A Revista Veja nessa semana publicou entre suas páginas, sem muito destaque interno, um perfil da candidata a futura primeira-dama Marcela Temer com o título que aqui repito: Bela, Recatada e "Do Lar". Virou um meme automático.
Sem controle da revista nem seu marketing, propagaram-se mil versões ironizando sobre a ironia incompreendida do título (eis o papel das aspas) na revista. Memes são assim, ideias que ganham vida própria entre aqueles que as compartilham. A descrição da vida de Marcela virou uma apologia feita pela Veja (apesar das aspas).
A resistência partiu de fanpages do Facebook (sempre ele a alimentar debates distraídos em feriados...) revoltadas com o que seria anacrônico, afinal caberia, como muitos disseram, em um perfil de meados do século XX, não após revolução sexual, a inserção da mulher no mercado de trabalho, amadurecimento do feminismo etc.
É interessante a vigilância diária que surge em redes sociais contra qualquer deslize que limite a autonomia feminina. Por mais que o debate seja efêmero (amanhã surge outra notícia de utilidade duvidosa), é sempre bom praticar a própria autonomia.
E que, como bem ensina o filme O Sorriso de Mona Lisa, a autonomia vem para até poder escolher ser bela, recatada e do lar, mas não como mera obrigação, repressão política, jurídica ou moral.
Fica uma dica para as Mulheres indignadas com a Veja. Podem procurar informações sobre as 200 meninas que estão há mais de um ano sequestradas e têm sido vendidas por uma organização que controla parte da Nigéria. Depois, podem conferir os números de apedrejamento de mulheres no Irã e no Paquistão e os estupros coletivos do ISIS (Estado Islâmico) na Síria e arredores.
Voltando ao Brasil, podem pesquisar sobre as mulheres que são vítima de violência doméstica aos milhares em todo o país apesar da legislação cada vez mais severa. Querem mais assunto? Podem conferir a situação das mulheres que morrem em clínicas clandestinas realizando abortos no país.
Todas belas, recatadas e do lar. Cada uma à sua maneira.