Terça- feira à noite, o jornal de maior audiência do país e seu apresentador soltam uma nota do comandante geral das forças armadas, Gen. Villas Boas. Em linhas gerais a ordem foi dada: as pessoas de "bem" querem justiça.

Quarta–feira, já madrugada de quinta–feira, saiu o resultado que todas as pessoas de “bem” queriam ouvir: Luis Inácio Lula da Silva vai ser preso. Falta agora o senhor juiz Sérgio Moro dar o veredicto final. Para dar continuidade ao show, Lula será exibido como prêmio da vitória. Semelhante aos caçadores de animais selvagens, todo contente ao derrubar sua caça. Graças a estas pessoas de “bem”, o Brasil finalmente voltará a ser o país da ordem, de Deus e da família.

O simbolismo da prisão do ex-presidente Lula foi um claro recado que as classes dominantes deixaram para aqueles que ousam lutar pelo direito e pela igualdade para os não afortunados da vida. Semelhantes a outros dois ex- presidentes brasileiros, Getúlio Vargas (período democrático) e João Goulart. O ex-presidente Getúlio Vargas, ao atender às demandas de trabalho, foi seriamente criticado. Não puderam derrubá-lo no período ditatorial, mas saltaram toda a ira no início dos primeiros anos da década de cinquenta, culminando no suicídio de Vargas. João Goulart queria fazer o país mais justo e igualitário, com o desenvolvimento econômico. Inventaram que Jango era comunista e foi deposto.

Setores da classe média (aquela que quer ser burguesa), não aceitam e nunca aceitaram as políticas públicas de desenvolvimento social .Nunca aceitaram em viver em pé de igualdade com os desiguais, há necessidade de demarcar territórios, pois o avanço significaria ter as mesmas oportunidades de direitos e isto, a classe burguesa média tem pavor.

Para melhor entendimento dessa (mixórdia) política brasileira, teríamos que fazer vários levantamentos pela história e entender como foi constituída a nossa sociedade e o que fez dela ser tão austera e violenta. Não ficaria assustado com o resultado.

Em meu último artigo destaquei o nordeste como uma região rebelde, no sentido de lutarem por causa tocante e sensível a qualquer pessoa que se classifica como ser humano. Por coincidência, Lula é nordestino. As revoltas de cunho popular no nordeste foram massacradas ao ponto que essas revoltas são pouquíssimo comentadas nos livros de história, por causa de seu caráter popular e as causas sociais por elas defendidas. Torço para que outros rebeldes do nordeste possam surgir e que venham mais e mais.

A minha crítica também vai para nossa não tão popular esquerda brasileira. O dia em que resolver descer do pedestal e aprender a ouvir mais o povo, ela, a esquerda, finalmente será a esquerda que todos nós queremos e sonhamos. Para ser mais realístico, acredito que tão cedo esta conscientização não ocorrerá.

Para entendermos o Brasil de hoje é preciso voltar ao seu passado escravocrata. Esse país dos senhores da casa grande ainda convive bem conosco, mesmo entre os mais incautos, está arraigada e impregnada em nosso profundo inconsciente.

Antes de criticarmos as nossas instituições, deveríamos perguntar a nós mesmos: onde guardo o senhor da casa grande dentro de mim?

Sou um sonhador e quimérico. Acredito que as gerações vindouras, oriundas de famílias tolerantes, vão dar continuidade à luta das pessoas que hoje brigam por um mundo mais justo, mais tolerante e sem ódio.

(Via Fábio Nogueira: estudante de história da Universidade Castelo Branco e militante da Educafro. E-mail [email protected])

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