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Entrevista - Soninha Francine (política)

Tags: francine
Foi uma luta. Mas valeu a pena. Há algumas semanas que os contatos foram iniciados, mas Soninha Francine simplesmente não pára. Durante este período esteve na Alemanha para participar como jurada do prêmio The Bobs! (que inclusive teve entre os seus finalistas um parceiro deste blog, o Catatau), na volta, atividades que se dividem entre ser colunista da Folha de São Paulo, apresentadora da ESPN Brasil, vereadora (PT/SP), Soninha dribla o trânsito a bordo de sua Vespa PX 200 e ainda encontra tempo para ser diretora e professora-voluntária da "Sala 5" uma Oscip e ocupar a presidência do Instituto Gol Brasil.

Soninha ainda mantém um blog e um site que vocês podem conferir aqui.

Quero fazer um agradecimento especial a Tathiana Alselmo que acreditou no projeto deste blog e contribuiu, e muito, para que esta entrevista fosse realizada.

M. Pimenta - Você participou como jurada de um concurso internacional de blogs, o The Bobs! Qual foi a sua impressão dos blogs brasileiros em termos de conteúdo?

S. Francine - Como a gente já se acostumou a constatar em várias outras áreas, uma das nossas principais características é a variedade. Por aqui tem de tudo: ativismo, crônicas do cotidiano, depoimentos mais pessoais, humor, notícias e comentário sobre a mídia... Muitas vezes no mesmo blog! É verdade que isso também acontece em outros países, mas em alguns há um traço mais dominante: ativismo, por exemplo.

M. Pimenta - Os blogs vieram para ficar. Como você vê essa relação entre escritores amadores que usam o blog como ferramenta jornalística e o jornalismo da forma que conhecemos?

S. Francine - Essa "forma que conhecemos" está passando por mudanças impossíveis de conter... Hoje, ela consiste, simplificadamente, de meia dúzia de grandes grupos de comunicação que mantêm alguns veículos de alcance/circulação nacional (jornais, revistas, rádio, TV, portais de internet) que influenciam uma barbaridade -- ainda que sejam poucos os que efetivamente leiam jornais e revistas, a mídia é muito auto-referente, e você acaba lendo o que saiu na Veja porque vai repercutir no Jornal Nacional e assim por diante. Esse formato não vai deixar de existir tão cedo, mas a coexistência com o mundo dos blogs - muito mais diversificado e dinâmico, de propagação incontrolável - redunda em abalos interessantes na estrutura... O blog permite mil pontos de vista; é "fácil e rápido" como o rádio e rico (em termos de recursos visuais) como a TV. A cobertura de um evento como o 11 de setembro, por exemplo, ganha contornos muito diferentes quando conta com os depoimentos de vários jovens que estavam lá na hora e nos oferecem seus testemunhos pessoais.

M. Pimenta - O que você considera um bom blog?

S. Francine - Se for bem escrito, seja lá qual for o assunto, não precisa de muito mais do que isso... Mas gosto também quando tem fotos ou outro tipo de imagens, quando traz várias referências cruzadas e links e informações de várias fontes, quando tem senso de humor (o que eu aprecio muito).

M. Pimenta - O termo "liberdade de imprensa" tem sido utilizado como um guarda-chuva para que diversos canais de comunicação levantem acusações e julgamentos sem possuírem provas concretas sobre o assunto tratado. De que forma você vê esta situação? Já era algo constante na nossa imprensa ou se intensificaram nos últimos anos?

S. Francine - Não tenho certeza, talvez seja assim há muito tempo... Ou talvez fosse algo mais associado a tablóides e outros meios que não se consideravam mesmo muito sérios, enquanto agora está presente em veículos que se pretendem "respeitáveis". Havendo liberdade de imprensa, como tem de haver, é óbvio que ela tem de responder pelo que publica. Quando há censura prévia, há um controle (indesejável, não custa insistir) do que pode ou não ser publicado. Quando você publica o que bem entende, tem de ser responsável pelo que diz - e estar pronto para enfrentar críticas e até ações judiciais, se for o caso. Hoje em dia, parece que criticar a mídia equivale a querer a volta da censura... Ou que processar um jornalista significa ser contra a liberdade de imprensa. O direito de recorrer ao judiciário (contra uma calúnia, por exemplo) também é algo intrínseco à democracia....

M. Pimenta - A América Latina sempre teve grandes escritores. Como você vê a evolução cultural da América Latina atualmente?

S. Francine - Tenho receio em falar em "evolução", porque não sei bem o que definiria assim.

M. Pimenta - Recentemente, discuti com meus leitores sobre a má formação proporcionada pelas faculdades, mais notadamente as instituições particulares, e a conseqüente ausência de postura política dos estudantes. Salvo raras exceções, isto tem sido uma regra. Como você vê esta situação?

S. Francine - Acho que o problema não é das faculdades (e o cenário nas públicas não é necessariamente muito melhor do que isso). O problema é ter se disseminado na sociedade como um todo a idéia de que política não serve pra nada, política é chato, é um mal, é uma atividade propensa a ilicitudes... A culpa por isso? Da própria classe política, que dá motivos e mais motivos para a repulsa; a mídia, que cobre política muito mal (ou reproduz o jargão incompreensível, a discussão descontextualizada, ou se atém apenas às denúncias); às pessoas que, ao mesmo tempo em que dizem "detesto política e os políticos", não fazem nada para mudar o cenário - muito pelo contrário, acabam ajudando para mantê-lo exatamente como está. Isso se reflete nas instituições educacionais, e a faculdade é um estágio nesse processo. O que fazer? Bom, como sempre, não adianta esperar que "alguém faça alguma coisa". Tem de fazer... Como professor, pai, mãe, vizinho, amigo, síndico, filho, passageiro de ônibus... Discutir, refletir, estudar, sugerir leis.

M. Pimenta - Sei que você é exímia conhecedora do futebol. O Timemania é mais um erro típico da falta de planejamento e/ou má administração do futebol brasileiro e que a sociedade terá que arcar?

S. Francine - A Timemania é uma solução engenhosa para tapar um buraco - não para impedir que ele seja cavado de novo e de novo. O rombo dos clubes de futebol e suas dívidas com a União e outros credores resultam, na maioria estrondosa dos casos, de má gestão e desonestidade acumuladas ao longo dos anos. Não adianta inventar uma loteria para amortizar a dívida se o modelo de gestão continua o mesmo e os "gestores" também. Em inúmeras ocasições os clubes contaram com injeções fabulosas de recursos, e o que fizeram com eles? Barbaridades. Além disso, é fácil imaginar que a arrecadação dessa loteria vai acabar diminuindo a arrecadação de outras (será que a massa de apostadores vai aumentar muito?); portanto, você vai acabar prejudicando programas que se beneficiam de outras loterias, e que talvez precisem mais desse recurso do que o futebol profissional.

M. Pimenta - Para finalizar, quais os seus planos para 2007?

S. Francine - Continuar fazendo tudo o que eu faço, mas um pouco mais organizadamente... Arrumar minhas bagunças, dividir melhor o tempo, tentar encaixar algumas coisas "novas" (como a prática de algum mísero esporte).


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