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A saga nordestina de Jô Oliveira

Em 1976, a Editora Codecri, da turma do Pasquim, lançava no Brasil um álbum especial que reunia três histórias em quadrinhos de um certo desenhista pernambucano que acabara de retornar ao Brasil, depois de ter trabalhos publicados em importantes revistas da Europa. Seu nome era Jô Oliveira e o álbum se chamava A Guerra do Reino Divino, história em quadrinhos clássica que hoje em dia seria chamada de “graphic novel”.

Na contra-capa da publicação, Ziraldo escreveu o seguinte editorial, apresentando o artista gráfico aos leitores:

“Conheci Jô de Oliveira em Lucca, na Itália, durante um congresso de história em quadrinho – o Lucca 9 – no ano de 1973. Estava lá aquela brasileirada toda: o Maurício de Sousa, o Márcio, Jayme Cortez, Álvaro Moya mais o Miguel Paiva e eu. De repente, pinta no grupo dois moreninhos muito tímidos e, como brasileiro no exterior – ai, meu Deus! – vira tudo irmãozinho, enturmaram logo. A certa altura, Márcio de Souza e eu falávamos sobre os dois, quando eu disse: “Aqueles dois paulistas do seu grupo…” e o Márcio discordou: “Espera aí. Eles não são nem paulistas nem do nosso grupo. São cariocas* e do grupo de vocês.” Aí ninguém entendeu mais nada. Fomos esclarecer a questão e descobrimos que eles – com aqueles casacos estranhíssimos, aqueles bigodões e barba, aquela fala mansa e tímida – tinham acabado de chegar de Budapeste, na Hungria, depois de viver cinco anos lá, sem sair, estudando artes plásticas.Naquela confusão de Lucca, estavam achando o “ocidente” um barato!

O congresso é uma agitação latina típica, parece uma festa brasileira, aquela bagunça que resulta simpática, mil transas, os dois – Jô de Oliveira e Rui de Oliveira – estavam zonzos. Já eram, naquela altura, artistas gráficos da melhor qualidade – o trabalho que estão realizando hoje no Brasil prova isso – mas, em matéria de histórias em quadrinho, os dois boiavam. Os portfólios que traziam com seus trabalhos deixava o pessoal de Lucca com água na boca. Eles já tinham plano de retornar ao Brasil, faltava um ano para terminar o curso em Budapeste.

Consultado, achei que podiam – e deviam – voltar, que tínhamos aqui um mercado de trabalho em ascensão, que o começo ia ser meio duro, mas que a qualidade do trabalho deles ia acabar se impondo. Eles voltaram de Lucca para a Hungria e nós para o Brasil. Menos de dois anos depois, olha eu abrindo a revista Alter-Linus, a mais importante publicação de história em quadrinhos da Europa, e dando de cara com dezesseis páginas do Jô, com capa dupla e tudo. Era A Guerra do Reino Divino não só publicada pelo Linus, como cantada em prosa e verso pelos “fumetólogos” italianos.

Jô e Rui – de Oliveira, sem serem irmãos – voltaram para o Brasil e já ocuparam seus lugares numa rapidez muito maior do que o melhor dos meus prognósticos.

Reunidas neste álbum estão as três primeiras histórias em quadrinhos do Jô. Elas já foram publicadas no Linus e na revista Crisis de Buenos Aires e apareceram aqui nas páginas de Versus e Balão. Mesmo não sendo inéditas, achamos da maior importância lançar este álbum, reunir esse trabalho de Jô numa só publicação, pois acreditamos que ele merece o interesse e a reflexão do leitor brasileiro: é um documento que o Pasquim, por sua Editora Codecri, apresenta com a maior satisfação.”

ALGUMAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

As fotos em preto-e-branco (acima) também foram publicadas na página do editorial e foram clicadas em Lucca, durante o Congresso de 1973. Jô Oliveira aparece na foto menor. Na outra aparecem, da esquerda para a direita, Jô Oliveira, Jayme Cortez, Rui de Oliveira e Márcio de Souza (agachado).

* Diferente do que Ziraldo escreveu, Jô Oliveira não é carioca. Ele nasceu em Pernambuco, no município de Itamaracá, no dia 25 de março de 1944 e é graduado em Comunicação Social pela Escola Superior de Artes Industriais da Hungria.

Conheci o trabalho magnífico de Jô Oliveira quando comprei essa edição da revista Alter-Linus citada por Ziraldo. Como mostra a imagem da capa acima, o desenho do artista tomava conta da capa em tom lilás e se estendia até a quarta capa. Quando a folheei pela primeira vez, lembro que senti orgulho de ver o trabalho de um quadrinista nacional sendo publicado com grande destaque numa importante revista italiana mas, ao mesmo tempo, fiquei triste por ver uma história em quadrinho daquele nível ser publicado primeiro na Europa sem saber quando ela seria publicada no Brasil. Além disso, era estranho ver o Lampião “falando” italiano. :>)

Felizmente, algum tempo depois a saga de A Guerra do Reino Divino chegaria às bancas no Brasil.

Leia um pouco mais sobre A Guerra do Reino Divino, neste link.



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