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Podcast #045 — Endócrino Janaína Koenen Fala De Dieta Cetogênica Para Diabetes Tipo 1 E Enxaqueca

Se existe um tratamento adjuvante que nós podemos começar, que não interfere em nada, que pode reduzir as drogas, ou mesmo tirar.  Por que não tentar?”

No podcast de hoje, contamos com a Dra Janaína Koenen — uma endocrinologista  apaixonada não só por medicina, mas também por melhorar a qualidade de vida de seus pacientes.

E vale a pena prestar atenção a cada palavra que ela diz nesta preciosa entrevista.

Porque, ouvindo o podcast atentamente até o final, você vai saber exatamente:

  • a história da Jana com enxaqueca, tireoidite e a dieta que resolveu tudo isso,
  • as diferenças de dietas para diabetes tipo 1 e tipo 2,
  • quais os 3 livros que todo diabético deveria ler,
  • dieta (e outros tratamentos) para combater a enxaqueca,
  • como melhorar condições neurológicas com a dieta cetogênica,
  • as mudanças na medicina que estão acontecendo de baixo para cima,
  • o verdadeiro amor pela Medicina e pelos pacientes,

e muito, muito mais!

Então não encare este episódio apenas como entretenimento — e sim como um investimento na sua educação.

Escute, anote, leia, pesquise — porque aqui trazemos os melhores profissionais para ensinar diretamente a você.

Você pode ouvir a entrevista completa no player abaixo.

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Mídias sociais da Dra Janaína:

  • Instagram: @janainaendocrino
  • Facebook: https://www.facebook.com/endocrinokoenen/
  • blog: https://www.janainakoenen.com.br/

Série de posts da Jana no Instagram:

  1. https://www.instagram.com/p/BhyQGeinTLF/
  2. https://www.instagram.com/p/Bh42doKHkVA/
  3. https://www.instagram.com/p/Bh6bXE5H3j1/
  4. https://www.instagram.com/p/Bh9nqtJH2rB/
  5. https://www.instagram.com/p/BiAlrK-HiOj/
  6. https://www.instagram.com/p/BiDI0ZGHoiw/
  7. https://www.instagram.com/p/BiedbK6HDmE/
  8. https://www.instagram.com/p/Bqqj5UoH8Lg/
  9. https://www.instagram.com/p/BrEJlaynVyW/
  10. https://www.instagram.com/p/BrGyUFYHTid/

Dra. Janaina Koenen — Transcrição Completa Do Episódio

Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho.

Eu sou o Guilherme.

Roney: E eu sou o Roney.

E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.

Guilherme: Este podcast está sendo oferecido a você pela loja Tudo Low-Carb.

A loja Tudo Low-Carb é onde nós pegamos todos os ingredientes que nós usamos nas nossas receitas.

Lá tem tudo, incluindo adoçantes, farinhas low-carb, chocolate amargo…

Além de vários lanchinhos low-carb, do tipo castanha-do-Pará, amêndoas laminadas, amêndoas defumadas, chips de parmesão e muito mais.

Então, se você quiser investir na sua Dieta low-carb e em um pouco mais de sabor, acessa a tudolowcarb.com.br.

Aí é só escolher tudo o que você quiser, e no final, na hora do check out, digitar o cupom SRTANQUINHO para ganhar 10% de desconto.

Então é muito legal porque eles têm ótimos preços, todos os produtos são baixos em carboidratos e é lá que nós encontramos os ingredientes que nós mesmos usamos.

É incrível! E eu recomendo que você compre lá porque os preços são bons, os produtos são ótimos e eles também apoiam essa nossa iniciativa do podcast.

Tendo dito tudo isso, hora do show.

Guilherme: Olá, Tanquinho! Olá, Tanquinha!

Bem-vindos a mais um episódio do nosso podcast.

E dessa vez nós temos aqui conosco a Dra. Janaina Koenen.

Roney: A Dra. Janaina é médica, endocrinologista, e hoje ela vai vir aqui para trocar uma ideia com a gente.

Jana, pode se apresentar para a nossa audiência, que ainda não te conhece, por favor.

Janaina Koenen: Olá! Meu nome é Janaina, como eles apresentaram carinhosamente, eu moro em Belo Horizonte, estudei aqui, sou formada há 15 anos – me formei na UFMG – sou endocrinologista, trabalho muito com diabetes, obesidade. Adoro o que eu faço, amo de paixão.

