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Poupe como um pessimista e invista como um otimista!

Entendendo o “risco de cauda”.

Quando eu adquiri a minha primeira moto com 18 anos (uma YBR 125) meu pai sentou comigo e tivemos uma conversa séria que eu nunca esqueci.

Ele disse:

“Filho, ter uma moto vai mudar a sua vida, assim como mudou a minha. Você vai poder ir para qualquer lugar de forma mais rápida e barata do que sua bicicleta e ônibus [meus meios de transporte na época]. Mas eu preciso que você entenda uma coisa muito importante.

Eu sei que a chance de alguém atravessar um sinal vermelho hoje e você se envolver num acidente é pequena.

Eu sei que a chance de alguém atravessar uma preferencial sem parar amanhã e você se envolver num acidente é pequena.

Eu também sei que a chance de um cachorro correr na sua frente depois de amanhã e você se envolver num acidente é pequena.

Mas tenha certeza de uma coisa. Se você andar de moto por tempo suficiente, você vai ter um acidente. Isso é fato! Eu tive vários…

Por isso, é muito importante que você sempre ande de moto devagar, com capacete apresilhado e uma estratégia defensiva. Para que, quando o acidente acontecer, e ele vai acontecer, as chances dele ser fatal também sejam pequenas.”

O que meu sábio pai (que não terminou nem o ensino médio) conseguiu intuir e me passar de uma maneira muito didática foi o conceito de “risco de cauda“. Ou seja, a importância de nunca ignorar os eventos de baixa probabilidade e alto impacto.

Moral da história:

eu decidi pilotar mais devagar do que meus amigos de 18 anos pilotavam, tive moto por 14 anos e, depois de dois acidentes, continuo vivo (enquanto dois amigos próximos infelizmente não tiveram a mesma “sorte”).

O risco de cauda, também conhecido como risco de cauda longa ou risco de cauda gorda, é um risco de portfólio que surge com a possibilidade de um investimento ter um retorno superior a 3 de desvio padrão (“caudas” da imagem abaixo) do retorno com maior probabilidade de ocorrência (pico da “montanha” da imagem abaixo). Ou seja, são os eventos de baixa probabilidade (os ganhos e prejuízos extraordinários).

Um bom gerenciamento de risco de um portfólio é aquele que não negligencia mecanismos de proteção contra esses cenários de baixa probabilidade, mas com consequências potencialmente catastróficas (cauda da esquerda).

Mas como fazer isso?

Há muitas formas de criar mecanismos de proteção contra o risco de cauda (ou risco da ruína). Em linhas gerais, só o ato de não se alavancar e focar em “diversificação” já te desvincula da necessidade de “estar certo” nas suas projeções, ou “ter sorte”, e te permite se beneficiar de qualquer cenário.

Quando eu falo de diversificação estou falando de:

  • Diversificar em diferentes empresas;
  • Diversificar em diferentes setores;
  • Diversificar em diferentes classes de ativos;
  • Diversificar em diferentes moedas;
  • Diversificar em diferentes países;
  • Diversificar em diferentes jurisdições; e
  • Diversificar em diferentes “tempos” e ciclos do mercado (aportes recorrentes).

Mas hoje vamos focar apenas no “feijão com arroz” mesmo. Ou seja, nos benefícios indiretos e ignorados de ter Renda fixa no seu portfólio, principalmente os ativos mais conservadores, com baixíssima volatilidade e alta liquidez (os equivalentes a caixa, carinhosamente apelidados de “perda fixa”).

Morgan Housel, autor do livro “A Psicologia Financeira“, diz que é muito simples fazer uma espécie de estratégia “barbell” e reduzir significativamente o risco de cauda. Basta poupar como um pessimista e investir como um otimista.

Segundo ele, devemos investir sob a presunção otimista de que no longo prazo empresas vão continuar inovando, desenvolvendo tecnologias disruptivas, solucionando problemas e agregando valor pra sociedade e mundo. Portanto, deveríamos investir boa parte do nosso patrimônio nessa classe de ativos (renda variável) que naturalmente são mais arriscados, voláteis e com maior potencial de retorno (investir como um otimista).

Entretanto, se pretendemos investir para o longo prazo, inevitavelmente passaremos por eventos de baixa probabilidade, mas de proporções inesperadamente catastróficas (como uma pandemia global, por exemplo). E por isso ele também carrega um bom percentual em Renda Fixa e caixa, preparando-se sempre para o pior, mesmo sabendo que na maioria dos casos ele poderia ter um retorno maior se tivesse 100% em renda variável (poupar como um pessimista).

