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Lembranças de Viagens: Benin

Boa noite, Cults & Cuties!
Eu voltei, agora pra ficar... (mentira, não acreditem, é apenas uma calmaria, tenho certeza que daqui a pouco a vida atropela de novo e abandono meu bloguito querido!)

Anyway, o post de hoje eu dedico a minha mãe linda, Juracy, que sempre pegou muito no meu pé com razão porque sabe que a filha não tem juízo, mas que se não fosse por ela eu nunca teria a oportunidade de viver uma das experiências mais incríveis da minha vida: conhecer as cidades de Cotonou e Ouidah, no Benim, um país da África Ocidental. Ela pediu um post sobre o lugar, então mãe, este aqui é pra vc!

Benim: um pouquinho sobre o país

Minha viagem para o Benim ocorreu há algum tempo, em 2012. Na época, eu trabalhava no Porto de Santos e fui convidada para dar um curso sobre gestão portuária para profissionais da Autoridade Portuária de Cotonou em um programa do Itamaraty em parceria com o PNUD (órgão de desenvolvimento da ONU). Fiquei em êxtase! Era meu grande sonho conhecer a África!

Cotonou: sede do governo e centro econômico do Benim

O Benim tem uma particularidade interessante, possui duas capitais: Porto Novo, que é a sede constitucional e Cotonou (onde fiquei) que é a sede do governo e centro econômico do país. O nome "Benim" é relativamente novo. Antes da colonização, a região foi governada pelo Reino de Daomé, sendo um dos principais pontos de tráfego escravagista da costa africana. Após a abolição, o país passou  ao controle francês com o nome de Daomé até 1975. 

O clima é quente em todo o país. O sul é mais úmido e, talvez por isso, mais populoso. Mas mesmo na época de chuvas, não costuma chover muito. No norte, seco, temos as savanas. A temperatura é estável o ano todo, com as médias variando em torno de 27ºC e não passando de 32ºC.

A língua oficial é o francês, mas existem inúmeros dialetos locais como bariba, fulani, fon e yoruba. A convivência entre as diferentes etnias no país é relativamente pacífica. Mas você percebe um claro desconforto entre habitantes quando eles tem que se relacionar com determinados grupos: eles não dividem o mesmo táxi, não são amigos no trabalho, não sorriem um para o outro. Apenas se toleram. E ponto. 

Vale destacar também o delicioso sotaque beninense, com uma levada sincopada e lenta (tal qual o Zouk amado por eles), bem diferente do francês parisiense cheio de gírias. Gíria, aliás, é algo inadmissível no local de trabalho: eles são extremamente formais. Nos jantares de negócios, seguíamos todo um ritual antes de comer: as pessoas vão sendo, uma a uma, chamadas para sentar-se à mesa de acordo com sua idade e hierarquia. Dá um bruta medo de fazer besteira! hahaha  

Desespero na hora do encontro com o embaixador:
e se eu usar o talher errado?

O Benin tem uma cultura muito interessante e coisas incríveis para se ver. Mas não é exatamente um lugar turístico. O acesso ao interior do país é difícil e perigoso para quem não estiver acompanhado por moradores locais. Enquanto estávamos lá, testemunhamos um diplomata enfrentar sérios problemas na fronteira com a Nigéria. Um policial corrupto tentou ficar com o seu passaporte diplomático. No final das contas foi um corre-corre daqueles atrás do homem para recuperar o documento. Momentos de tensão, cena de filme (exageraaaaada)! Mas quando se está longe de casa, num lugar tão diferente, tudo é realmente emocionante.   





Algumas coisas são muito curiosas: não encontramos, por exemplo, divisão entre toaletes femininos e masculinos. Não havia sabonete em 80% dos locais que íamos (nem em escritórios) e a mão era enxuta em um pano muuuito sujo. Parece uma coisa meio óbvia, porque vc está em um local pobre, mas como a situação não faz parte do nosso cotidiano, acabamos ficando meio em choque. Mas até aí é só o começo. 

No aeroporto, a bagagem de mão é revista duas vezes: para ter acesso à sala de embarque e em uma grande mesa, sob o céu, antes de subir no avião. Não há ar-condicionado, nem free-shop, apenas uma loja de bebidas. Por outro lado, não há em filas. É tudo junto e misturado na hora de pegar as bagagens...kkk. Por fim, a rede de TV nacional faz nossos canais comunitários se sentirem a Rede Globo de televisão. Eu costumava assistir "Caminhos das Índias" enquanto estava lá. Era hilário ver nossos artistas dublados em francês.

Por outro lado, a despeito de toda pobreza, você encontra ser humanos extremamente corteses: pessoas que se portam de uma forma tão educada que nos fazem sentir desconfortáveis. Em alguns momentos você percebe até mesmo um clima de submissão no ar, um respeito exagerado. A receptividade do povo é impressionante: eles são anfitriões gentis e amáveis, fazendo de tudo para que você se sinta o mais confortável possível: cuidados com a suaalgo  alimentação, se você está bem acomodado, se podem fazer algo para resolver algum problema. Uma presteza ímpar!

