Por Maior que seja a teatralização que a direita faça sobre o Orçamento, por mais incendiárias que sejam as atoardas que sobre ele apareçam na imprensa que essa direita tem ao seu serviço, por maior que seja o entusiasmo da esquerda que o é sobre o inegável sucesso que obteve na inversão do caminho de injustiça Social que conseguiu introduzir-lhe, bastará prestar atenção a como decorreu a sessão parlamentar de ontem para verificar que o que se discutiu não foi muito mais do que diferenças de 0,1 e 0,2% do PIB e que o défice orçamental previsto está abaixo e não acima quer do tecto de 3% do PIB imposto pelas regras do euro, quer da melhor performance orçamental alguma vez conseguida pelo anterior Governo.
Como tal, é um absurdo chamar "brutal aumento de impostos" a uma pequena recomposição da estrutura fiscal comprometida com o objectivo de introduzir alterações nas suas parcelas com um significado enorme, entre outros, sobre a vida das pessoas, sem contudo alterar significativamente o total arrecadado.
E é um absurdo ainda maior dizer que a austeridade acabou ou que foi sequer aliviada porque, olhando para o país como um todo e não para as parcelas que o compõem, a austeridade em 2016 será ainda maior do que a de 2015. Se o que nos andaram a dizer ao longo de todos estes anos sobre a predilecção que os mercados têm pela austeridade se mantiver, se for verdade que esses mercados que tudo sabem, e com toda a certeza também sabem o que se lê atrás, se acalmam quando a austeridade aumenta, os juros da dívida portuguesa deveriam estar a descer e não a subir, como se lê na notícia-delícia do dia da direita e dos seus corneteiros da comunicação social.
Ao contrário do que a imaginação destas criaturas possa vomitar sobre as consequências de um Orçamento que, sim ou sim, será de austeridade, o que esta escalada de juros demonstra mais uma vez é a dimensão da patranha que andaram a vender aos portugueses com o objectivo de convencer a opinião pública a aceitar uma agenda de reconfiguração social que enriqueceu uma pequena minoria empobrecendo todos os demais.
Os senhores de Berlim e de Bruxelas bem podem vir agora exigir ainda mais austeridade, como se lê na outra notícia que complementa a delícia destes patriotas. De uma vez por todas, esta Europa é uma mentira enquanto projecto de desenvolvimento económico e social, este euro é um instrumento de dominação que nos transforma numa colónia que deverá eternamente obediência ao império da grande finança, o Tratado Orçamental é um instrumento de subjugação arquitectado à medida da nossa escravização (ler aqui) e quem diga ou defenda o contrário um dia será julgado por ter colaborado com toda esta monstruosidade. E sim, o tempo irá encarregar-se de demonstrar como tudo isto a que hoje assistimos foi o crime do milénio.