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A revolução da mobilidade já começou


Communauto: empresa tem 1.500 carros híbridos e elétricos compartilhados em Montreal – Jason Vogel

MONTREAL – No ano passado, Christiane Eid deu seu Mini de presente ao mecânico. Jovem executiva, mãe de dois garotos, ela não quer mais saber de carro próprio. Cansou das depesas com manutenção e de perder tempo em busca de vagas.

Hoje, Christiane se move de bicicleta pela bela e civilizada Montreal. Quando o uso de automóvel se faz inevitável, ela simplesmente aluga um carro híbrido, rapidamente e sem qualquer dificuldade, por meio dos sistemas de compartilhamento que existem na cidade.

— Gasto uns 3 dólares canadenses por hora (o equivalente a R$ 7,50). É tão barato que nem consigo acreditar — diz.

Christiane já vive o início do que será a mais profunda transformação no conceito de automóvel desde que Karl Benz funcionou seu Patent-Motorwagen pela primeira vez, em 1885. Nas próximas duas décadas, nos países do primeiro mundo, os Carros particulares cederão cada vez mais lugar a veículos elétricos, autônomos e compartilhados.

Esta é uma das conclusões da maratona de palestras do Movin’On, fórum internacional de Mobilidade promovido pela Michelin. A primeira edição deste seminário que se anuncia anual aconteceu há duas semanas em Montreal, no Canadá.

O próprio tipo de evento já dá pistas da revolução. Por 20 anos, a Michelin promoveu o Challenge Bibendum, misto de encontro e rali mais voltado para a parte técnica de automóveis “limpos”. Agora, o que há são discussões mais gerais sobre transporte e urbanismo.

— Evoluímos o conceito e decidimos trocar o nome para Movin’On. Queremos reunir empresas, governos, ONGs e clientes para discutir como aumentar a mobilidade sem gerar danos ao ambiente — explica Claire Dorland-Clauzel, membro do comitê executivo da Michelin.

Da conferência fazem parte políticos e figuras eminentes como Jean Todt. Engana-se quem imagina que o lendário chefão da Ferrari na Fórmula-1 (e presidente da Federação Internacional de Automobilismo desde 2009) acha que os temas em debate são coisa de ecologistas chatos.

— Quando pensamos no futuro da mobilidade, é preciso fazer uma distinção entre países ricos e pobres. Nos ricos, o mais urgente é a gestão racional do espaço, dividir o carro. E esses veículos compartilhados são híbridos, elétricos ou até, dependendo do país, não-motorizados. Nos pobres, a questão mais urgente é a segurança viária. Nesses lugares, que vivem uma motorização rápida, mas ainda têm uma infraestrutura viária sofrível, os acidentes de tráfego são a principal causa de mortes violentas dos homens e a quarta entre as mulheres — afirma Todt.

Compartilhados, autônomos e elétricos, os SAEV (sigla de Shared Autonomous Electric Vehicles) chegarão em breve e estima-se que terão custos de operação 60% inferiores aos dos carros convencionais.


Pequenas vans autônomas são cogitadas como solução para evitar os “engarrafamentos verdes” – Jason Vogel

Ex-astronauta e atual ministro dos Transportes do Canadá, Marc Garneau, compara a rapidez do processo que estamos vivendo ao ritmo das transformações do século passado.

— Meu avô só andava a cavalo, e eu viajei ao espaço. Em 1900 ninguém podia imaginar as modificações que o automóvel traria. Em 1908, a província canadense de Prince Edward Island baniu os carros por causa do barulho, do cheiro e dos acidentes. Os veículos motorizados só tiveram liberdade por lá a partir de 1919 — conta.

Hoje o Canadá aposta na automatização, nos sistemas integrados e em compartilhar carros e bicicletas por meio do smartphone. Os planos para 2030 visam modernizar o setor de transporte, favorecendo a infraestrutura. Veículos conectados e com pouca intervenção humana reduzirão as chances de acidentes, congestionamentos e poluição. Segundo o ministro, comboios de caminhões autônomos permitirão reduzir em 14% o consumo de combustíveis no transporte de carga.

— O desafio, agora, é manejar a transição dos carros atuais para os autônomos — explica Garneau.

Hoje, um em cada 200 carros no Canadá é 100% elétrico. O país está investindo na instalação de pontos de recarga de eletricidade (e até em postos de hidrogênio) para pôr mais veículos emissão-zero na estrada.

Jovens de cidades como Londres, Berlim, Tóquio, Barcelona e Paris vêm perdendo o interesse em tirar carteira de motorista. Marcas de automóveis começam a se converter de fábricas a provedoras de serviços de mobilidade para não tomarem o mesmo caminho de Kodak e Olivetti.

Grégoire Olivier, vice-presidente de serviços de mobilidade da PSA Peugeot Citroën, fala sobre essa sinuca enfrentada pela indústria:

— Os engarrafamentos e a redução dos espaços para estacionar são um problema global e já estamos no meio desse tsunami. Os fabricantes precisam encontrar novos parceiros e se transformar em fornecedores de sistemas de compartilhamento.

Olivier explica que usar o car sharing deve ser sempre mais barato do que andar em táxi. Um exemplo são os 500 Citroën C0 (elétricos) que já são compartilhados em Madri.

— Menos gente comprará carros, teremos mais compartilhamento — prevê Olivier. Nesse novo mundo e diferente, a “inteligência das coisas” será fundamental. — Todos os carros terão que se tornar mais ou menos autônomos na próxima década. Imagine 2 milhões de carros conectados, conversando entre si. Quando o ABS de muitos veículos entrar em ação em algum ponto da estrada, saberemos que há um problema de infraestrutura viária ali — exemplifica o francês.

