O estudo, publicado no The European Journal of Nutrition, foi realizado por pesquisadores do King's College London e da ZOE, empresa de nutrição personalizada. É o primeiro a encontrar múltiplas associações entre Jet Lag Social - mudança no relógio biológico interno quando os padrões de sono mudam entre dias de semana e fins de semana - e qualidade da dieta, hábitos alimentares, inflamação e composição do microbioma intestinal em uma única coorte.

Pesquisas prévias mostraram que turnos de trabalho prejudicam o relógio biológico e podem aumentar o risco de ganho de peso, problemas cardíacos e diabetes. No entanto, há menos conscientização de que nossos ritmos biológicos podem ser afetados por inconsistências menores nos padrões de sono devido a acordar cedo com despertador nos dias de semana, por exemplo, em comparação a acordar naturalmente nos fins de semana.

A autora sênior, Dra. Wendy Hall, do King's College London, disse: “Sabemos que grandes interrupções no sono, como trabalho em turnos, podem impactar profundamente a saúde. Este é o primeiro estudo a mostrar que mesmo pequenas diferenças de horário entre dias de semana e fins de semana parecem estar ligadas a variações nas espécies bacterianas intestinais. Algumas dessas associações foram relacionadas a diferenças na dieta, mas nossos dados também indicam que outros fatores desconhecidos podem estar envolvidos. Precisamos de ensaios de intervenção para descobrir se melhorar a consistência do sono pode levar a mudanças benéficas no microbioma e resultados de saúde”.

A composição dos microrganismos no intestino (microbioma) pode afetar positiva ou negativamente a saúde, produzindo toxinas ou metabólitos benéficos. Espécies bacterianas específicas podem corresponder ao risco individual de problemas de saúde de longo prazo, como diabetes, doenças cardíacas e obesidade. O microbioma é influenciado pela alimentação, o que torna a diversidade intestinal maleável.

Em uma coorte de 934 pessoas do estudo PREDICT da ZOE, o maior em andamento deste tipo, os pesquisadores avaliaram amostras de sangue, fezes e microbioma intestinal, além de medições de glicose naqueles cujo sono era irregular comparado aos de rotina regular. Embora estudos prévios sobre a relação entre Jet Lag social e fatores de risco metabólico tenham focado em populações com obesidade ou diabetes, essa coorte consistia principalmente de indivíduos magros e saudáveis, com a maioria dormindo mais de sete horas por noite durante a semana.

Os pesquisadores descobriram que apenas 90 minutos de diferença na hora média de dormir – ponto intermediário entre hora de dormir e acordar – está associada a variações na composição do microbioma.

O jet Lag Social relacionou-se a pior qualidade geral da dieta, maior ingestão de bebidas açucaradas e menor de frutas e nozes, o que pode influenciar diretamente a abundância de certos micro-organismos intestinais.

Três das seis espécies bacterianas mais abundantes no grupo do jet lag social têm associações “desfavoráveis” à saúde. Esses micro-organismos estão relacionados a má qualidade da dieta, indicadores de obesidade e saúde cardiometabólica, e marcadores sanguíneos ligados a maior inflamação e risco cardiovascular.

A primeira autora Kate Bermingham, PhD, do King’s College London e cientista sênior de nutrição da ZOE, disse: “O sono é fundamental para a saúde, e esta pesquisa é oportuna dada a crescente atenção aos ritmos circadianos e ao microbioma. Mesmo 90 minutos de diferença na hora média de dormir pode encorajar espécies microbianas desfavoravelmente associadas à saúde”.

Pesquisas prévias relacionaram o jet lag social ao ganho de peso, doenças crônicas e fadiga mental.

A Dra. Sarah Berry, do King’s College London e cientista-chefe da ZOE, acrescentou: “Manter padrões regulares de sono, de quando vamos para a cama e acordamos todos os dias, é um comportamento de estilo de vida facilmente ajustável que todos podem adotar, o que pode afetar a saúde via microbioma intestinal para melhor”.

Em suma, esta nova pesquisa encontrou pela primeira vez uma ligação entre jet lag social e alterações na composição de bactérias intestinais, incluindo espécies associadas a piores resultados de saúde. Isso destaca a importância de padrões de sono consistentes para a saúde geral.

“Mesmo uma pequena diferença na rotina do sono parece impactar o equilíbrio microbiano intestinal”, disse a autora sênior. “Sugerimos que melhorar a regularidade do sono pode levar a mudanças positivas no microbioma e saúde.”

Os achados enfatizam o papel do sono na saúde integral e realçam a necessidade de mais estudos sobre como otimizar hábitos de sono para maximizar a saúde e o bem-estar. Os pesquisadores esperam que isso abra caminho para novas abordagens de promoção da saúde baseadas na importância de ritmos circadianos robustos.

“Há um mundo a ser desvendado sobre as conexões entre sono, dieta, microbioma e saúde”, disse a autora principal. “Mal podemos esperar pelos insights das pesquisas futuras e como podemos aplicá-los para capacitar as pessoas a prosperarem.”