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Hereditariedade Curricular

"É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer."


Aristóteles


Nunca digas  acho que já fiz meu melhor, ou eu tentei.
Nâo há tentativas ou se faz ou não faz.
A cada dia somos melhores que ontem e quando se tem a certeza de sua aptidão e sucesso faz de novo!
É logico que falhas existem uma vez ou outra,mas é com os erros que  vêm os acertos.
Os erros só servem para podermos melhorar a nossa capacidade de acertar.


Yoda





Descendente de antiga linhagem de tocadores de Gaita de Foles, a Neta não se revelou a excepção à regra que todos gostariam e ansiavam.

O primeiro dia de Escola criou falsas expectativas fundamentadas na novidade. Tantos meninos, tanta atenção, tanta coisa para brincar. Adeus Pai, Adeus Mãe, e com um sorriso de orelha a orelha , foi pela mão da educadora conhecer os espaços, cada um mais fantástico do que o anterior. O almoço foi uma paródia, a sesta um bálsamo e o dia um espectáculo. 

O segundo dia foi o recreio, mais meninos , alguns encontrões, mas nada muito grave. Fez-se com um meio sorriso.

O terceiro dia já mostrava o cenho franzido. Afinal tudo aquilo não era uma festa ! A mãe , pobre mãe com o coração nas mãos, deixou-a a choramingar agarrada à inseparável mochila.
Depressa esqueceu o abandono e foi fazer um desenho.

O quarto dia foi a tragédia. Desde que entrou o portão até ficar literalmente a berrar e a espernear enquanto a educadora tentava encontrar uma ponta por onde lhe pegar, no meio de tanto rebuliço.

... E vai ser assim por um tempo. Vai-nos custar mais a nós do que a ela, que será facilmente encaminhada para uma actividade e distraída da sua suposta dor.

Eu chorei três anos seguidos. Com quatro anos, um dos grandes amigos do meu pai e director de um colégio, acedeu deixar-me entrar para a primeira classe. Isso das prés e Jardins de Infância ainda estaria em projecto não germinado no pensamento de um não nado reformador do ensino.
Chorei. A mãe condoeu-se. Afinal era tão pequenina...
Com cinco anos, repeti a proeza com idênticos resultados.
Com seis anos, Tinha SEIS ANOS, bolas, a escola do regime contava comigo ! A Mãe chorava por me ver chorar, mas não houve volta a dar. Fiquei. A chorar. E má.
Tenho que honestamente referir que a professora se fartou de mim. Tratou de ensinar quem queria aprender e deixou para o lado quem só queria chorar.
Transitei completamente coxa e o pai falou com o Sr. Director. A partir da segunda classe fiquei no colégio. Mal sabia ler, mal sabia escrever, aritmética era um puzzle... reguadas foram em barda. Aprendi da pior maneira, mas aprendi muito e aprendi bem. 
Se odiava a masmorra que era reino de um dragão disforme à qual me lançavam todos os dias, hoje dou graças a Deus por não haver quem vacilasse ou me tivesse deixado recuar.
Tudo o que sei, posso agradecer aos tais "monstros" que se afadigaram em perspectivar e fundamentar o meu conhecimento.

Segui-se o Mano. Chorou que se desalmou, mas a mãe, quando saía para o pôr na escola, deixava em casa o seu coração de mãe e nunca olhou para trás; já tinha sido a mulher de Lot duas vezes. Aprendeu a não o voltar a fazer. O Mano acabou a quarta classe ainda não tinha nove anos, com uma bagagem de conhecimento invejável, que lhe garantiu o sucesso que alcançou. 

As duas filhas cumpriram a tradição: serrazina, lágrimas, pranto... Chorei muito também, pois chorei, mas tinha o trabalho à espera, e os empregos antigamente não facilitavam atrasos porque os filhos eram chorões e a mães ficavam cada vez mais de rastos à medida que se afastavam depois de  os entregar a desconhecidos, que acabavam por estar com eles mais tempo do que elas próprias. Nunca fui mãe a tempo inteiro. Não tinha como. Corações ao alto. 

O filho do Mano, chorou até aos seis anos. Chorava quando o deixavam e encontravam-no lavado em lágrimas quando o iam buscar.
Nem por isso deixou de ser o grande homem que hoje é.

Estranhamente, só o Menino gostou da escola, gostou sempre, desde o primeiro dia... talvez por ter passado a vida que conhecia rodeado por pessoas antigas e peças de museu...

A neta, fora do seu casulo cor de rosa, tecido pelos pais e pelos avós, vai seguramente sentir falta da sua zona de conforto. Vai chorar, vai ficar triste, vai sorrir e ficar alegre, vai cair e levantar-se, vai aprender. Nós continuamos cá para ela, mas sem casulo nem rede.

 Vai ser uma miúda e pêras.









                       


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