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Por que a gente vive?



Essa é uma pergunta que todo mundo se faz, vez por outra... Se você acreditar em Deus - ou numa entidade superior que assista, guie (ou se divirta...) com os destinos humanos - ou se você não acreditar em absolutamente nada (e, prá você, o acaso da existência seja apenas m* no ventilador do Universo...) de uma forma ou de outra você vai se deparar com ocasiões nas quais vai se fazer essa pergunta...

Um pouco antes da minha última postagem eu já estava com essa gripe esquisita: nada de nariz escorrendo, mas uma febre danada, o corpo doendo todinho (especialmente os pulmões, na hora de respirar...). Já contei que eu pegava no máximo duas gripes por ano? Pois então: envelhecer é uma meléca mesmo. Ultimamente é quase uma gripe por mês - e esta última foi a minha primeira pneumonia. 

Acho até que vou marcar a data na folhinha, prá comemorar o aniversário dela no ano que vem...

O médico passou antibióticos, antivirais (aquele caríssimo Tamiflu, que ele me falou prá pegar de graça no Posto de Saúde, mas eu não fui, porque podia acabar fazendo falta prá alguém que não pode pagar - e eu, graças a Deus, embora não tenha pé de dinheiro em casa, posso...). Até levei bronca por não ter tomado a tal vacina da gripe, pois o médico me disse que minha saúde me coloca no "grupo de risco". 

Fazer o quê... Ninguém me levou, ninguém me disse que eu devia, que eu precisava... Da próxima vez eu não falto, pode ter certeza - odeio ficar mais doente ainda.

Daí, nem bem eu tô sarando...

Meu marido chega em casa e me diz que a filha dele - minha enteada - está muito doente: grávida de seu segundo filho, tendo que enfrentar as vacinas prá ajudar a manter a gestação (poquê o sangue dela e o do bebê não combinam...) ainda está tendo sangramentos o tempo todo, com dores que a obrigam a tomar Tramal prá aguentar! Ele me chega em casa e diz prá eu tirar uma cópia do RG dele, pois a partir daquele dia ele ia ter que buscar o netinho na escola, já que ela tem que ficar o tempo todo deitada, em repouso absoluto, prá tentar manter o bebê.

Falou isso com a maior naturalidade do mundo, como se me contasse que a filha tava com uma unha encravada! Homens são outro departamento mesmo...

Eu pego meu celular, ligo prá ela, pergunto como é que tá - e depois de me inteirar sobre tudo, me ofereço prá ajudar no que for necessário (fazer comida, lavar roupa, massagear seus pés - se fosse disso que ela precisasse...).

Ela, toda feliz, me diz que só precisava mesmo é de companhia! Que já foi parar no Pronto Socorro diversas vezes, que o pior é estar sangrando e ter que se virar sozinha prá ligar prá uma ambulância...

Eu na mesma hora me prontifiquei a ficar com ela todos os dias que ela precisasse, mesmo largando minha casa prá lá, meus filhos, o Marildo - e ela, toda feliz, já começou a dizer: "Ai, Rosa, Deus te abençoe! Pode vir ficar comigo nesta segunda?" - e eu, obviamente, disse que sim.

O Marildo, quando soube, subiu pelas paredes - ou quase. 

-"Que absurdo! Ela tem a mãe dela prá ajudar, você tem a tua casa, as tuas coisas, a nossa comida, nossas roupas. Não vai coisa nenhuma! Além do quê você nem se aguenta - vai ter que cuidar dos outros? Não vai não, sinto muito, ela vai ter que se virar de outra forma...".

E - como acontece nas decisões de grande importância... - eu venci a parada. 

Que me importa que não seja minha filha? Sempre foi uma menina boa, sempre me tratou muito bem, sempre foi tão carinhosa... Nunca me tratou como uma madrasta.

Quando ela era mocinha, aos 12 anos, quando nos conhecemos, sinceramente eu morri de medo. Achei que ela ia me odiar por estar casada com o pai dela... Abri o coração, disse que não tirei o namorado de ninguém... Que seu pai amou muitíssimo sua mãe, mas que não deu certo, que a família dela não deixou que ficassem juntos - e que isso, no final, foi de encontro à vontade de Deus: meus filhos não teriam nascido, o irmão dela (filho da mãe com o padrasto dela) também não teria nascido.

Ela veio prá mim inteligente, de boa vontade no coração... Me aceitou. Enquanto viveu um tempo conosco disputava a minha atenção com os irmãos - e ganhava colo, cafuné, histórias...

Frequentou a mesma escola deles - e as professoras vinham me contar o quanto ela gostava de mim, o quanto elogiava minha comida como "a melhor do mundo"!

Pedia minha ajuda prá resolver especialmente os problemas de Química Orgânica - que eram o seu ponto fraco...

Cresceu, casou, teve filho.

Ama os irmãos, é uma boa filha, uma boa mãe.

