Foi Alexander Lukashenko quem negociou o acordo para encerrar o motim de Wagner. Isso é o que nos disseram.

Portanto, se há alguém que pode lançar luz sobre essa história mais sombria, certamente é o líder da Bielo-Rússia. Pelo menos nós esperamos que sim.

Fazemos parte de um pequeno grupo de jornalistas convidados ao Palácio da Independência em Minsk para uma “palestra” com o Sr. Lukashenko.

Em vez de lançar luz, no entanto, ele obscurece a situação sobre o recente levante russo.

De acordo com o acordo entre o grupo Wagner e o Kremlin, o chefe de Wagner, Yevgeny Prigozhin, deveria se mudar para a Bielo-Rússia com alguns de seus combatentes.

Isso não aconteceu. Pelo menos ainda não.

“Esta manhã”, diz Lukashenko, “os combatentes de Wagner, muito sérios, ainda estão nos campos para onde se retiraram depois de Bakhmut.”

“Quanto a Yevgeny Prigozhin, ele está em São Petersburgo. Ou talvez tenha voado para Moscou esta manhã. Ou talvez ele esteja em outro lugar. Mas ele não está na Bielorrússia.”

Pergunto a Alexander Lukashenko se isso significa que o negócio fracassa.

Ele nega, parece que há conversas acontecendo nos bastidores que não vamos descobrir.

Quando se trata de discutir o motim, Moscou e Minsk não estão totalmente de acordo.

No fim de semana passado, a televisão estatal russa declarou que o presidente Vladimir Putin emergiu desses eventos dramáticos como um herói.

“Acho que ninguém emergiu como herói dessa situação”, diz Lukashenko.

“Nem Prigozhin, nem Putin, nem Lukashenko. Não havia heróis. E a lição disso? Se criarmos tais grupos armados, devemos mantê-los em mente e dar-lhes muita atenção”.

“Deus me livre de tomar a decisão de usá-lo”, disse Lukashenko recentemente, acrescentando: “Mas não hesitarei em usá-lo”.

Eu o lembro desses comentários.

“Joe Biden poderia dizer o mesmo e o primeiro-ministro Sunak”, responde Lukashenko. “E meu amigo Xi Jinping e meu irmão mais velho, o presidente Putin.”

“Mas não estamos falando de suas armas”, enfatizo. “Estes são russos. Não é sua escolha.”

“Há todo um exército lutando na Ucrânia com armas estrangeiras”, responde o chefe de Estado bielorrusso. “Armas da OTAN. Porque eles ficaram sem armas. Então, por que não posso lutar com as armas de outra pessoa?”

Mas estamos falando de armas nucleares aqui, não de pistolas, respondo.

“Nuclear, sim. Essas são armas também. Armas nucleares táticas”.

Como você provavelmente pode perceber por seus pronunciamentos nucleares, Alexander Lukashenko é uma figura controversa.

Os EUA, a UE e o Reino Unido não o reconhecem como o legítimo presidente da Bielorrússia. Em 2020, os bielorrussos foram às ruas acusando-o de roubar a eleição presidencial do país. Os protestos foram brutalmente reprimidos.

Menciono o caso da ativista da oposição encarcerada Maria Kolesnikova.

“Durante meses, sua família e advogados tiveram acesso negado a ela na prisão. Por quê?”, pergunto.

“Não sei nada sobre isso”, afirma.

“Quando o entrevistei pela última vez no outono de 2021, havia 873 presos políticos na Bielo-Rússia”, lembro ao Sr. Lukashenko. “Agora são 1.500.”

“Não há artigo em nosso Código Penal para crimes políticos”, responde.

Ressalto que a ausência de artigo sobre crimes políticos não significa que não haja presos políticos.

“Os presos não podem ser presos políticos se não houver artigo”, frisa. “Como podem ser?”