Guillaume Gerondeau, diretor de transporte e mobilidade da Dassault Systèmes na Ásia, é outro que diz que já estamos em meio a uma mudança sem precedentes.

— O automóvel é grande demais para um veículo que fica sem uso 95% do tempo, mas ainda é o modo mais eficiente de transporte, pois nos leva diretamente de um ponto a outro no momento desejado. Parafraseando Churchill, o carro é o pior meio de transporte, exceto todos os outros — brinca Gerondeau.

Para ele, o carro sobreviverá, ainda que de uma forma bem diferente. A experiência de andar neles também mudará bastante. Os autônomos nível 4, bem automatizados, começarão a chegar ao mercado em 2020. À medida que se tornarem comuns, mais pessoas adotarão os serviços dos autônomos compartilhados: — Creio que esse novo tipo de mobilidade se dará, inicialmente, nos subúrbios de países desenvolvidos. O Japão terá vans autônomas sob demanda no campo. Nos grandes centros de países menos desenvolvidos será mais complicado, dada a alta densidade populacional. Cada local precisará de uma solução.

Para Gerondeau, com o passar do tempo, o cidadão comum não comprará mais carros. E se o compartilhamento é inevitável, os fabricantes terão que aderir.


car2go: de fabricante, a Daimler passa a fornecer serviços de mobilidade – Jason Vogel

A Daimler AG, por exemplo, já tem sua própria a subsidiária de compartilhamento de carros: é a car2go, cuja filial em Montreal aluga pequeninos Smart por toda a cidade. Pagamento, busca de carros disponíveis, abertura de portas: tudo é feito por meio de um aplicativo no smartphone.

Pode-se levar o Smart do ponto A ao B, sem retorná-lo ao lugar de partida. Os preços podem ser de 41 centavos de dólar canadense (R$ 1) por quilômetro ou 15 dólares canadenses (R$ 37) por hora. O estacionamento é grátis.

Mas a mais popular empresa do ramo em Montreal é a Communauto, que hoje hoje só trabalha com automóveis elétricos ou híbridos. São, quase todos, Nissan Leaf e Toyota Prius, e sua conservação é muito melhor que a dos Autolib’ parisienses.

Os carros prateados da Communauto estão por toda Montreal. São 1.500 automóveis (contra 4.500 táxis convencionais na cidade), que podem parar em vagas proibidas a carros particulares. Os preços para associados começam em 2,20 dólares canadenses por hora (R$ 5,50). Os pagamentos podem ser feito com uma espécie de Riocard local e, em breve, a tarifa poderá ser combinada à das bicicletas compartilhadas Bixi, também muito populares e fáceis de se usar.


Bixi: as bicicletas compartilhadas de Montreal funcionam bem – Jason Vogel

Os aplicativos são citados por vários palestrantes como solução para o transporte.

— Plataformas que concentrem informações reduzirão congestionamentos e poluição — imagina Susanna Zammataro, diretora da Federação Internacional de Estradas (IRF), com sede em Genebra.

E há a vertente do finlandês Sampo Hietanen, CEO da MaaS Global, tido como pai do conceito de “mobilidade como serviço”. Com uma taxa mensal, o usuário poderá usar todos os tipos de transporte compartilhado: carros, táxis, ônibus, bondes, metrôs, trens e bicicletas. Um aplicativo mostrará quais são as combinações ideais e mais rápidas para se ir de A a B. Nessa visão, as pessoas não terão mais carros particulares, mas sim seu operador de mobilidade preferido.

— O mundo hoje está completamente errado: maus governos, poluição, qualidade de vida ruim. Quando vemos caminhões engarrafados, jogando emissões de diesel no ar, sabemos que temos um problema. Algo tem que ser feito já. Não há essa opção do “e se não der certo?” — sentencia o suíço Bertrand Piccard, que foi aplaudido de pé após sua palestra no Movin’On. Balonista e psiquiatra, ele deu a volta ao mundo no Solar Impulse 2, um avião com quatro motores elétricos movidos a energia solar. — Todos diziam que era impossível, mas conseguimos fazer a aeronave mais eficiente da história da aviação.

O setor de transportes está sendo atingido por um tsunami digital que apenas começamos a perceber. Muitas questões, contudo, ainda precisam ser respondidas.

— Nos países emergentes, sempre houve o sonho do carro próprio. Agora, simplesmente, como dizer não? — pergunta o português José Viegas, secretário-geral do Fórum Internacional de Transportes (ITF), organização que reúne 59 países em discussões sobre mobilidade.

O compartilhamento acabará com a necessidade de compra de um automóvel. Os custos serão muito menores, bem como a percepção de tempo perdido com abastecimento, manutenção e vistorias. Tanta facilidade poderá multiplicar o uso do carro, criando “engarrafamentos verdes”. — A solução? É preciso que cada carro leve múltiplos ocupantes. Acredito no uso de pequenos ônibus autônomos sob demanda (“taxibus”), sem baldeações e por preços baixos. Com isso, teremos menor volume de tráfego, sem congestionamentos e com melhora no acesso ao transporte. Podemos fazer isso com apenas 4% dos veículos existentes hoje, reduzindo radicalmente o espaço usado como estacionamento — imagina Viegas. — Tudo muito diferente do que temos hoje. São mudanças em massa com muitos obstáculos.

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