Ninguém pense assim: "Nossa, como Dona Rosa é boa! Conquistou a enteada e a ajuda - mesmo tendo a saúde precária e seu mundão de coisas prá fazer na vida!".

Não. Eu não sou boa - sou lógica. Em primeiro lugar eu penso que, se eu morresse, queria que meus filhos tivessem uma madrasta decente, que não os visse como um estorvo, um empecilho. Que os tratasse com gentileza e (com sorte...) com carinho. Então, assim como desejo prá eles, trato de agir na vida.

Em segundo lugar: a vida é uma batalha: a gente mata um leão por dia. Bom, talvez nem sempre um leão - um gatinho aqui, um pernilongo acolá... Tá cheio de obstáculos prá gente superar, pedras prá atrapalhar o caminho da gente. 

Sabe a preguiça - aquela que faz a gente querer evitar ter que trabalhar mais do que o estritamente necessário, que faz a gente querer fugir à todo custo de abandonar nossa zona de conforto e ter que enfrentar o mundo lá fora? Pois esse é um dos meus leões: eu adoro ficar na minha casinha, assistir minhas novelinhas coreanas no Netflix, fazendo tricô... Mexer no blog, visitar os blogs das amigas... Fazer um chá de laranja à tarde, me deliciar comendo uma rosquinha quando dá tempo, depois de esfregar os colarinhos sujos das camisas... 

No meu ombro uma Rosinha vestida de branco, com asinhas fofinhas, dizendo assim prá mim: "Vai lá ajudar ela, depois você esfrega essas camisas, o guarda-roupas tem roupas limpas de sobra prá eles usarem... As novelinhas te esperam prá outro dia, outra hora..." e uma outra Rosinha, com chifrinhos e roupinha vermelha, rabinho pontudo de flecha, a me dizer que não é, de forma alguma, minha obrigação...

E a batalhas tão sempre acontecendo, nessa e em outras áreas - e, através delas, vou crescendo - que é prá isso que a gente vive, não é mesmo?.

Mas o terceiro motivo - que, na verdade, deveria ter encabeçado a lista, é que eu a amo. Muito. Tanto que, na verdade, toda a minha lógica e as tais batalhas são jogadas prá debaixo do tapete, pois não tenho controle sobre meu coração: não sou mesmo boa, somente amo. Se ela precisa de ajuda, é um prazer ajudar. Mesmo.

Meu marido acha injusto. Diz que a mãe da filha dele é uma folgada, uma preguiçosa. Que alega passar mal vendo a filha doente e nem aparece por lá - e que não é justo eu assumir um papel que não é meu...

Mas não foi isso que eu vi quando lá cheguei...

Encontrei um apartamento que - se não está brilhando - não estava sujo... A geladeira abastecida de potes e mais potes de sorvete cheios de arroz, feijão, brócolis, cenoura, carne moída - todos preparadinhos pela tal "preguiçosa". Enquanto eu lá estava ela chegou trazendo sacolas e sacolas das frutas favoritas da filha e mais potes de verduras e legumes higienizados e secos, prontos pro consumo... Eram quatro da tarde e ela ainda não tinha almoçado - e se deliciou com a lasanha que eu havia preparado prá filha dela na hora do almoço...

A mãe dela - que foi a responsável por ela e o Marildo não terem ficado juntos, na adolescência - sofre de Parkinson (ou é alzheimer, eu sempre confundo as duas doenças...). A pobre da mulher não fala, não anda, se suja toda, grita... Sofre de demência há quase quinze anos... Foi uma mulher tão inteligente, falava quatro idiomas, secretária de uma multinacional, super ativa - triste demais de se ver. As duas não se davam - quando a velha adoeceu, a filha queria colocá-la num asilo! 

Mas o tempo também passou prá ela, assim como passou prá mim. Ela também cresceu. O que eu vi foi uma mulher muito bonita (coisa que eu não sou, nunca fui...) mas esgotada, se desdobrando prá lá e prá cá, cuidando da mãe, cuidando da filha, do jeito que dava... Me agradecendo, de olhos marejados, por tudo o que sempre fiz pela filha dela...

Bom viver, vocês não acham? Bom demais ir aprendendo, abandonando preconceitos, aprendendo com a vida...

Cheguei em casa e contei prá todo mundo como era a situação - e meu marido parou de reclamar (tanto). Ainda reclama, infelizmente (bebezão chorão...). Eu faço num dia a comida prá dois, ele tem que comer comida requentada de vez em quando... Os irmãos também entraram na "corrente" de ajudar a irmã, puxados por mim, graças à Deus. Os frutos não caem longe do pé ...

Mas não é fácil. Pode parecer tudo uma novelinha cor de rosa, embalada numa musiquinha piegas, mas não é. O Marildo é viciado na minha presença, tenho que estar lá prá fritar um ovo de última hora, só porque ele tem vontade... Tenho que estar presente prá ele reclamar do sal da salada, do suco que ele queria que fosse de abacaxi e acabou sendo de maracujá - e nem é por maldade que ele faz essas coisas, eu só acostumei mal essa "criança", mas ele tem que saber aceitar, estabelecer outras prioridades...