As mulheres usam os penteados mais lindos do mundo e vestem-se muito decentemente, com tecidos coloridos e encorpados (o algodão, ao lado da manteiga de karité, são os grandes motores da economia local). 

Cotonou


Cotonou, às margens do Atlântico, é a cidade mais populosa do Benim, com 780 mil habitantes. Este número, porém, deve ser muito maior, pois não há mecanismos muito precisos de recenseamento na região. Uma das grandes forças da cidade é o porto, responsável por escoar a produção de países vizinhos que não possuem saída para o mar. O local é uma opção ao porto de Lomé, na Nigéria, o qual é alvo de intensa pirataria.

Há motocicletas para todos os lados e carros bastante antigos. Algo que assusta bastante é o fato de que quando você encontra um carro novo, é um modelo extremamente luxoso. Desigualdade brasileira elevada ao cubo! O trânsito é caótico, completamente desorganizado. Rezei vários "pais-nossos" durante meus deslocamentos. Para sair da cidade, havia uma estrada que estava em construção: a poeira levantada pela terra vermelha era tanta que você mal conseguia enxergar. Às margens da passagens os habitantes tentavam se proteger cobrindo o rosto como árabes. Foi uma viagem intensa e chocante, mas falo mais sobre ela em nosso próximo post. 


Há um hipermercado na cidade, de uma rede francesa, bem semelhante ao que temos no Brasil. Havia produtos bem famosos como batatas Pringles e Coca-cola, mas você praticamente não via negros no local (a não ser os funcionários). Enfim, mesmo em um país negro, a face suja da segregação racial aparece camuflada de segregação econômica. Para a população em geral, há lojas simples no centro da cidade e comércio ambulante. O habitual é estender um tecido nas calçadas e vender tudo o que você pode imaginar: de roupas à copos de liquidificador, frutas à panelas, de perfumes à gasolina vendida em jarros. Tudo caoticamente organizado.


Onde ficar?


A cidade não tem grandes opções de hospedagem. Alguns colegas de trabalho ficaram em um local chamado Hotel du Port e não recomendaram a experiência. Ficamos, então, em complexo que reunia um Ibis e um Novotel. Hóspedes de ambos edifícios podem usufruir dos bares, restaurantes e da piscina compartilhada, que é bem gostosa e você encontra lagartos lindinhos por todos os cantos do jardim. São muito fofos!! Abaixo tem algumas fotos do área de lazer. De frente há uma praia, mas não é recomendável banhar-se ali por ser muito profunda.  Era esquisito tomar banho sol em um lugar como este lá, sabendo a pobreza que existe do lado de fora. 






As acomodações do Ibis são mais do mesmo: quarto de tamanho razoável para viagens de negócios, móveis novos, decoração padronizada. Infelizmente, tive companhia todas as noites. Pequenas e simpáticas baratinhas (bleh) vinham me receber ao final do dia, às vezes em cima de minha cama. Foram dias difíceis, dormindo totalmente coberta pelo lençol com medo das bichinhas. Mas, este era o menor dos problemas, como veremos adiante.

O café da manhã é composto por produtos franceses, uma vez que não havia, pelo menos naquela época, uma indústria alimentícia local. Em outros hotéis você não encontra estas facilidades, o que pode aumentar a chance de contaminação. Aí você me pergunta: então você ficou bem, Nandinha? Não! Claro, que não! Assim como quase todos que fizeram a viagem, uma semana depois - como um relógio - tivemos uma infecção intestinal. Febre, mal-estar, etc. Enfim, tudo dentro do esperado, quando se vai para lugares com os quais vc não está acostumado com a alimentação, nem tem imunidade contra as bactérias da região. Não morri, então fiquei mais forte kkkkkk 

Mas afinal o que tem para comer? Muitas coisas gostosas, na verdade: a alimentação é a base de peixes, inhame e vegetais. Eles tem o abacaxi mais doce do mundo e o famoso suco de baobá, que lembra um pouco manga, mas tem um sabor mais forte e consistência pastosa. Há um prato muito gostoso, chamado "frango bicicleta": o chamam desta forma por conta das pernas finas do bichinhos, que são criados livremente nos quintais, o que faz com que não tenham uma carne macia, mas seja bem saboroso. O molho de tomate que acompanha a iguaria é delicioso, bem cremoso. Todas as comidas são bastante condimentadas e com aromas deliciosos. Há outros alimentos que não curti: é muito comum o consumo de bode, que é criado como animal de estimação. Aliás, é uma coisa interessante: não existem cachorros por lá! Não vi um sequer. Crie sua teoria!


Bebida padrão em Cotonou: e você aí reclamando que tem que beber Dolly


Bem, no próximo post tem viagem à Ouidah, de onde saíam os negros para o Brasil na época da escravidão e onde vimos as clássicas e tristes cenas de extrema pobreza tão comuns no continente.

Beijo grande a todo mundo!

E Viva o Benim! (eles dizem "viva" pra tudo lá!)







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