O Maior desafio que o grupo Brics enfrenta no momento não é elaborar planos ambiciosos para reformar a governação global ou lançar uma moeda comum. O desafio mais premente é manter a coesão e foco do bloco sem que as políticas e posicionamentos de novos membros coloquem em risco a unidade conquistada.

A candidatura de Javier Milei à presidência da Argentina, defendendo um distanciamento do país em relação à China e um maior alinhamento com os EUA, cria interrogações sobre como sua eventual eleição poderá impactar o BRICS caso defenda políticas similares no governo. Isso colocaria em questão a união da América do Sul no bloco.

Ao trazer o Irã para dentro do bloco, forma-se um novo eixo entre esta nação, China e Rússia, os quais apresentam uma postura mais crítica aos EUA. Isso pode desviar o foco do BRICS da sua função de promover o crescimento dos países emergentes para se tornar um bloco antagônico aos EUA, centrado em questões como sanções e conflitos geopolíticos.

Com o fortalecimento desse novo eixo e o crescimento da influência chinesa e russa no grupo, a Índia se vê em posição delicada, já que não deseja antagonizar o Ocidente. Eventuais votações que imponham diretrizes contrárias aos interesses indianos podem levar o país a reconsiderar sua participação no BRICS.

Alguns países como a Indonésia, importante potência emergente, manifestaram ceticismo sobre aderir ao grupo no momento, indicando que sua importância geopolítica pode estar diminuindo. Isso sugere que a expansão não foi planejada e pode estar enfraquecendo o BRICS.

Ao agregar nações como o Irã e o Egito, o BRICS pode se ver arrastado para conflitos regionais nos quais não deseja ou não está preparado para intervir diretamente, como disputas envolvendo esses países. Isso traria novos desafios diplomáticos e até mesmo a necessidade de recursos para evitar instabilidades entre membros.

No curto prazo, a decisão de ampliação trará mais incertezas e risco de fragmentação, justamente quando era necessário fortalecer laços. O maior teste será manter a coesão interna diante das divergências que virão com os novos membros, especialmente Argentina e Irã.

Através da expansão acelerada, o BRICS embarca em uma nova fase de maior imprevisibilidade. Sem possibilidade de retrocesso, o futuro do grupo dependerá de sua habilidade em lidar com os desafios imediatos sem perder sua essência original. Tanto potências emergentes quanto países ocidentais aguardam os desdobramentos com cautela.

Em suma, a decisão de ampliação, tomada de forma aparentemente pouco planejada, pode estar enfraquecendo o BRICS ao invés de fortalecê-lo, gerando fragmentação interna e colocando o bloco diante de novos desafios geopolíticos para os quais ainda não está preparado para enfrentar de forma eficaz.

Abishur Prakash

Brics’ biggest challenge in the near term is not falling apart

Abishur Prakash é o CEO da The Geo Political Business, uma empresa de consultoria em Toronto. Ele é um palestrante global e autor de cinco livros, incluindo o mais recente, “The World Is Vertical: How Technology Is Remaking Globalization”.