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Vício em games será considerado transtorno de saúde mental

A nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, a CID-11, tem previsão para entrar em vigor em 2022. Anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a décima primeira revisão traz mudanças como a inclusão do distúrbio de games como um problema de saúde mental.

Com a nova revisão, o vício em jogos eletrônicos entra para a lista de distúrbios de saúde mental sob a nomenclatura “Distúrbio de games” (Gaming disorder). A classificação por parte OMS visa ajudar governos, agências de saúde e pais a identificar riscos e promover tratamentos a esse distúrbio.

Sintomas como o aumento da prioridade dada aos jogos, que passam a prevalecer sobre outras atividades e áreas de interesse da vida pessoal e social, caracterizam esse distúrbio. Além desse sintoma, outros podem ser identificados como a perda de controle sobre aspectos relacionados aos jogos, como duração e frequência das sessões; e a continuidade do vínculo com jogos mesmo com consequências negativas como o impacto na vida profissional, educacional, social e familiar.

A CID tem como função monitorar a incidência e prevalência de doenças por meio de uma padronização universal.

É uma dependência?

De acordo com a psiquiatra Júlia Machado Khoury, pesquisadora do Centro Regional de Referência em Drogas (CRR) da Faculdade de Medicina da UFMG, ainda que a dependência não seja química, como no caso das drogas, o modo como ela afeta o indivíduo é similar. “Da mesma maneira que um dependente químico precisa usar uma dose cada vez maior para atingir o mesmo prazer, desenvolvendo o que chamamos de tolerância, acontece com os dependentes de jogos ou tecnologia”, explica a pesquisadora. No caso dos jogos, a tolerância leva o indivíduo a passar intervalos de tempo cada vez mais longos jogando.

Outra similaridade entre as dependências é a abstinência. Irritabilidade, ansiedade, insônia e até mesmo tremores podem aparecer quando essas pessoas ficam afastadas dos jogos por longos períodos. Todos esses sintomas também são observados em usuários de drogas. Segundo Júlia, isso ocorre devido a liberação de dopamina, o hormônio do prazer, no cérebro. “É isso que, para as pessoas com predisposição, leva à dependência. Inicialmente, ela vai em busca dessa liberação de dopamina para sentir prazer novamente, para diminuir os sintomas de abstinência que ela sente quando se afasta da atividade”, explica.

Quanto aos fatores de predisposição, a pesquisadora explica que a dependência de jogos afeta predominantemente indivíduos do sexo masculino. Além disso, há dois traços de personalidade predominantes: o de personalidade impulsiva e o de busca de sensações. Nesses casos, as chances de ela procurar uma atividade como essa e se encontrar numa situação de dependência são maiores, pois essas pessoas têm maior dificuldade de controlar os impulsos e adiar o desejo pela sensação de recompensa causada pela liberação da dopamina.

Como tratar?


Ao identificar um comportamento vicioso, deve-se sempre procurar um profissional da saúde mental. De acordo com a pesquisadora Júlia Khoury, existem três pilares para o tratamento do vício em jogos: com o psicoterapeuta, o psiquiatra e em grupos de apoio. “A terapia cognitiva comportamental pode ajudar o paciente a identificar os motivos que levaram ao início do comportamento, bem como os gatilhos. Porque, muitas vezes, a pessoa se afasta do jogo, mas passa por lugares que a lembram da atividade, ou continua com os mesmos amigos. Com isso, ela tem chance de sofrer uma recaída”, alerta.

Já o tratamento psiquiátrico se dá pela prescrição de medicamentos que ajudam a reduzir a impulsividade, a agressividade e a controlar os sintomas da abstinência. Assim, é possível ajudar o paciente a passar pelo período de afastamento e a manter o tratamento sem sofrer recaídas. Há ainda o grupo de apoio Jogadores Anônimos que, em Belo Horizonte, é realizado na Igreja de Santo Antônio, na Avenida do Contorno. “O grupo também propicia encontros para os familiares dos dependentes, que são pessoas que também sofrem muito em função do vício de um ente querido”, pontua Júlia.

Assim como acontece com as dependências químicas, a dependência comportamental também tem altas chances de recaída. E mesmo com o tratamento, o estímulo para continuar a atividade em níveis nocivos continua alto. “O dependente sempre vai ter consigo uma doença, pois a dependência, seja ela química, psicológica ou comportamental, é uma doença crônica, ou seja, nunca se cura. A pessoa pode ficar vários anos, até mesmo a vida toda sem ter contato com o vício, mas ela continua predisposta”, diz.

Como saber

Em 2017, mais de dois bilhões de pessoas fizeram uso frequente de jogos eletrônicos, sendo 205 milhões deles latino-americanos. Entretanto, diferentes estudos apontam que apenas cerca de 3% dos jogadores podem ser considerados viciados. Como diferenciar, então, uma preferência saudável pelo hobby de um distúrbio?

Segundo a psicóloga e pesquisadora Júlia Khoury, a dependência costuma estar ligada a restrição e precarização de todos os aspectos da vida, como piora no desempenho escolar ou profissional, afastamento de familiares, amigos e cônjuges. “O que não é normal é o jovem abandonar as atividades que ele fazia antes, começar a faltar às aulas, abandonar os grupos de amizades, deixar de realizar atividades básicas do dia-a-dia, como comer, dormir ou tomar banho”, esclarece.

Assim, a melhor maneira de se identificar um comportamento obsessivo é por meio da comparação do comportamento antes e depois do início do contato com os jogos, para identificar o aumento de fatores como agressividade, irritabilidade e isolamento. “Através dessa comparação, é possível identificar se existe a necessidade de procurar os profissionais de saúde mental em busca de um diagnóstico”, finaliza Júlia.

De: Faculdade de Medicina UFMG



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