"A infância não se repete, nem na lembrança, nem na imaginação. Quando, muito, dá-se outra infância. "
Miguel Torga
És pequenina e ris ... A boca breve
É um pequeno idílio cor-de-rosa ...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!
Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te faz tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!
O ver o teu olhar faz bem à gente ...
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente ...
É um pequeno idílio cor-de-rosa ...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!
Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te faz tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!
O ver o teu olhar faz bem à gente ...
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente ...
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Florbela Espanca
Estou de quatro, relincho, resfolego, rosno, sacudo a desgrenhada cabeleira cinzenta que ela puxa como se rédeas fossem e ri.
É tão linda quando ri. É tão lindo o seu sorriso de onde despontam pequenas promessas de alvos dentinhos... dois ratinhos, digo eu, vá mostra à Avó e ela ri e diz "Bâ" e eu deliro e olho em redor ansiosa que alguém esteja por perto para testemunhar aquele prodígio... E ela ri com o sorriso mais lindo do mundo. Ri para mim. É linda. Tão linda.
Ainda me lembro o quanto eu queria tanto, mas tanto, ter uma boneca vestida de princesa... correram mais de cinquenta anos para ter uma princesa que é uma boneca, a maior riqueza com que se nos é permitido brincar, mimar, ninar, acarinhar.
E fiquei tola, tontinha, palerma, deslumbrada.
Eu é saltos, pulos, balbucios , cuidados.
Eu é loucuras mil, inconsequentes e pueris, que me levam de volta à meninice e à princesa vestida de boneca, que é boneca de carne e osso e princesa do meu coração.
Quem diz que a alegria traduzida em amor não mareja as outras meninas com agua e sal, mais intensamente do que o pesar traduzido em decepção e tristeza? Dou por mim afogada num sentimento renovado e tão doce, tão terno, tão puro, que a alegria cai-me em cascatas dos olhos e eu rio a chorar.
O coração matraqueia-me o peito porque se sente apertado e quer saltar, agigantou-se e quer bradar e tocar o mundo com a felicidade que sente.
Querença desmedida, estupenda, difícil de descrever, aquela que sinto quando tenho o meu mundo sentado no colo e o posso tocar e acariciar com a palma da mão.
(Fotos de MD Roque)