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Revolução bioindustrial para a Amazônia

É viável criar produtos baseados na biodiversidade com alto valor agregado, capazes de suprir mercados globais. O açaí move uma indústria de bilhões de dólares

POR CARLOS NOBRE / JUAN CARLOS CASTILLA-RUBIO

O modelo econômico insustentável das últimas décadas na Amazônia, baseado em mudanças no uso da terra, desmatamento e frequentes incêndios florestais, somado a eventos climáticos extremos que afetam a região, provoca estragos irreversíveis na floresta. Atuais modelos climáticos dizem que até 2050 metade da floresta amazônica pode se transformar em savanas degradadas ou florestas sazonais, mais secas e pobres em biodiversidade e biomassa. Se o aquecimento na região ultrapassar 4º C, ou mais de 40% da floresta forem desmatados, atingiremos a ruptura do equilíbrio floresta-clima.

Só uma mudança revolucionária de paradigma poderá reverter esse destino. É o que defendemos em recente artigo da revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

Urge criarmos um modelo de desenvolvimento, diferente de tentar conciliar conservação com intensificação agropecuária e expansão da hidroeletricidade. E a chave para isso está nos ativos da biodiversidade e da biomimética, por meio de uma Quarta Revolução Bioindustrial.

O primeiro passo é termos um plano de inovação em grande escala e que seja socialmente inclusivo e de sólida base científica e tecnológica. O uso econômico dos ativos biológicos a partir da pesquisa tecnológica avançada da Quarta Revolução Industrial (genômica, edição de genes, nanotecnologias, inteligência artificial, robótica, internet das coisas, blockchain) deve também dialogar com os povos indígenas e comunidades tradicionais, detentores de recursos e saberes tradicionais.

Mesmo com tecnologias mais simples, é viável criar produtos baseados na biodiversidade com alto valor agregado, capazes de Suprir Mercados Globais. Veja o açaí, que move uma indústria de bilhões de dólares.

Há outros casos, como o alcaloide spilanthol — presente no jambu, planta dos quintais amazônicos —, descrito em patentes para anestésicos, antirrugas e anti-inflamatórios. Coletado em toda a região, o óleo da copaíba pode estar na formação do eixo químico fluorine-xylo de cosméticos e fármacos.

Apontamos inovações usando tecnologias da Quarta Revolução Industrial que imitam formas naturais da floresta, processos, moléculas, materiais e ecossistemas capazes de agregar valor para a bioindústria. Sabemos como os organismos percebem o ambiente por meio de sofisticados sensores, como se movem a partir da biomecânica e da cinética.

A floresta reproduz sistemas biológicos complexos e soluções biomiméticas em escala nanomolecular. Ela nos ensina processos ambientais amigáveis, indicando tecnologias antipoluição, de produção de energia e elaboração de bioestruturas têxteis a partir dos seres vivos.

A rã-túngara, que cria uma espuma de longa duração, pesquisada para geração de energia e captura de CO2. Sem falar das plantas que influíram no modelo de célula solar, alternativas ao silício.

Mas, para aproveitarmos esse potencial de mudar o rumo da história na Amazônia, temos de unir esforços públicos, privados, filantrópicos e da academia em uma coalizão de grande escala. Unir atores públicos e privados no Brasil e nos países amazônicos em torno dos melhores centros de pesquisa e desenvolvimento, universidades, startups, empresas visionárias e governos e com a participação dos povos da floresta da região. Isto é o futuro.

Carlos Nobre e Juan Carlos Castilla-Rubio são cientistas




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