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O General, o complexo de vira-lata e os discursos mágicos dos presidenciáveis


É notório nos últimos anos a presença das chamadas minorias ocupando espaços no protagonismo social do país, e isto vem avassalando a ira de grupos conservadores de vertentes variadas. Não é à toa. Para quem está no poder há séculos, não quer perder a chamada mamata. Vamos lembrar que ainda vivemos num país onde os laços escravistas e patriarcais não foram desatados de vez. Há quem goste de usufruir do poder, seja qual for a classe e a origem, para ser ou reproduzir outros critérios de opressões.

Há quem nasça no meio daqueles grupos chamados minorias e sinta o poder nas mãos e ataque suas próprias origens para dizer que possui um lugar de destaque ao sol.

Não ficarei assustado com o que certo candidato à presidência da República fala e comenta. Fico espantado como há desiguais radiantes neste discurso simplório, fácil para entender. Promete isso e aquilo como se fosse fácil assim, um passe de mágica.

Quer resolver a violência? Dê uma arma às chamadas pessoas de bem e tudo se resolverá ou então fale com o ministro mais competente. Quer resolver o problema da mortalidade infantil? Ensine uma mulher a escovar e tratar os dentes e a mortalidade caíra brutalmente. Simples assim.

E o festival de horrores prossegue.

O prosélito à vice-presidência do mito disse numa declaração patética e sem nexo, que herdamos tudo de ruim dos índios e pretos desse país.

"Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena, minha gente. Meu pai é amazonense. E a malandragem, Edson Rosa (vereador de Caxias do Sul), nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, essa é o nosso cadinho cultural. Infelizmente, gostamos de mártires, líderes populistas e dos macunaímas", afirmou Mourão, em trecho gravado pelo jornal "Pioneiro".

General Hamilton Mourão, candidato a vice presidente da república pelo PRTB
Leia mais: Entidades repudiam fala de general vice de Bolsonaro sobre negros e índios

Em dado momento lembrei-me dos eugenistas dos séculos XIX e XX, que afirmavam que a miscigenação era algo degradante e que a única solução para civilizar o Brasil era a vinda do imigrante europeu.

**O professor Antropólogo da USP, Kabengele Munanga, em seu livro Rediscutindo a Mestiçagem, comentava a grande preocupação de intelectuais dos séculos XIX e XX sobre como formar um tipo de nação sem o vestígio negro e indígena. A miscigenação não era o consenso entre todos. Alguns desses intelectuais tinham ideias além, bem para o futuro, a médio e longo prazo, de que a nação brasileira apagaria de vez os fatores não brancos. Seríamos a maior nação de descendentes europeus fora da Europa.

O vice afirma que tem sangue indígena. Adianta algo? Identificação vai além da questão de pele. Está na cabeça de todos nós. Não bastar dizer que sou preto, índio, branco ou seja lá o que for e usar os mesmos métodos de opressão contra as minorias. Iguais ao general, há milhares que tiram proveito desses clichês para fazer cócegas no ouvido.

Não faço parte daqueles que veem com olhos românticos a ideia ufanista da miscigenação; a venda que havia nos meus olhos foram tiradas há muito tempo. Não questiono a miscigenação em si. Entretanto, porque o mesmo grupo étnico e sempre são os mesmos que dominam o país há milhares de anos?

Ainda bem que o historiador não tem capacidade de prever o amanhã, isto é trabalho para sociólogo. Estudando o passado do Brasil e entendendo o hoje, da calafrios querer saber o que acontecerá amanhã.

Na Lei e na Raça. Legislação e Relações Raciais, Brasil-Estados Unidos; de Carlos Alberto Medeiros. Ed. DP & A
Se esse senhor estudasse mais a história do povo indígena, pensaria mais de duas vezes antes de mencionar esta frase infeliz.

Por incrível que pareça, concordo quando ele afirma sobre o nosso complexo de vira-lata, mas ao contrário, temos que dar valor ao nosso Macunaíma, do dia a dia. Este 'matar um leão por dia' para ter um mínimo de dignidade.

As eleições estão por vir. Há candidatos para todos os gostos, da extrema esquerda à extrema direita . Dos liberais aos intervencionistas. Daqueles que vão vender o país aos que dizem que para gerar mais empregos, o trabalhador tem que abrir a mão dos direitos sociais. Há os pseudo-historiadores de redes sociais que por preguiça de ir às fontes, aceitam tudo o que veem pela frente sem filtrar nada. Há os que defecam o ódio pela boca e depois aparecem nos templos religiosos orando para o deus da guerra.

Está difícil ser otimista neste país. Mas como tudo não é desgraça no Brasil, estamos colhendo os frutos de duas gerações com olhares diferentes e com pensamento único: BASTA!

(Via Fábio Nogueira: estudante de história da Universidade Castelo Branco e militante da Educafro [email protected])


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