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Dia de Luto Nacional pela Violência Doméstica: Mulheres Exaustas


De Lenny Hannah

Hoje, dia 7 de Março, celebra-se mais uma data patética e inconsequente - é um dia de luto para supostamente se chorar as porradas e macetadas infligidas maioritariamente sobre as mulheres pelos seus companheiros, “amigos” com benefícios, maridos e imagine-se até pelos amantes: ça craint...é mais uma farsa esquerdista.

Só sei dizer que as mulheres andam estranhas: tudo lhes acontece, andam de semblante fechado, estão recheadas de mafuta, ancas largueironas, tornozelos que fazem lembrar as pernas dum elefante e rabo do tamanho de uma boia. As pobres andam curvadas para poder aguentar o peso do planeta que parece estar cimentado às suas costas: emprego mal pago, hipoteca da casa, prestação do carrito, a educação dos meninos, a mãe com demência, a sogra resmungona, a amante do marido, as contigências da vida moderna, famílias bizarras entre a família, e para rematar...ensaios de boxe quase diários nas suas pessoas debroados pelo terror infindável vindo das profundezas da alma.

Tenho uma amiga que é amante de Jane Austin e de quando em vez juntamo-nos para discutirmos e compararmos pela enésima vez os costumes, a elegância daquela época comparando com a sociedade kitsch que hoje parece ser a prevalente, e uma das amigas (Melanie) divergiu o curso do encontro e:

Melanie: Sabem que dia 7 é dia de luto pelas vítimas da violência doméstica?

Marjorie: Ai sim? Quando o cabrão do meu ex-marido me andava a macetar ninguém chorou por mim nem pelos meus filhos, a não ser euzinha, claro!

Magui: Ó filha, tu não morreste!

Marjorie: Morri por dentro, mas tive de ressuscitar por causa dos meus filhos, desejei a morte milhentas de vezes: pois não morri!

Morena: Porquê que não nos procuraste? Tens os nossos números!

Marjorie: Primeiro, vergonha, depois não podia incomodar toda a gente, chamava a Loba; e um dia disse-me “trouxe ali dois dos meus gajos, arruma as tuas tralhas, esta merda acaba hoje e se o teu carcereiro quiser chatear, os meus gajos dar-lhe-ão um tratamento daqueles” o resto vocês já sabem...

Magui: Onde está a Loba?”

Melanie: Ó pá, devido às contigências da carne, e nas palavras dela “só emerjo se vocês cabronas estiverem em apuros!”

Matilde: Essa miúda só poderia acabar nesse ramo. Falando sério: quem é que inventa essas humilhações? Os políticos são mesmo uns imorais, as políticas são umas connasses desfazadas da realidade.

Mariazinha: É o estado geral da nação, uma vez num dia de folga resolvi ver o programa da Tânia Ribas e João Baião, e qual não foi o meu espanto quando vi o Talon. A Tânia estava toda sorrisos para um abusador de mulheres e aterrorizador de crianças: desliguei a porcaria do televisor!

Malena: Esse tal de Talon faz o quê? É actor de teatro ou quê?”

Mariazinha: Diz-se médico, é castelhano, era a coqueluche da perda de peso em Lisboa, dizem que emagreceu muita gorda. Agora diz-se especialista em implantes capilares; chamam-lhe diversificar!

Marta: A propósito de violência: sabem que a nossa colega Adélia foi morta pelo marido?

Micá: Coitada! Foi casada com quem?

Marta: Lembras-te dos Cajú, aqueles irmãos mulatos que tocavam no Sheik, o mais bonito deles era o marido dela; olha foi morto na cadeia da Machava, enquanto cumpria pena!

Micá: Não soube...paz à sua alma!”

Mavilde: Ó Lenny estás tão caladinha, que se passa; walking down the memory lane?

Lenny: Ó pá, eu vim para falarmos das vivências daquele tempo, quando tudo parecia bem mais fácil e simples. Às mulheres digo “Não te desligues da tua família e dos teus amigos; porque esses criminosos gravitam e agem no isolamento”. Quanto a mim tenho a dizer que vivi com o mesmo homem quase 40 anos; ele nunca foi deselegante nem para comigo nem para com os nossos filhos. Nunca me dirigiu um palavrão, nunca perdeu o norte e como podem imaginar em 39 anos e tal discutimos, rimos, caímos, levantámo-nos e coisas que tais mas sempre juntos.

Pela minha vivência com o único homem que esteve até a data na minha vida, tenho dificuldade em concentrar-me na intensidade dos problemas das mulheres e seus maridos pois já me cansam (não é falta de humanidade é falta de traquejo da minha parte); vejam bem elas são torturadas e massacradas todos os dias por uma espécie de macaco, elas no espaço em que o corpo não está a ser contundido são incapazes de pensar como acumular provas para quando tiverem de os processar.

Hoje, há mais mecanismos de protecção da vítima do que antigamente, por issso há que perder essa coisa que as violentadas chamam de vergonha, ou o pensamento de que mereciam tal inferno, porque o medo deve ser a força motriz que as conduza  a fazer pela vida: ninguém é de ninguém, somos simplesmente o amparo uns dos outros.

Compreendo que as mulheres andem cansadas, perdidas, apáticas e até perdidas: mas vamos concordar que as mulheres são exaustivas e eu, sinceramente, estou exausta com o assunto que já nem deveria ser mais um problema - a violência doméstica.

Amorecas, agora vou-me embora, tenho de ir insuflar colchões de borracha, fazer as camas porque hoje tenho um encontro inesquecível: vou receber e entreter os meus netos.

Até para a semana

(Imagem: Mulheres Tomando Chá - Albert Lynch)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society™ (Grupo ao qual o Etnias pertence). © 2009-2019 Autor/a(es/as) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS]


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