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Estupidamente longa dissertação sobre fulanos com a mania que sabem tudo e, essencialmente, sobre um desencanto geral com a minha vida, em particular.

Do vastíssimo leque de coisas apreciáveis que eu, de facto, aprecio, estão os, como hei-de defini-los, tipos que têm a mania que Sabem tudo.

Esses, de facto, impressionam-me.

Então quando opinam sobre o que eu deveria ter já feito, em dada altura, com um tom que me faz pensar nos tais episódios da Ally McBeal em que lhes aplico um rotativo no incisivo superior direito, é o delírio.

O que me faz apreciar estas supremas inteligências é que nada sabem da minha vida. Não sabem se durmo 10 horas ou apenas 5, não sabem se trabalho 8 horas por dia ou se trabalho 12 ou 13.

Também não sabem se tenho acesso fácil ao que preciso para fazer o que me estão naquele momento a exigir.

Também não fazem ideia se eles próprios estão em falta com alguma coisa.

E é neste contexto de ignorância/ligeireza que me vejo.

E é neste momento que me pergunto: se eu já tenho que aturar tanta aventesma nesta vida, porque razão aturo mais esta?

"Ah, e tal, é por um futuro melhor" - diz a minha personalidade mais crédula e ingénua.

"Qual futuro melhor qual quê" - diz a mais lúcida das minhas personalidades.

"Cala-te" - diz a primeira.

"Vai mamar" - diz a segunda.

E nisto pegam-se à pancada.

Não tenho um minuto de sossego, com estes dois.

Esta semana lembrei-me de filosofar um bocado, acerca de pirâmides e até das caravelas portuguesas dos Descobrimentos, vejam bem o portento de cultura que eu sou.

Toda a gente fala das pirâmides dos faraós egípcios. Lembro-me perfeitamente de diálogos corriqueiros entre reformados octagenários, sentadinhos no parque da cidade, só eles e as suas algálias:

"Está cá um sol que parece o Egipto, das magnânimes pirâmides dos farós, para que é que precisamos de ir à praia, se aqui também ficamos tostados..."

"Precisamente o que eu estava a pensar, enquanto estava aqui a pensar em 1979, ano em que tive a minha última erec... Irequess... Arec... Hã, Oi?, Quê? Quando? Como? Onde?"

Do mesmo modo, também as esposas octagenárias daqueles anciãos dissertam à janela, em dias de ventania, enquanto fazem ponto cruz:

"Xiiiiiiiiiiiça, a ventania que está, ora esta ora esta, com esta nortada é que o Pedro Alvares Cabral se punha no Brasil em menos de um mês, na sua caravela a 3 tempos".

"Precisamente o que eu estava a pensar, enquanto estava aqui a pensar no ano de 1979, ano em que o meu marido teve a sua última erec...Irequess... Arec... Hã, Oi?, Quê? Quando? Como? Onde?"

Isto para dizer o quê?

Toda a gente fala das pirâmides. mas ninguém se lembra que foram os escravos que as fizeram.

Toda a gente fala da chegada dos portugueses à Índia e ao Brasil. Mas quem remava nos dias em que não havia vento, e quem era largado borda fora quando faltava comida eram os coitados dos escravos, também.

Cada um para o que nasce, começo a pensar...



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