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A Festa da Vida

"Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim"

Vergílio Ferreira





"Caminharemos de olhos deslumbrados 
E braços estendidos 
E nos lábios incertos levaremos 
O gosto a sol e a sangue dos sentidos."

José Carlos Ary dos Santos









Não me chamem Ishmael, tampouco pessimista. 

Porque sempre que me ausento por breve ou prolongado período de tempo, trato de providenciar para que o meu parco património fique seguro de abutres fiscais e outros predadores que tais, em caso de acontecer um não retorno.
Porque trato de explicar os finalmentes, a minha última vontade sobre aquilo a que me votou o animo desertor. Sou eu quem determina. Sou eu quem quer assim. 

Será muito pedir respeito ?

Isto não é maluquice, paranóia ou pessimismo, mas sim puro pragmatismo.

E afinal, quem manda em mim ainda sou eu, mesmo depois de deixar de o ser.

Não quero vigílias claustrofóbicas em espaços deprimentes com aquele aroma anojoso a círios e flores sem alma; não quero flores. Que desperdício de beleza sacrificar uma rosa a quem já se finou.








Não quero choros. Carpir aleivosias tornou-me intolerante a mágoas lacónicas de circunstância. O pesar, que seguramente o terá quem muito me quis, não o lavará ali com lágrimas ou escorraçará com gritos, porque é marcado na alma a ferro e fogo. Pode o tempo esbatê-lo sim, mas a memória nunca o apagará.

Não quero cetins ou pérolas ou uma caixa fechada. Não quero um buraco negro , num triste canteiro com um número sem significado,  nem uma pedra de epitáfio com palavras abrigadas num acordo que não acordarei, dizeres que eu não disse e que de mim só dizem aquilo que se convencionou dizer.

Não quero ser grande na memória dos homens; não quero ser uma estrela na terra e tornar ao pó numa colina de torrões tristes e desesperados, sem mérito nem obra.


Deixem-me voar nas asas da fénix que me levou a alma e que me espalhará junto ao braço de água que me viu nascer, o mesmo de onde partiram as naus da cruz de Cristo.

Cumpri.

Nasci, cresci, flori, frutifiquei. Os meus frutos deram frutos lindos e eu fui feliz.Sou feliz.

Vivi intensamente. Vivo ainda.
Jubilei com as alegrias , solucei as tristezas, sorri sempre e continuo a sorrir, grata que estou , porque estou e porque sou.

Não quero angústias, nem amarguras. Quero alegria, quero festa. Quero que a memória que deixo , a indelével pegada da minha breve passagem, seja a festa da vida que eu vivi. 



Em memória de mim

(Père Lachaise - Fotos de MD Roque) 


                                                    


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