Eu entrei nessa viagem, nessa mudança de paradigma, de vida, de estilo, não tem tanto tempo assim.

Quando eu comecei a ler sobre low-carb, as primeiras receitas que eu peguei, uma foi da Lilian Sá e a outra do Senhor Tanquinho.

Roney: Olha só…

Janaina Koenen: E desde então eu acompanho o trabalho de vocês, admiro demais.

Vocês são muito didáticos, eu sempre indico vocês. Recomendo para os meus pacientes que eles olhem as receitas e os vídeos.

Os meus pacientes sabem disso.

Quando eu fazia Endocrinologia eu estava muito doente.

Eu estava com enxaqueca grave, chegava a ir para o hospital duas vezes por mês —  eu já estava no hospital que eu fazia residência, então eu passava pela Emergência para tomar remédio na veia — eu tinha uma fadiga crônica, um cansaço que eu sempre atribuía à residência.

A residência médica é uma fase difícil e eu fiz a minha segunda residência mais velha — eu já tinha oito anos de formada quando eu fui fazer Endocrinologia —  então todo mundo dizia: “Ah, você está velha! Você tinha que ter feito isso antes!”.

E eu ficava muito cansada, eu dormia mal e eu comecei a ter umas intolerâncias alimentares.

Eu passava mal com leite, de repente eu não conseguia mais comer carne vermelha —  que é o que eu mais gostava de comer: queijo e carne vermelha — e uma anemia que não melhorava.

Então, com isso, eu fui em três Gastroenterologistas, dois Endócrinos, três Nutricionistas… e ninguém resolvia.

Mandaram eu comer grãos integrais. E, quanto mais eu comia grão integral, pior eu ficava.

E assim, a gente não aprende nada de dieta na residência de Endocrinologia.

A gente trata a obesidade com remédio.

A gente fala: “Ah, faz uma dieta, diminui fritura…”, o que todo mundo fala: “Come queijo cottage com pão integral”. E eu fazia a mesma coisa.

Eu seguia as diretrizes que me eram ensinadas.

Quando eu me formei, quando eu terminei a residência, fiz meu título, eu estava trabalhando em um hospital com pré-diabéticos, o Risoleta Neves, aqui em Belo Horizonte.

E aí foi piorando e eu falei: “Gente, não tem condição”.

Aí eu tive uma tireoidite: minha tireoide ficou totalmente instável, passei mal demais, os anticorpos subiram e eu falei: “Tem alguma coisa errada comigo”.

Eu comecei a estudar sozinha e eu comecei a ir em congressos de Nutrição Esportiva, porque eu estava interessada nisso, porque de obesidade eu tinha desistido.

E eu falei: “Essas dietas não adiantam nada, eles não seguem, a gente não consegue tratar e eu não vou tratar obeso”.

Pensava assim: “Vou ficar com os diabéticos, que tem remédio”.

Olha só a mentalidade.

Eu era igual aos meus colegas que não sabem tratar obeso e diabético.

Aí nesse congresso eu assisti uma aula que foi a aula em que a ficha caiu.

Foi uma aula sobre maratonistas que passam mal.

Não sei se vocês sabem disso, mas uma parte dos maratonistas vai ter uma diarreia ou vomitar durante a prova ou logo após a prova, alguma vez na vida.

Sempre. Vai acontecer.

A questão é quando isso vai acontecer.

E nessa aula eles explicaram que os grãos integrais — os grãos em si — tinham substâncias anti-nutrientes que pioravam a absorção de nutrientes no intestino e que a própria corrida causava um mal-estar muito grande.

Porque durante as maratonas é como se não tivesse sangue suficiente no intestino.

Porque o sangue vai para os músculos — é uma isquemia mesentérica, como nós falamos.

E com isso as pessoas passam muito mal.

E o grão integral piorava a absorção de nutrientes, piorava a flora intestinal.

E eu achei que aquilo fazia muito sentido — porque, quanto mais eu comi grãos integrais, pior eu fiquei.

Eu saí daquela aula… sabe quando cai a ficha?

Eu fiquei: “Gente, minha vida fez sentido. Vou cortar tudo”.

Eu já tinha cortado o açúcar há muito tempo porque eu sabia que fazia mal, mas eu estava na onda de queijo cottage, cozinhar com óleo vegetal de canola

Fui, tirei tudo e aí eu melhorei em 15 dias.

