Parte I - Príncipe Encantado
(Escrita em 16 de julho de 2015)
(Ao som de O Mundo é um Moinho, de Cartola)
"...Preste atenção querida,
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés"
Quem não tem ilusões?
Quando me apaixonei pela primeira vez, simultaneamente por Adão e Edinho, meus coleguinhas da pré-escola (sempre fui precoce!), achei que um dos dois (meu “q” de Dona Flor vem de berço) era meu principezinho encantado, que cresceria e tiraria habilitação para guiar seu cavalo branco até a mais alta torre – onde eu estaria confinada sob a vigilância de um feroz dragão –, me resgataria e viveríamos felizes para sempre.
Na 1ª série – do Primeiro Grau, hoje conhecido como Ensino Fundamental – teve o Cledson. Na 2ª, o Alexandre. Na 3ª, o Anildo. Na 4ª, aos 10 anos, eu já era me achava mais “madura” e aceitei o pedido de namoro de um garoto de 13 anos, o Flávio, com quem eu, apesar de brigarmos feito cão e gato, dei meu primeiro beijo. Aos 15, fiquei en-lou-que-ci-da por um vizinho gostoséeeeerrimo, o Fabio, com quem comecei a namorar no meu 16º aniversário. O romance naufragou em poucos meses...
Apesar da minha diferença de idade entre as paixonites, me recordo de vislumbrar num futuro não muito distante o tal “felizes para sempre” com cada um deles.
***
Parte II - Vendo-me
(Escrita em 06 de novembro de 2015)
Aconteceu comigo. E com uma amiga também.
Os "vendedores", felizmente, também eram dois. Um branco, outro negro. Um alto, o outro mais alto ainda. Um bonito, o outro nem tanto. Ambos cativantes. Persuasivos. E irresistíveis.
Compramos.
Uma de nós adquiriu um homem apaixonado novinho em folha. A outra levou para casa a vida um amor à primeira vista de segunda mão. Não foi preciso muito tempo para ambas nos darmos conta de que havíamos comprado gato por lebre...
Ao que tudo indica, os vendedores utilizaram-se do chamado “jeito Apple de ser”, nos provocaram desejos (ao invés de nos decifrar as predisposições) e nos criaram necessidades (em vez de apenas nos atender as expectativas). Ou, trocando em miúdos, manipulação de "consumidoras".
Resultado: Devolvemo-os à prateleira.
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Parte III - Vendo-me também!
(Escrita na data oficial do post)
Há vendedores em todas as profissões. E gêneros também.
O homem apaixonado e o amor à primeira vista supramencionados eram, coincidentemente, profissionais da área comercial mesmo. Mas conheci "vendedores" que trabalham com direito, tecnologia, engenharia, saúde, segurança (pública e privada), arte etc. Há uma "vendedora", em especial, com a qual encontro todas as manhãs no espelho...
Sim, vendo-me também!
Linda (cabelo e maquiagem caprichados!). Sexy (sempre de vestido e saltos altíssimos). Bem-humorada, espirituosa e sorridente (cerveja e/ ou segundas intenções tem dessas coisas). Inteligente (em igual proporção ao "alvo"). Empática (com toda a versatilidade e flexibilidade que a palavra exige). Meiga, carinhosa, espiritualizada, prendada, fitness etc (e bota etc nisso!).
(Posso ser tudo isso, nada disso ou muito além disso. Mas isso não vem ao caso, ok?)
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Parte Final - Príncipes e Princesas (Des)Encantados
(Escrito na data oficial do post também)
Quem não tem ilusões?
A vida real é dura demais. Comprar e vender sonhos tornam a realidade mais, digamos, suportável. Em contrapartida, as desilusões nos fazem crescer, amadurecer, evoluir e, paradoxalmente, manter os pés no chão.
A verdade é que príncipes e princesas existem... Em lugares onde o regime governamental vigente ainda é a monarquia. E, ao que me consta, há apenas 28 monarquias contemporâneas para uma população mundial de mais de 7 bilhões de pessoas.
A verdade é que príncipes e princesas existem... Em lugares onde o regime governamental vigente ainda é a monarquia. E, ao que me consta, há apenas 28 monarquias contemporâneas para uma população mundial de mais de 7 bilhões de pessoas.
No mais, vende quem quer. Compra quem precisa! Ou vice-versa.
Cabe a cada qual abrir os olhos, avaliar se a "aquisição" é realmente necessária ou se vale o quanto custa, e tomar uma decisão consciente, ainda que às vezes, emocional.
Apesar de todos os pesares, do cinismo e do abismo que as desilusões amorosas cavaram, vida afora, sob nossos pés.