Get Even More Visitors To Your Blog, Upgrade To A Business Listing >>

Joane – Cap. II

                                                      ***

Jonathan Safran Foer,um escritor americano nascido em Washington,e um dos favoritos de Joane,certa vez disse sobre o amor,no seu livro “Tudo é Iluminado”: “Não era a sensação de perfeição que eu precisava tanto. Mas a sensação de não estar vazio”. Sempre que lia aquela citação ela sentia como se nenhuma outra a descrevesse tão bem. Era sim,perfeccionista no que se dizia respeito a sua vida pessoal… Mas não recusava os imperfeitos em nome do preenchimento do vazio que existia dentro de si. E esse era devastador para ela. Apesar de dizer para si mesma que era uma mulher auto suficiente,dona do seu próprio prazer e que não precisava dessa tal coisa de amor que as pessoas falavam tanto ser necessário para viver,no fundo ela sentia-se como um belo peixe dourado trancafiado num aquário servindo de adorno para alguns que dão apenas uma leve olhadela,batem no vidro e depois seguem suas vidas com suas risadas sobre qualquer assunto banal. Ela sabia que no fundo,bem no fundo,ela queria E PRECISAVA de alguém. Mas quase nenhum que cruzava o seu caminho em busca de adentrar os portões da sua fortaleza parecia digno de seus atributos. No final de tudo sempre acabava parafraeando Jonathan Safran Foer,quando ele disse que “tinha tanto medo de perder algo que amava que se recusava a amar qualquer coisa”. Então todos os que cruzavam sua vida,geralmente em noitadas regadas a muito álcool e drogas,acabavam na sua cama,extasiados de prazer porém sem sentir um pingo de ternura da parte dela. E no dia seguinte ela mesma ligava para o uber. Seu doce,porem duro,coração e alma eram deveras imaculados demais para que ela permitisse que qualquer um entrasse os transformasse num vale de sombra e destruição.
Porém existia alguém disposto a qualquer sacrifício e a ir a qualquer luta de qualquer proporção em nome do amor de Joane. Seu nome era Fábio. Ele era um dos colegas de trabaho dela no jornal. Na verdade,era o recém contratado estagiário da assessoria jurídica. Não podia se dizer que Fabio era exatamente um homem lindo e que deixava qualquer mulher louca por onde passasse; mas ele tinha sua beleza em uma boa quantidade. Era um rapaz moreno claro,de estatura um pouco alta,cabelos escuros e um pouco grandes que sempre viviam charmosamente desajeitados. Seus olhos levemente apertados e penetrantes eram da cor do mesmo mel que escorria dos olhos de Joane. O seu corpo não estava tão em forma quanto o dos caras com quem ela costumava ter relações,mas também não era algo que deveria ser melhorado. Ele era normal. Alguns músculos tímidos apareciam sob sua camisa algumas vezes e isso era suficiente para fazer algumas das mulheres da redação do jornal se distraírem de suas tarefas e passarem o dia molhadas pensando naquele homem dentro delas. E o que as deixava mais loucas por ele ainda era a sua personalidade. Era um homem extremamente doce,atencioso,inteligente e sempre disposto a fazer todo o trabalho que lhe dessem. Essa era uma de suas satisfações pessoais mais importantes: a realização profissional. Apesar de ainda ser apenas um estagiário,levava seu trabalho muito a serio e fazia sempre o máximo para agradar a alta cúpula. Era mais do que um rostinho bonito. Porém,dentro de si,tais qualidades não o faziam o candidato perfeito para a mulher perfeita. Ele queria ser mais. Ele queria ser o que ela queria,mesmo sem saber ao certo o que ela queria. Ele queria estar no coração e nos pensamentos de Joane. Sabia que não era uma tarefa fácil conseguir tal feitio,então não se dava muito ao trabalho de tentar. Mas suas ações para com ela mostravam a Joane,e a todos no jornal,que suas intenções iam além do que conseguir uma simples e duradoura amizade. Todos percebiam que ele tinha sentimentos por ela. Não diziam,mas no fundo sentiam pena dele. Na opniao dos que “sabiam” dos sentimentos dele,um rapaz como ele não merecia ter o coração esmagado sem piedade por um pedaço de gelo mortalmente atraente como ela. Mas ele não ligava. Apenas se importava com seus sentimentos por ela. Chegava sempre meia hora antes dela para poder ,algumas vezes,levar o seu café,adiantar coisas para facilitar as reportagens que ela tinha no dia ou simplesmente para vê-la adentrando o prédio. Ela sempre retribua seus gestos gentis com o sorriso que ele mais amava no mundo. Mas nada além disso.