Ele lembra que, enquanto a renda variável obviamente traz um retorno maior no longo prazo na maioria dos casos, a renda fixa e caixa é o que te permite continuar “jogando o jogo do longo prazo”, e efetivamente desfrutar dos benefícios da exposição à renda variável. Portanto, renda fixa e caixa tem esse retorno indireto geralmente ignorado de te proteger de vender renda variável em momentos inoportunos (seja por questões emocionais ou por necessidade).

Ele brinca que é importante ser otimista para aumentar suas chances de enriquecer e, ao mesmo tempo, ser pessimista para aumentar suas chances de permanecer rico.

Em outras palavras, só dá pra continuar desfrutando dos benefícios de “ter uma moto” (investimentos) e chegar nos lugares mais rápido (renda variável = moto) se você continuar vivo (renda fixa = andar devagar, capacete, postura defensiva).

Se você pesquisar vai encontrar embasamento puramente matemático/estatístico para várias estratégias que contemplam mais o elemento “retorno” do que o elemento “sobrevivência”, por exemplo:

Na maioria das vezes é melhor investir um montante grande de uma vez do que dividir em aportes mensais recorrentes;

Na maioria das vezes é melhor não ter reserva de oportunidade;

Na maioria das vezes é melhor não ter renda fixa;

Na maioria das vezes é melhor não ter sequer reserva de emergência;

Todas essas afirmações estão tecnicamente corretas.

Mas aí é que está o problema (é apenas na maioria das vezes).

Ou seja, em uma minoria das vezes, essa exposição mais arriscada com o intuito de otimizar retorno, não apenas traz menos retorno, como traz um risco muito maior de ruína permanente (ser expulso do jogo). E se você, assim como eu, quer continuar investindo por uns 70 anos, vai passar por várias “minoria das vezes“…

Em outras palavras, a frieza dessas simulações técnicas não considera o fato de que “a vida é uma caixinha de surpresas” e que “você é o seu pior inimigo”.

Quem investe 100% em renda variável (com raríssimas exceções) está agindo como um adolescente que pilota sua moto sempre na velocidade máxima, pois não vê sentido em demorar alguns minutos a mais para chegar no seu destino se ele pode chegar antes.

Esse “adolescente” está ignorando dois fatores:

Você é o seu pior inimigo!

Não caia na falácia de que você está imune a entrar em pânico e vender suas ações no fundo de uma crise!

Brad Klontz, autor do livro “A mente acima do dinheiro: o impacto das emoções em sua vida financeira“ diz que nossa habilidade de tomar decisões racionais diminui à medida que o nosso envolvimento emocional aumenta. Quando ficamos muito bravos, empolgados, excitados ou com medo de algo, por exemplo, a parte racional do nosso cérebro (responsável por ponderar prós e contras, considerar o futuro e adiar gratificação) praticamente “desliga”. Não é uma questão volitiva, é uma característica biológica (não se aprende em um livro a não estar sujeito a essa condição humana)

Muita gente acabou realizando prejuízos enormes em março de 2020, por exemplo. E é muito fácil olhar pra trás e dizer que foi uma atitude irracional agora que estamos batendo o topo histórico de novo. Mas quando você está no meio do “furacão”, em poucas semanas já “perdeu” 50% do patrimônio que levou anos para construir, a pandemia continua se espalhando em ritmo exponencial, matando cada dia mais pessoas, cada vez mais países/cidades/negócios fechando, nenhuma perspectiva de vacina, e muitos “especialistas” falando que vai continuar caindo mais, não parece tão irracional assim tentar proteger o restinho de patrimônio que sobrou…

Em março de 2020 eu entrei em contato com todos os meus amigos investidores pra ver o que cada um estava fazendo. E um dos que investia a mais tempo disse:

“a bolsa está muito tensa agora. Vou esperar as coisas se acalmarem um pouco pra voltar a investir…”

Quem fez isso perdeu duas vezes (por realizar o prejuízo no pior momento possível e por perder a recuperação em “V” que ninguém esperava). Apenas um erro pontual como esse já é mais que suficiente para traumatizar uma pessoa a ponto de ela nunca mais querer investir em renda variável (meu amigo ainda não voltou a investir depois desse “acidente”).

Enfim, não subestime a sua capacidade de tomar as piores decisões possíveis nos períodos de pânico e euforia (fomos biologicamente preparados para seguir a manada)!

A vida é uma caixinha de surpresas!

Mesmo que você já tenha passado por crises anteriores e não sucumbiu ao pânico geral, a vida é uma caixinha de surpresas!

