Ia eu a pensar na minha vida, em pleno autocarro em hora de ponta, quando ouço esta conversa:
- Jovem, és azeiteiro, parôlo até dizer chega, e almejas a um lugar ao Sol, sempre teu?
- Sim, esse sou eu. Sim almejo. Oh, sim, sim, almejo tanto.
- É simples, jovem. O teu problema é de fácil resolução.
- É?
- É.
- Não, é?
- Sim, é.
- Quem é que eu tenho que matar?
- Ninguém.
- Por quem é que tenho que passar por cima?
- Ninguém.
- Mau.... É de desconfiar.... A quem é que eu tenho que enganar, levando a pensar que gosto muito dele só para subir na vida?
- A ninguém, jovem azeiteiro.
- Aiaiaiaaiaii, mau Maria. Então.... Já sei, já sei, e se eu fingir que me farto de bulir e ainda faço camisolas em lã para dar aos pobres, aos Sábados de manhã?
Espera, espera, e se eu soltasse uma lagrimazita e tremesse o lábio inferior, como o Arafat fazia, só para tocar as pessoas no coração?
- Também não, jovem bimbalhão.
- Então não sei, desisto.
- Tens que, e anota isto, trabalhar.
- Trab.. trav... carval... hã? Isso é o quê?
- Eu faço o obséquio de te explicar.
- Obséquio? Isso é o quê?
- Eu faço o favor de te explicar. Ou trabalhas, ou mais cedo ou mais tarde, até as aventesmas acéfalas deste mundo topam o que és. E aí, jovem ogre, estás fodido da tua vida.
- Não...
- Sim...
- Não...
- Olha que sim....
E nisto, era a minha paragem. E lá fui eu, a cheirar ao sovaco do senhor Joaquim, a peça nº 18 do lego humano que são todos os autocarros em hora de ponta.
Conversa da treta
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