Eu comecei a melhorar muito rapidamente.

E uma representante de laboratório, a Kelly, foi no meu consultório e falou: “Jana, você está fazendo low-carb”.

E eu falei: “O que é low-carb?”, aí ela falou assim: “Conversa com o Neto”. “O Neto, Neto, Neto, que se formou comigo?”, aí ela falou: “É. Conversa com ele. Ele perdeu 20 quilos com a low-carb”.

Aí ela falou: “Entra nesse blog desse Urologista”, eu falei: “Eu? Blog de Urologista? Como assim Urologista falando de dieta?”. “Não, mas ele é muito bom”.

Aí eu peguei e liguei para o Neto.

Eu falei: “Neto, quem é esse tal de Souto?”, aí o Neto falou: “Minha querida, você está muito atrasada! Entra no blog e lê”.

Aí eu entrei no blog do Souto. A primeira postagem vi que tinha referência de um livro do Taubes e imediatamente eu comprei e li o livro.

Continuei lendo o blog e o livro e comecei a ler tudo o que eu via pela frente. E fiz.

Comecei a entrar em low-carb, só que eu já entrei direto na cetogênica.

Em 30 dias, gente, em 30 dias melhorou a minha intolerância à lactose, minha intolerância à carne vermelha…

Desde então, isso tem mais de… dois anos e meio?

Não lembro de quando foi isso.

Acho que foi 2015, ou 2016.

Mas eu nunca mais tive uma crise de enxaqueca. Nunca mais.

Meus anticorpos negativaram, minha tireoide está ótima, minha fadiga acabou, minha capacidade de concentração melhorou.

Ou seja, tudo o que as pessoas falam no Instagram, que a dieta tira a concentração, que a dieta cansa, que você não tem energia… é tudo mentira!

Na verdade, eu me senti muito bem e quanto mais eu me sentia bem, mais eu estudava.

Então no hospital que eu trabalhava as pessoas achavam que eu era louca.

Hoje metade dos médicos nesse hospital estão fazendo low-carb.”

E quanto mais médicos fazem, mais médicos se consultam comigo atualmente.

Então, mais ou menos, resumidamente, essa é a minha história de como eu iniciei nessa seara da low-carb.

Guilherme: Ah, muito bom! Muito interessante!

E é bacana ver que muitas vezes nós ficamos com medo de ficar cansado, ficar com confusão mental…

Só que quando nós vemos na prática é outra realidade, ?

Na prática nos sentimos bem — e não tem como discutir com os fatos.

Jana, você mencionou que a low-carb — a cetogênica mesmo, que é mais restrita ainda em carboidratos — ajudou bastante com a sua enxaqueca e que mesmo alguns médicos estão se consultando com você.

Que tipo de casos você atende mais no seu consultório no dia-a-dia?

Janaina Koenen: Eu atendo de tudo, viu?

Atualmente eu atendo muito obeso — e hoje eu amo tratar obeso porque eu sei que eu tenho uma ferramenta que ajuda.

E hoje eu sei que aquele preconceito que nós crescemos com ele dentro da Medicina – “Ah, o paciente não segue! Ah, o paciente está mentindo! Ele está comendo!” – não é verdade.

Lógico, existem pacientes com compulsão alimentar que precisam de ajuda e até disso eu gosto.

Eu estudei coaching, eu tenho uma equipe multidisciplinar legal — então hoje eu gosto de tratar, até nessas pessoas mais difíceis.

Eu tenho muitos pacientes compulsivos.

Mesmo em low-carb eles falam que low-carb piora a compulsão.

Eu não tenho essa experiência.

O paciente muito compulsivo não começa uma cetogênica de cara — claro, eu vou adequar a pessoa — mas eu tenho um Psiquiatra que trabalha comigo, um Nutricionista que trabalha comigo, coaches que trabalham comigo…

A gente trabalha junto!

Eu dou uma assistência muito do dia-a-dia, no WhatsApp mesmo, com o paciente.

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Então eu atendo compulsão alimentar, obesidade — eu amo agora atender obesos e eu tenho resultados muito bons.

Eu atendo Diabetes Tipo 2, pacientes que eu consigo tirar a insulina mesmo… da maioria deles, não todos.

Porque quando o paciente já tem muitos anos, já não tem pâncreas, já foi embora.

Mas de muitos deles a gente tira a insulina.