Você pode achar que está tudo sob controle. Mas sempre haverá cisnes negros, pontos cegos, imprevistos, coisas que você não sabe e, pior, não sabe que não sabe. Você pode perder o seu emprego no meio de uma pandemia e ser forçado a vender suas ações no pior momento possível (mesmo sabendo que aquela é a pior decisão que você poderia tomar). Você pode sofrer um acidente, adoecer, perder um ente querido e precisar levantar uma grana nos “45 do segundo tempo” bem no meio de uma crise, etc…

Eu já tive meu salário suspenso por meses, mesmo sendo servidor público federal, fui demitido em março de 2020, já bati carro sem seguro, e já tive que levantar uma boa grana em momentos inoportunos…

Enfim, não subestime a capacidade da vida te surpreender negativamente!

Essa é uma excelente pergunta sem resposta “tamanho único” pra todos.

A princípio deveria ser uma porcentagem que reduza a volatilidade do seu portfólio para patamares compatíveis com seu perfil de risco (porque você é o seu pior inimigo) e que seja suficiente para você “sobreviver aos acidentes” (porque a vida é uma caixinha de surpresas) e poder continuar “pilotando” (investindo). E boa parte dessa renda fixa deveria ser “perda fixa” mesmo (ativos equivalentes a caixa). Ou seja, ativos ultraconservadores com baixa volatilidade e alta liquidez.

Benjamin Graham, autor do livro “O Investidor Inteligente” recomenda nunca ter menos que 25% em renda fixa (nunca ser tão otimista) e nunca ter mais que 75% em renda fixa (nunca ser tão pessimista). Ele diz que você pode ajustar seu portfólio dentro dessa janela percentual de acordo com os movimentos do mercado. Ou seja, se o mercado parece “perigosamente caro” segundo os seus critérios de “valuation” você poderia aumentar seu percentual em renda fixa, se parece “barato” poderia aumentar o seu percentual em renda variável. Mas nunca fique 100% em nenhuma dessas classes de ativos (renda fixa ou renda variável).

Veja aqui como eu decidi implementar a sugestão de Graham e defini um percentual variável para minha renda fixa.

Os estudos que analisaram diversas taxas de retirada na aposentadoria e diversas alocações percentuais entre renda fixa e renda variável também chegaram a uma conclusão semelhante quanto à quantidade de renda fixa que faz mais sentido carregar no longo prazo.

A alocação percentual ideal ficou entre 75% e 50% em renda variável. Portfólios com mais de 75% em renda variável tendem a ser muito voláteis (maior exposição ao “risco de cauda”). Já os portfólios com menos de 50% em renda variável tendem a não apresentar um retorno sustentável no longo prazo.

Sim, na maioria das vezes você teria um valor residual maior, caso sempre investisse 100% do seu patrimônio em renda variável; da mesma forma que, na maioria das vezes você chegaria mais rápido nos lugares caso pilotasse sua moto na velocidade máxima.

Entretanto, não é prudente ignorar os eventos de baixa probabilidade e alto impacto (risco de cauda); assim como não é prudente não apresilhar o capacete e pilotar sua moto acima da velocidade permitida só para chegar “alguns minutinhos antes”.

“Aqueles que criam barreiras à falta de sorte experimentam a crise em medida muito menor ou sequer a experimentam. Já os que contam exclusivamente com a sorte, sendo otimistas a ponto de abdicarem de sua prudência, são devastados quando o ambiente é alterado”.

Maquiavel

Por isso acredito que ainda faz sentido carregar reserva de emergência e oportunidade; ou pelo menos definir um percentual do patrimônio para manter sempre em renda fixa (o que acaba cumprindo a mesma função da reserva de emergência e oportunidade).

Reserva de emergência porque “a vida é uma caixinha de surpresas“. E reserva de oportunidade porque “você é o seu pior inimigo” (e ter caixa em períodos de pânico sistêmico te ajuda a enxergá-los como oportunidades).

Enfim, como diria meu sábio pai:

Moto (investimentos) vai mudar a sua vida. Mas se você pilotar na velocidade máxima (100% em renda variável) por tempo suficiente, uma hora vai ter um acidente tão “feio” que pode te “tirar do jogo” definitivamente e não vai mais desfrutar dos benefícios da moto no longo prazo (mágica dos juros compostos).

Ou seja, poupe como um pessimista e invista como um otimista, porque “o mercado de ações estará aqui daqui a 30 anos; a pergunta é: você também estará?

Um abraço IFólogo(a)!


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