Meu quadril é o que me incomoda mais. Fiz uma ressonância magnética e todos (absolutamente todos) os ossos dele estão inflamados. É tendinite e bursite prá todo lado (coisas que eu nem sabia que podiam acontecer num quadril...). Tá tudo gasto, sem cartilagem, cheio de calos ósseos - um horror. Estou tomando, pela primeira vez na vida, injeções de cortisona. E lá, com a minha enteada, acabo ficando com mais dor ainda que o normal: ela me quer no quarto com ela, deitada na cama ao lado dela, conversando... Não consigo, deitada é a pior posição prá mim, parece até que tem uma faca espetada na minha coxa! Daí eu arrasto uma cadeira da cozinha e fico lá sentada, só conversando... Me levanto e faço um chá prá ela, ofereço um dos meus maravilhosos cupcakes salgados... Dou banho no garoto quando ele chega, dou jantinha e vou prá casa.

Vou dizer uma coisa - prá quem ainda não sabe: a vida passa voando. Ainda me lembro: foi ontem mesmo que eu tinha cinco anos e todo mundo me achava inteligente - daí eu dizia que tinha 8, pensando na minha cabecinha que todo mundo tava acreditando... Tão bobinha me achando tão esperta... Andei tanto neste mundo prá saber tão pouco - mas isso eu sei de verdade: a vida passa numa piscada. Me lembro de cada gestação de cada filho - das esperanças, dos medos, das dores e das alegrias. Me recordo de cada nascimento, cada primeira palavra, cada dentinho, tanta fraldinha trocada! Me deram tanto trabalho, tanto sono perdido que eu não achei nunca mais na vida - mas é como eu sempre digo: depois de morto a gente tem tempo de sobra prá dormir. A gestação agora não é minha, nem sangue meu tem - mas, se Deus quiser, um dia vai estar aí caminhando no mundo, aprendendo a ser gente - assim como eu...

E vou dizer mais outra coisa: a gente perde tanto tempo na vida se preocupando com besteiras! Minha mãe fica: "Ai, você não devia deixar essa moça se aproximar tanto assim do teu marido, eles podem acabar ficando juntos de novo, seja esperta..." e eu respondo que se isso tiver que acontecer, fazer o quê... Ele tem uma cópia da chave da casa, pode ir na hora que quiser, não vou impedir ninguém de fazer o que quer que seja. Não vou guiar minha vida por nenhum "E se...". A cada dia basta o seu cuidado, como Jesus dizia. Até porquê ninguém é dono de ninguém e um dia todo mundo vai estar morto mesmo, o que importam todas essas besteiras no grande quadro da vida? 

Só o que importa é vencer a batalha, matar o leão. Chegar do outro lado, quando chegar a hora, quando se esgotar o meu prazo de validade e, me apresentando perante nosso Paizinho, eu não precisar abaixar demais os olhos de vergonha.

Já até faço uma ideia de como vai ser, sabem? Porque é assim: eu rezo o tempo todo. Não necessariamente Pais Nossos e Aves Marias, nada de fórmulas (embora, como eu já disse uma vez, Pai Nosso seja mais ou menos um mantra meu, tô sempre com ele na cabeça...). Mas eu tô sempre monologando com Deus, falando com ele, abrindo meu coração, pedindo, implorando, questionando...

"Ajuda  meu pai onde ele estiver, Paizinho do céu..."

"Restaura a saúde da minha mãezinha, Pai..."

"Protege meus filhos..."

"Cuida do meu marido..."

"Ilumina!"... "Guia!"... "Abençoa!"...

Um dia, quando eu morrer, Deus vai estar lá, cercado de anjos, como sempre. Vou ser só mais uma chegando e ele vai me olhar e dizer assim:

"Eita, pessoal, olha só quem chegou! Lembra daquela filha minha que eu falei prá vocês, que falava comigo o tempo todo, de dia e de noite, pedindo, implorando, reclamando, falando pelos cotovelos? É essa aí, a tal de Rosa!"

E eu vou me chegar pro meu cantinho, toda corada de vergonha de estar todo mundo me olhando, querendo sumir do mapa por estar chamando atenção indesejada e vou dizer baixinho, num fiozinho de voz, mais prá mim mesma do que prá Deus:

"Mas eu fazia isso prá pedir pros outros, nunca incomodei prá pedir prá mim...".

Até qualquer hora dessas, se Deus quiser. Sabem como é: prioridades. Eu volto, principalmente porque adoro meu blog e as pessoas lindas que conheci através dele. Mesmo estando triste com a queda nas visualizações - o que é normal, já que não tenho nada de novo prá apresentar.

Mas eu volto.

Até.





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