicus para o centro das atenções. Em junho de 2019, o Departamento de Saúde da Flórida no condado de Alachua (DOH-Alachua) recebeu relatos de vários casos de doenças diarreicas associadas ao consumo de frutos do mar em um restaurante local. Este surto revelou a gravidade da infecção por Vibrio mimicus, com pacientes apresentando sintomas como diarreia, vômitos, cefaleia e náuseas. Alguns pacientes precisaram ser hospitalizados, com um caso particularmente grave exigindo tratamento intensivo.

A investigação do surto revelou que os alimentos mais frequentemente consumidos pelos pacientes eram o caranguejo azul cozido no vapor, o caranguejo-das-neves cozido no vapor e o camarão cozido no vapor. Embora tenha sido relatado que apenas um paciente consumiu ostras, várias violações das práticas de segurança alimentar foram identificadas, incluindo problemas de saneamento geral e descongelamento inadequado de camarões congelados. Além disso, a falta de educação obrigatória dos funcionários em relação às práticas seguras de manipulação de alimentos contribuiu para o surto.

A confirmação da presença do Vibrio mimicus nas amostras fecais dos pacientes hospitalizados foi realizada por meio de técnicas de PCR diagnóstica e cultivo. As cepas isoladas eram suscetíveis a vários antibióticos, mas não carregavam os genes CTX associados à toxina da cólera. No entanto, as cepas demonstraram atividade hemolítica, protease e formação de biofilme, indicando seu potencial virulento.

A análise genômica das cepas isoladas revelou a presença de vários genes de virulência, incluindo hemolisina, proteases e sistemas de secreção. Além disso, as cepas compartilhavam uma toxina termoestável e termolábil altamente semelhante a uma cepa hipervirulenta encontrada na China. A análise filogenética mostrou que as cepas da Flórida se agruparam em um clado bem suportado, indicando uma origem comum recente. Embora as sequências de árvore de máxima verossimilhança mostrem diversas linhagens independentes de Vibrio mimicus em todo o mundo, as cepas da Flórida compartilharam maior similaridade com isolados do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Este surto de Vibrio mimicus associado ao consumo de frutos do mar destaca a importância de práticas seguras de manipulação de alimentos e a necessidade de diagnóstico rápido e preciso. Embora as cepas isoladas neste surto não carregassem os genes CTX, elas demonstraram um conjunto diversificado de genes de virulência, ressaltando a capacidade do Vibrio mimicus de causar doenças graves em humanos.

Com as mudanças climáticas e o aumento da temperatura das águas superficiais, a incidência de Vibrio mimicus e outras espécies de Vibrio está aumentando. Portanto, é crucial melhorar os recursos de diagnóstico para essa bactéria e promover práticas seguras de manipulação de frutos do mar. A vigilância contínua e a pesquisa são essenciais para entender melhor essa ameaça emergente à saúde pública.