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O Oscar em que "se celebra o que significa viver"


As conquistas simbólicas para a diversidade étnica e sexual foram muitas no Oscar nesse ano. Primeira mulher negra a ganhar um Oscar, Tony e Emmy (Viola Davis), primeiro muçulmano a ganhar um Oscar (Mahershala Ali), uma sucessão de filmes sobre negros e homossexuais oprimidos, uma história baseada em fatos como melhor filme, um iraniano premiado que não vai ao prêmio em protesto contra Trump e em solidariedade a outros impedidos de entrar no país...


Viola Davis resumiu todo este contexto com seu discurso, em que celebrou a bênção de fazer parte da "única profissão em que se celebra o que significa viver". Mas não para por aí. Contei três premiados que agradeceram aos seus professores. 

No erro, mais um símbolo de luta. Entre um filme que luta entre o sonho e a realidade na construção da vida (La La Land) e uma realidade quase proibida de sonhar (Moonlight), a sequência final do primeiro foi reproduzida involuntariamente no Oscar tirado das mãos dos seus produtores e as dificuldades para ter conquistas do segundo se repetem com um prêmio entregue aos tropeços em um palco cheio de constrangidos. 

O discurso do diretor, Barry Jenkins, apenas foi publicado online dias depois na imprensa americana:

"Tarell [Alvin McCraney] e eu somos Chiron. Nós somos aquele menino. E quando você assiste Moonlight, você não pensa que um menino que cresceu como e onde nós crescemos iria crescer e fazer um produto artístico que venceria um Prêmio da Academia. Eu disse isso várias vezes, e o que eu tenho que admitir é que eu coloquei esses limites em mim mesmo, eu neguei esse meu sonho. Não vocês, não outra pessoa - eu. E então, para qualquer um vendo isso que se vê em nós, que isso seja um símbolo, um reflexo que leve você a se amar. Porque fazer isso pode ser a diferença entre sequer sonhar e, de alguma maneira através da graça da Academia, realizar os sonhos que você nunca se permitiu ter. Muito amor."

Na coluna Gay Nerd do Omelete, Igor Esteves de Oliveira mostrou um aspecto do porquê de Moonlight ser tão relevante. Não se trata apenas de um filme lindo, poético sobre vidas escondidas na periferia e impedidas de serem felizes, mas da oportunidade rara para com pouco orçamento tão bem investido mostrar a construção desde a infância de dores que homossexuais vivem constantemente. Sem que a vida gay pareça precisar passar por boites, plumas, roupas femininas em todos os casos, não, mas com tristeza que o jornalista dizia que podia conversar com seu companheiro enquanto assistiam ao filme sobre aspectos de suas vidas agora ficarem mais claros um para o outro (para ler o ótimo texto, clique aqui).

Independente das piadas e dos protestos contra o presidente dos EUA, os filmes falaram muito mais sobre política quando mostraram pessoas em suas dores, sendo um prêmio nesse ano com espaço para grandes histórias do cotidiano. 

Com três mulheres oprimidas por serem negras e mulheres (e a última viva das personagens sendo homenageada no Oscar), com um homem de luto sem espaço para superação do que sente mas aprender a conviver com sua situação, com um adventista lutando sozinho para salvar vidas no meio de uma guerra (e seu gesto sendo a coisa mais irracional daquela história enquanto pessoas são esmagadas...), com um casal tentando a sorte com um amor afundando (e usando-se a linguagem feliz de um musical para mostrar isso), Moonlight vence no quesito tristeza poética sobre a realidade.

Para quem considerar que foi muito politizado, está na história do cinema a conquista dos oprimidos, a dor dos humilhados, desde o começo do século XX. Quando os grupos em desvantagem ganham voz para terem como intérpretes na arte seus próprios integrantes, aqueles acostumados a mandar e pisar há gerações se incomodam e querem a fantasia pela fantasia, reclamam do "politicamente correto" de não poder ofender livremente, reclamam da pobreza na tela grande, reclamam porque não são mais os únicos a aparecer com final feliz.

Como é dito no filme em um dos muitos momentos inspirados, todos têm direito à luz do luar. 


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