Diabetes tipo 1 é uma população crescente no meu consultório e eu tenho resultados muito bons.

Tireoide, porque eu estou estudando mais sobre a tireoide atualmente e a reposição de T3 em alguns pacientes que repõem T4 não melhoram, que têm T3 baixo, então é uma questão ainda controversa, tem muita briga na literatura.

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Mas eu gosto dessa área.

O que mais? Eu atendo câncer, enxaqueca…  e assim, não necessariamente a aplicação da cetogênica, da low-carb, acaba que são tratamentos adjuvantes que de alguma forma contribuem para a melhora do paciente.

E atendo crianças!

Algumas crianças com diabetes tipo 1.

Eu tenho um perfil mais de adulto no meu consultório, mas eu voltei a atender crianças, que no começo eu atendia muito, só para atender crianças obesas, mais velhas, tipo nove, dez anos de idade e diabéticos tipo 1.

Então eu tenho até umas crianças diabéticas tipo 1 no consultório, que nesse caso nós vamos falar sobre isso um pouquinho, aí eu prefiro atender junto com o Nutricionista e depois eu vou explicar o porquê.

Mas meu consultório é bem vasto, bem diversificado.

Roney: Ah, bacana, Jana!

Bom, já que você tocou no assunto do Diabetes tipo 1, que nós até tínhamos conversado de ser um dos tópicos dessa conversa, acho que você pode falar justamente sobre isso: sobre Diabetes tipo 1, low-carb, enfim, sinta-se à vontade para falar o que você achar mais importante sobre esse assunto.

Janaina Koenen: Gente, Diabetes tipo 1… eu fui preceptora do ambulatório de Diabetes tipo 1 do Hospital das Clínicas da UFMG.

Logo que eu terminei a Residência o Dr. Rodrigo Fóscolo que era o chefe lá, o Coordenador do ambulatório, me convidou para trabalhar com ele .

E nós fizemos um trabalho muito bacana, mas não existia low-carb na época.

Eu vi muitos adolescentes, muitos meninos de 21 anos amputando perna, cegos, que iam para o transplante e o transplante às vezes dava errado, tinha uma trombose… teve um menino de 18 anos que amputou uma perna.

Então é muito comum pegar os meninos vindos da Pediatria com a hemoglobina glicada de 16, 17 —  isso é altíssimo — que é um parâmetro que nós usamos para ter um controle e isso significa que a pessoa fica com a glicemia de 250 para cima o tempo inteiro.

E eu ficava muito triste.

Porque nós explicávamos as coisas, ensinávamos a contar carboidratos e os pacientes falavam: “Mas doutora, eu estou fazendo o que a senhora está mandando. Eu aplico a insulina, como o mesmo pão todo dia e tem dia que a glicose vai para 300 e outro dia ela vai para 60”.

Aí eu falava: “Ah, mas você está contando errado! Usa uma balança, pesa…”.

“Mas doutora, eu estou usando rótulo”. Aí eu ficava olhando aquilo: “Ah, às vezes você ficou nervoso nesse dia, estava menstruada… os hormônios alteram” — o que é verdade — e eu sempre tinha uma desculpa na minha cabeça para aquilo não estar dando certo.

Tinham alguns pacientes, 10% dos pacientes, tinham um controle excepcional, que davam certo com contagem de carboidratos, faziam muito esporte e melhoravam a Resistência à Insulina.

Mas a maioria deles tinha essa montanha-russa, sabe?

E nós pegamos o exame de sangue… essa hemoglobina glicada não é o melhor exame para a gente ter um controle de um diabético, tanto que ela é criticada hoje: se vale a pena baixar tanto a hemoglobina glicada.

Por quê? Porque se a pessoa tem muita hipoglicemia, que é a glicose baixa, a hemoglobina glicada vem boa.

Na hora que você põe o sensor na pessoa, de glicose e de glicemia, um dia a glicose está 40 e no outro está 500. Então varia muito.

É como se fosse uma montanha-russa mesmo.

Essa montanha-russa aumenta a mortalidade; aumenta a lesão de visão, na retina; aumenta a lesão no rim; aumenta a lesão nos nervos, que vai dar dormência, queimação, perda de sensibilidade nos pés, que um dia vai levar à amputação.

Então nós não queremos que a glicemia varie tanto.

Então não adianta a pessoa ter uma hemoglobina glicada boa no exame de sangue se o perfil dela do dia-a-dia for isso, for montanha-russa.

