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Brasil recicla apenas 20% dos resíduos têxteis que produz

Tecidos sintéticos levam de 100 a 300 anos para se decompor e o poliéster leva até 400 anos. | Foto: Francois Le Nguyen | Unsplash

Mesmo com os armários abarrotados, para muitos, parar de comprar Roupas está fora de cogitação. Nessa toada, a previsão para este ano é de que seis bilhões de peças de roupas sejam vendidas no Brasil, segundo o Instituto IEMI – Inteligência de Mercado. Os números da indústria têxtil acompanham a velocidade da chamada fast fashion, em que as roupas são consumidas e descartadas com rapidez. Esse padrão de consumo, porém, tem um grande impacto ao meio ambiente. O Brasil produz por ano 170 mil toneladas de resíduos têxteis e apenas 20% desse material é reciclado, segundo o Sebrae. O restante, 136 mil toneladas de roupas, acaba em lixões e aterros sanitários.

No maior polo têxtil do Brasil, o Brás, em São Paulo, 16 caminhões de lixo têxtil são descartados diariamente, principalmente com sobras de produção. Ainda segundo uma pesquisa do Sebrae, no mundo, o número chega a 50 milhões de toneladas de roupas que são jogadas fora a cada ano, parte delas levadas para países da África, como Gana, e da América do Sul, como o Chile. A maioria não é biodegradável.

Pesquisas indicam que tecidos sintéticos levam de 100 a 300 anos para se decompor e o poliéster leva até 400 anos. As roupas de algodão demoram entre 10 e 20 anos para se decompor. Todo esse material pode ter um destino mais nobre do que os aterros e os lixões.

O relatório A New Textiles Economy: Redesigning fashion’s future, da Fundação MacArthur, estima que mais de US$ 500 bilhões são perdidos ao ano por falta de reciclagem do vestuário. De acordo com o estudo, o setor têxtil produz 1,2 bilhão de toneladas anuais de gases do efeito estufa, mais do que todos os voos internacionais e de transporte marítimo juntos. Ainda segundo o documento, quando lavadas, algumas peças de roupa liberam microfibras de plástico, que somam meio milhão de toneladas todos os anos lançadas em cursos de água.

Moda circular

Na contramão do modelo fast fashion, a moda circular vem ganhando cada vez mais adeptos mundo afora, nas fábricas, passarelas, nas vitrines das lojas e no comportamento dos consumidores. A proposta, que já vem sendo adotada por designers, estilistas e algumas redes varejistas, é valorizar produtos com um ciclo de vida mais duradouro e sustentável, e reduzir os impactos negativos à sociedade e ao ambiente.

“A democratização da moda e a criação do modelo fast fashion, na década de 1990, mudaram o comportamento das pessoas, que passaram a consumir roupas com maior velocidade”, afirma Edson Grandisoli, mestre em Ecologia e doutor em Educação e Sustentabilidade pela USP (Universidade de São Paulo). “Hoje vivemos uma nova realidade, de rever hábitos e repensar o consumo para que possamos conter as mudanças do clima e dar mais fôlego ao nosso planeta. A economia circular é um dos principais caminhos para atingirmos esses objetivos”, completa.

Na economia circula, os resíduos se transformam em matéria-prima. | Foto: Divulgação | Plataforma Circular Cotton Code

Grandisoli é também coordenador pedagógico do Movimento Circular, que surgiu em 2020 para incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento.

Na economia circular o lixo não existe. Os resíduos se transformam em matéria-prima para as empresas praticarem o upcycling, processo que reaproveita os materiais sem perda de valor ou qualidade. “A circularidade se inspira na natureza e seus ciclos. Nela, nada se perde, tudo se transforma”, aponta o profissional.

A economia circular é uma alternativa à economia linear, baseada em extrair, produzir, usar e descartar, modelo que já se mostrou insustentável. Na circularidade, os materiais são mais duráveis e reaproveitados, até que nada vire lixo. “Para que esse modelo se torne realidade, todos nós temos um papel a desempenhar. É um círculo colaborativo, que alimenta a si mesmo, e ajuda a regenerar o planeta e nossas relações”, afirma ainda o professor. Várias empresas já abraçaram o desafio de tornar a indústria da moda mais saudável para o meio ambiente.

Bons exemplos

No CicloVivo, já foram levantadas diversas iniciativas positivas na moda. É o caso de uma coleção brasileira de xales e ponchos produzidos com sobras têxteis e da iniciativa da Puket, que transforma meias velhas em cobertores para pessoas carentes. Há ainda ações inovadoras em desenvolvimento, sendo o caso de uma francesa que está usando resíduos têxteis para fabricar tijolos.

Quando se fala em reaproveitar peças de roupas, os brechós não podem ficar de fora. E foi a partir da experiência de um adolescente que cresceu rapidamente e perdeu muitas roupas que nasceu a Ong Roupa Descolada, em São José dos Campos (SP). “Em um ano, Pedro cresceu 20 centímetros e perdeu todas as roupas e calçados. Ele imaginou como seria se pudesse trocar essas peças com outras pessoas”, conta Alinye Amorim, mãe do jovem.

A ONG Roupa Descolada nasceu por iniciativa de um adolescente. | Foto: Divulgação

Com ajuda dos professores e da Pastoral da Educação da cidade, a primeira sede da Roupa Descolada ganhou espaço na Escola Franciscana em agosto de 2020. A proposta conquistou adeptos, cresceu e, no final do ano passado, outras duas unidades foram abertas, na escola de Pedro e na paróquia da cidade. Nas escolas, o projeto conta ainda com palestras para os alunos repensarem hábitos de consumo e o respeito ao meio ambiente.

As peças encalhadas são ainda customizadas. “A camiseta não precisa virar lixo. Ela pode virar matéria-prima para uma ecobag, que vai durar mais um tempão, e depois ainda pode virar um pano de chão”, explica Alinye. A Roupa Descolada contabiliza 4 mil peças trocadas, entre roupas e calçados, envolvendo mais de 700 pessoas, o que equivale a 14 mil quilos de gases do efeito estufa que deixaram de ser lançados ao meio ambiente e economia de 20 milhões de litros de água. A ONG busca apoiadores para levar o projeto para mais escolas.

E se você possui peças de algodão em casa que não são aptas para doação, é possível descartá-las de modo a garantir sua reciclagem. Por meio da Plataforma Circular Cotton Move, você encontra os pontos de descarte disponíveis.

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