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A Copa do Mundo é um evento político

Há uma falsa dualidade antiga, desde que a TV começou a transmitir Copas do Mundo de Futebol, consiste em quem fica sob indignação por alienação provocada por eventos como esse, fazendo o povo ficar alheio à política. Se isso foi verdade um dia, hoje não passa de anacronismo, um argumento que não responde ao tempo atual. A própria Copa do Mundo é um evento político.

Assim como a Copa brasileira foi um espelho do superfaturamento de obras, com o país sob crise pagando por estádios faraônicos para alegria dos contratos com empreiteiras, a Copa russa tem a precisão típica de governos autoritários. Como o documentário Icarus da Netflix mostrou, foi justo o Comitê Olímpico Internacional tirar a Rússia das competições das Olimpíadas, devido ao doping com participação estatal. Por que pouco depois uma Copa naquele país? Considerando a situação jurídica de representantes da FIFA, não há porque se surpreender. É como pensar na importância para o futebol mundial que tem fazer a próxima Copa em Dubai. Hoje, com acesso instantâneo, fácil e plural às informações, podemos refletir sobre cada detalhe da política institucional envolvida, o que nem sempre foi possível. 

Antes do começo dos jogos na Rússia, foi constrangedor o Itamaraty ter divulgado uma cartilha para cuidados de homossexuais naquele país, por uma lei que criminaliza a homossexualidade. Tivemos uma resposta curiosa, com não russos mas brasileiros ficando famosos no mundo por atos de misoginia contra mulheres, filmando russas falando palavras obscenas em português para humilhação pública e publicando em suas redes sociais. Heterossexuais foram o problema, não gays. Foi nas redes sociais de torcedores brasileiros que mensagens racistas e ameaças surgiram contra jogadores negros, principalmente contra jogadores brasileiros negros. O inferno não são os russos, somos nós mesmos.

Por falar nisso, um grupo de amigos mostrou que protestar permite demonstrar formas de criatividade ao enfrentar essa limitação durante a Copa com um gesto simples. Caminhando com camisas que unidas mostravam a bandeira do movimento LGBTQ, espanhois fizeram o que chamaram de The Hidden Flag, caminhando pelas ruas de Moscou em defesa da diversidade sexual (para detalhes, clique aqui).


Para falar sobre atletas, foi relevante a frequência com que injustiças sociais de seus países fossem divulgadas. O jornal francês Le Monde constatou que 7 dos 11 titulares foram criados por suas mães sem os pais biológicos (clique aqui para ler a reportagem). De modo semelhante, para a final da Copa do Mundo, tem sido divulgado que a seleção da França, multiétnica, representa na ascendência dos seus atletas 15 países e que a Croácia é em sua maioria de filhos da guerra que dissolveu a Iugoslávia. A Geopolítica mundial com as contradições internas de cada nação não ficam em nada distantes da Copa do Mundo.

A presença de mulheres na torcida do Irã assim como pela primeira vez locutoras acompanhando os jogos foram  demonstrações de que o futebol está mudando. Contamos no Brasil com a primeira equipe inteira de comentaristas em uma emissora, porém as mudanças vão mais longe. A presença de uma jornalista na cobertura da maior emissora brasileira poderia ser notícia, mas a sua homossexualidade aumenta a relevância. Fernanda Gentil, consciente da representatividade que exerce, respondeu diversas perguntas em diversos programas da Rede Globo sobre as limitações a homossexuais naquele país. 

Se alguém ainda insistir que futebol é alienação, ouça seu radinho de pilha ouvindo discos de vinil e reclamando que bom mesmo era em seu tempo, alheio às transformações sociais. O tempo não pára, o futebol também não. 

Em tempo, parabéns ao treinador brasileiro Tite não apenas pelo bom trabalho (apesar da eliminação), mas por ter declarado sobre a seleção ser recebida por Michel Temer no caso de vitória na Copa: "Não vou para Brasília nem antes nem depois da Copa". Um discreto Fora Temer para reforçar a política no evento.


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