E as pessoas não estão se atendo a isso, não estão prestando atenção nisso.

Guilherme: Então que tipo de outros marcadores você acharia mais importante? Um teste oral de tolerância à glicose? Que outra coisa você usaria no lugar da hemoglobina glicada, por exemplo?

Janaina Koenen: Não tem.

Na verdade o diabético tipo 1, a gente usa a hemoglobina glicada…

E todos esses exames: a frutosamina, que olha o controle das últimas três semanas; a hemoglobina glicada, que olha o controle dos últimos três meses.

Por que o que acontece? A glicada é útil quando ela vem alta.

Porque o paciente pode chutar o balde, literalmente, nesses três meses e aí duas semanas antes da consulta, seguir a dieta e vir com o mapa lindo.

Entendeu?

Mas a glicada mostra para a gente o que a pessoa fez durante os três meses.

Quando ela vem alta eu tenho certeza que não está bom.

Quando ela vem baixa, ela vem normal, eu não sei.

Aí pode ser que a pessoa está ótima ou pode ser que a pessoa esteja tendo muito hipoglicemia.

Curiosamente, no estado há pessoas que têm o Brittle Diabetes, que é o Diabetes muito lábil, ou seja, que a pessoa vai de 40 a 500 só de espirrar, essas pessoas têm muita dificuldade de se controlar com insulina comuns, a INPH irregular, que dá no posto.

Então o estado, às vezes dá a Glargina, que é a insulina que dura mais, que tem menos pico e os diabéticos começam a usar.

Aí curiosamente, quando eles começam a usar, às vezes a hemoglobina glicada sobe e o estado corta a insulina.

E fala que eles não estão seguindo o tratamento, então eles não merecem ganhar a insulina.

Eu já vi sendo negado várias vezes.

E na verdade, o que acontece é que a pessoa para de ter hipoglicemia, a glicose fica mais estável e aí você vê, você consegue enxergar que estava ruim mesmo porque fica alto.

Não é que a pessoa piorou o controle.

É que a hemoglobina glicada não é um bom parâmetro nesse aspecto, então ela é boa quando está alta, que nós vamos olhar e falar: “Não, o controle não está bom”.

Então eu peço a hemoglobina glicada sempre.

Mas quando ela vem boa ou baixa, eu vou olhar o mapa glicêmico.

Os meus pacientes, ou têm sensor (que eu acho que é a melhor coisa que existe) — quem usa um sensor sabe disso porque você vai enxergar o efeito da comida mesmo.

Não é aquela coisa que… eu gosto de brincar que um diabético sem sensor ou sem medir as glicemias pelo menos seis vezes por dia — cinco a seis vezes na Diebetes tipo 1 — é como se fosse uma pessoa dirigindo com os olhos vendados.

Porque você tem que aplicar a insulina e você não tem informação suficiente.

Guilherme: Faz total sentido.

Janaina Koenen: Então nós não fazemos curva de intolerância à glicemia em Diabetes tipo 1. Nós fazemos em Diabetes tipo 2.

Guilherme: Sim, sim, é verdade.

Janaina Koenen: Então a gente faz só a glicada mesmo, a glicemia de jejum também que não ajuda nada, claro, e o mapa glicêmico, que é o mais importante. Todo paciente meu tem que trazer o mapa ou o perfil do sensor, que a gente baixa no computador e olha.

Guilherme: Certo.

Então a consequência lógica de você perceber que existe esse descontrole ruim era justamente fornecer menos glicose na alimentação.

Foi assim que você chegou em uma dieta mais low-carb para diabéticos tipo 1?

Como foi essa história, o raciocínio para chegar nisso?

Janaina Koenen: Então, é muito interessante, gente.

Vocês, vejam bem… a ANVISA permite uma variação de 20% para mais ou para menos nos ingredientes declarados nos rótulos dos alimentos.

Isso quer dizer que se você vai comprar um macarrão e lá está escrito que em 100 gramas daquele macarrão tem 90 gramas de carboidrato, na verdade pode ter 20% a mais ou 20% a menos.

Só que você vai aplicar insulina baseado naquela informação.

E dependendo da pessoa, da sensibilidade à insulina, a glicemia dela pode ir a 200 ou a zero.

Ou seja, ela pode ter uma hipoglicemia.

