Um estudo recente publicado na edição online de 9 de agosto de 2023 da revista médica Neurology®, da Academia Americana de Neurologia, revela que indivíduos que fazem uso contínuo de inibidores da Bomba de prótons, Medicamentos para refluxo ácido, por um período superior a quatro anos e meio, podem estar mais suscetíveis a desenvolver demência em comparação com aqueles que não tomam tais medicamentos. É importante ressaltar que esse estudo não estabelece uma relação de causa e efeito, apenas aponta para uma associação.

O refluxo ácido ocorre quando o ácido estomacal sobe para o esôfago, geralmente após as refeições ou ao deitar. Esse fenômeno pode causar azia e úlceras, e em casos mais frequentes, pode evoluir para a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), que pode contribuir para o desenvolvimento do câncer de esôfago.

Os inibidores da bomba de prótons têm a função de reduzir a acidez estomacal, agindo nas enzimas do revestimento do estômago que produzem esse ácido.

Kamakshi Lakshminarayan, MBBS, PhD, pesquisador da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota e membro da Academia Americana de Neurologia, comenta: "Os inibidores da bomba de prótons são úteis para controlar o refluxo ácido, porém, estudos anteriores já associaram seu uso prolongado a um maior Risco de acidente vascular cerebral, fraturas ósseas e doença renal crônica. Este estudo buscou investigar se o uso a longo prazo desses medicamentos estava relacionado a um aumento no risco de demência. Embora não tenhamos encontrado uma ligação com o uso a curto prazo, notamos um risco mais elevado de demência em relação ao uso prolongado".

A pesquisa abrangeu 5.712 participantes com 45 anos ou mais, que não apresentavam demência no início do estudo e tinham, em média, 75 anos de idade. Durante um acompanhamento médio de 5,5 anos, 585 participantes (10%) desenvolveram demência.

Uso prolongado de inibidores da bomba de prótons ligado a maior risco de demência, diz pesquisa

Analisando o uso de medicamentos para refluxo ácido, os pesquisadores dividiram os participantes em quatro grupos de acordo com a duração e quantidade de consumo: não utilizaram os medicamentos, usaram por até 2,8 anos, usaram por 2,8 a 4,4 anos e usaram por mais de 4,4 anos.

Após ajustar fatores como idade, gênero, raça e condições de saúde, foi constatado que aqueles que utilizaram inibidores da bomba de prótons por mais de 4,4 anos tiveram um risco 33% maior de desenvolver demência em comparação com aqueles que nunca fizeram uso desses medicamentos. Não foi identificado aumento de risco de demência em indivíduos que utilizaram os medicamentos por menos de 4,4 anos.

Lakshminarayan observa a necessidade de pesquisas adicionais para validar essas descobertas e compreender melhor as razões por trás da possível conexão entre o uso prolongado de inibidores da bomba de prótons e um maior risco de demência. Por isso, é essencial que pessoas que fazem uso desses medicamentos conversem com seus médicos antes de qualquer alteração, já que interromper abruptamente esses medicamentos pode agravar os sintomas.

Vale mencionar que uma limitação do estudo foi a frequência anual das informações coletadas sobre o uso dos medicamentos, o que poderia subestimar ou superestimar o consumo real. Além disso, os pesquisadores não puderam avaliar se os participantes usaram os medicamentos conforme a prescrição.