– Não entendo por quê voce é tao gentil comigo,Fábio. Não mereço tanto. Nem sou eu quem paga seu salário – disse ela,colocando sua bolsa de couro preta no chão e abrindo seu café

– Ahh.. Imagina. Não é trabalho nenhum. Gosto de ser legal com as pessoas,só isso – mentiu,tímido

– De todo jeito,muito obrigado! Eu aprecio muito

– De nada – ele ia dando meia volta para sair,mas um pouco sem jeito resolveu voltar – Como foi o fim de semana?

– Normal. Você sabe,o de sempre: amigos e vinhos. Okay,e umas cachaças também. Ninguem é perfeito

– Hahaha verdade. Então foi bem mais divertido que o meu. Fiquei em casa vivendo o fim de semana de toda a nova geração: netflix e cama.

– O que voce assistiu? – ela realmente estava muito agradecida pela gentileza dele de levar-lhe café e outras coisas. Quis retribuir sendo gentil e mostrando interesse na vida dele,embora não estivesse tão interessada

– Bom eu assisti “Suits”. Não sei se voce já ouviu falar. È uma série com um cunho jurídico mas com otim—

– Mas ora vejam só quem chegou antes do meio dia – disse Haroldo,chefe de Joane,interrompendo a conversa dos dois e deixando Fabio internamente furioso por isso

– Bom dia pra voce também, Haroldo – Joane deu um gole no seu café e uma leve piscadela para Fabio

– Se me dão licença eu preciso ir. Eu tenho que..finalizar…er…bom,tenham um bom dia

– Você também,Fábio. Obrigado mais uma vez pelo café

Ele apenas limitou-se a dar um leve sorriso pra ela e acenar e desapareceu no meio da correria que estava começando na redação

– Hmm…hoje foi café? Prepare-se que amanha serão flores! – pigarreou Haroldo. Ele era um dos que queriam Joane na sua cama,apesar de ter esposa. Era o exemplo de homem a não ser seguido. Desde quando começou a trabalhar na Foccus Noticias Joane se perguntava como um jornalista sem talento e asqueroso como ele tinha tanto prestigio naquele lugar. Talvez porque fosse ele o homem que determinava os pagamentos – Incrivel como voce é a única que não percebe

– Perceber o que?

– Que o rapaz é louco por você. Desde quando não sabemos; mas provavelmente ele pensa em voce sempre que está no banheiro..se é que me entende – disse ele com uma malicia asquerosa na voz.

Ela poderia ter dado um tabefe na cara dele por causa daquele comentário machista,mas isto custaria seu emprego e este não era um luxo que ela poderia se dar agora. Entao o que fez foi apenas dar um sorrisinho azedo e mudar de assunto

– Você recebeu a matéria que te mandei ontem sobre o atentado terrorista no Rio?

– Sim. Tive que repassar para Marcela editar quase tudo. Não é que não estivesse bom…apenas..

– Apenas o que?

– Você não foi totalmente imparcial. Deu indiretas o tempo todo sobre o atentado ter ocorrido devido as ações,segundo voce,”catastróficas”,do governo atual em ação conjunta com o governo americano e o culpou por outras coisas que não tinham nada a ver com o atentado – disse ele,puxando um cigarro

– Eu não disse diretamente que o governo estava agindo com o governo americano. Apenas coloquei no papel as informações que eu tinha recolhido e achei que seria importante para os leitores verem que o governo que alguns escolheram não é tão perfeito quanto parece e que ele está ferrando a população sem que percebamos!

– Isso é politicagem,Joane. Não fazemos isto na Foccus e com certeza em nenhum jornal! Peça a Marcela a matéria original e refaça. Só que dessa vez faça da maneira correta e sem expressar seu lado politico. Isto não interessa a ninguém! – ele apagou o cigarro no chão e jogou dentro do copo de café,já vazio,dela e saiu.

A manha mal tinha começado e Haroldo já tinha conseguido tirar Joane do sério. Primeiro com suas piadas machistas idiotas. E agora,enaltecendo seus erros. Ela não gostava de ser pressionada a mudar algo que achava ter feito corretamente. Mas nada podia fazer. Então sua única alternativa foi ir até Marcela,editora-chefe do jornal,e redigir novamente sua matéria para coloca-la na edição do dia seguinte.

Cont,



This post first appeared on The Shadows Of Lola, please read the originial post: here

Share the post

Joane – Cap. II

×

Subscribe to The Shadows Of Lola

Get updates delivered right to your inbox!

Thank you for your subscription

×