Se sabemos viver, sabemos tudo.
Textos Judaicos
Quem somos, donde viemos, para onde vamos...
As célebres dúvidas existenciais para as quais ninguém tem resposta certa.
Ninguém ? Ninguém não! Eu pelo menos durante Dois Meses por anos sei EXACTAMENTE de onde vim e para onde vou.
Vim do trabalho e vou para casa. Vim da casa e vou para o trabalho.
Pode parecer monocórdico, monótono, enfadonho até, mas desengane-se quem pensa que algo tão simples não possa promover fúrias, complicações, desatinos, peripécias mil e até gargalhadas sem fim.
E é aqui que chegamos à parte do quem somos.
Pois na realidade , dias há que não sei, ou só sei que Nada sei, ou sei muito mais do que julgo e muito menos do que imagino, ou só sei o que já não me surpreende, ou sei o que sou e ignoro em que posso tornar-me, ou se não sei aprendo e se já sei ensino, ou como nada sei, não duvido de nada, ou lanço o saber e não terei tristeza, ou sei coisas inúteis que é muito melhor do que não saber nada, ou sei o que todos sabem, que é o mesmo que nada saber, ou muito sei porque bem conheço a minha ignorância, ou sou sábia porque sei que ignoro tudo ( o que por vezes dá um jeitaço...), mas no fundo reconheço que a condição humana do saber é o silencio ...
Sei lá eu...
Sei lá eu...
De uma coisa não sei, mas tenho a certeza, é que todos os dias durante estes dois meses, me sinto dentro de uma fita de pelicula gasta e sem cor definida, em que os mocinhos e os bandidos trocam constantemente entre si de personagem e de falas, mas o filme é mudo e eu felizmente não os oiço, talvez porque já não os posso ouvir e preze o silencio como se fosse volfrâmio. Não sou a garota histérica amarrada aos carris do comboio, sou o comboio que percorre todas as estações , espera não atropelar ninguém e no final da corrida, a soprar negro de fumo, anseia por caras alegres e sorrisos cansados mas genuínos, e o balsamo do som sem ruido que consegui deixar fechado lá atrás, para além do portão azul.
Estão 30 graus lá fora, a dona sol ofusca a primeira estrela e o chá fervente anima e reconforta. O ronronar também. Até o ressonar me arranca um sorriso de reconhecimento e paz. É tão bom não ter nada para dizer.
É apenas para viver.
É apenas para viver.