Comendo a mesma quantidade, se ela comprar um pacote de macarrão hoje, da mesma marca e outro pacote amanhã, a quantidade de carboidrato varia entre eles.

Que dirá um biscoito, um pão de queijo…

Imagina em um self service, que não tem como você pesar seu arroz que você está se servindo direitinho ou o feijão que você está se servindo?

Então a quantidade de carboidrato dos rótulos não é fidedigna, não é verdadeira.

Ela varia 20% para mais ou para menos e isso é permitido por lei.

Diabético tipo 1 precisa aplicar insulina para comer, então ele tem que contar quanto de carboidrato tem ali, ele vai aplicar insulina para aquele tanto de carboidrato. Entendeu?

Se tem menos carboidrato do que está no rótulo, ele vai fazer uma hipoglicemia. Se tem mais, a glicose vai subir.

Percebe? Então isso é um fator de confusão, um fator que atrapalha.

Se você come carboidrato com gordura, por exemplo, uma feijoada, a glicose demora a começar a subir porque a gordura atrasa a absorção do carboidrato, então ela vai subir depois.

Pode ser que a pessoa faça uma hipoglicemia logo depois de comer, porque ela aplicou insulina e depois a glicose suba.

Então o que você come junto altera o índice glicêmico, que é o tanto que a glicose vai subir, a rapidez que ela sobe.

Para atrapalhar mais ainda, a absorção da insulina pode variar 25% na mesma pessoa com a técnica correta.

Então se você aplica a insulina hoje, no mesmo lugar, com a técnica correta, você pode absorver 25%, mais ou menos, do que amanhã. Existem estudos mostrando isso.

No meu Instagram eu fiz algumas postagens mostrando esses estudos para as pessoas terem referência bibliográfica e eu vou deixar os links com vocês para as pessoas depois consultarem.

(Eles estão todos no começo deste post.)

Mas olha como começa a complicar, ?

Então, além disso, quanto mais insulina você aplica, pior é a absorção. Pode ficar mais lento.

Então uma insulina regular que teoricamente começa a absorver com meia hora e faz o pico com duas horas a quatro, pode fazer com seis a oito, dependendo da quantidade que você aplica.

E a gente tem pessoas comendo quantidades cavalares de carboidrato e aplicando 10, 12, 20 unidades de regular.

Essa insulina não vai ter a ação que você espera.

Ou seja, quanto mais carboidrato que você come, mais insulina você precisa para comer, maior o erro.

Percebe? Se você come pouco carboidrato, você aplica menos insulina, e fica menor o erro.

Quem fala muito isso é a das quantidades menores, números menores, é o Bernstein.

Ele é um médico, escreveu um livro, que é o Diabetes Solution, que eu acho que vale a pena aprender inglês para ler — o Souto falou isso uma vez e eu concordo com ele.

Tem três livros que eu acho que vale a pena aprender inglês para ler, que eu vou deixar com vocês, para diabéticos tipo 1.

Esse livro eu li, ele mudou minha cabeça totalmente – e eu fui a preceptora de um ambulatório de Diabetes tipo 1!

E esse livro mudou completamente a minha forma de tratar o Diabetes tipo 1.

Eu fico triste de não estar mais nesse ambulatório e não poder aplicar.

Embora eu saiba que a Sociedade Brasileira de Diabetes até soltou uma nota contra low-carb contra Diabetes tipo 1.

Eu era da Sociedade Brasileira de Diabetes. Eu sou titular da Sociedade.

Eu sou associada. Mas eu era da Comissão Científica. Hoje eu não sou mais.

Mas eu gostaria muito de introduzir isso em algum momento.

A gente vai falar aqui hoje, está na guideline e tal, a gente vai conversar sobre isso.

Mas vejam que esse livro mudou completamente a minha forma de tratar Diabetes.

O Bernstein tem 85 anos, ele já tinha neuropatia, tinha gastroparesia, que são complicações da Diabetes.

Ele reverteu todas.

Hoje ele não tem complicações.

Ele é uma das pessoas mais velhas vivas sem complicações do Diabetes e ele escreveu esse livro, tem um canal no YouTube – chama Diabetes University, que é Universidade Diabetes — e ele ensina as pessoas.

E ele sempre fala isso: “Tem que fazer uma dieta de baixo carboidrato”.

E é aí que vem a pegadinha.

As pessoas acham que a dieta para Diabetes tipo 1 é a low-carb/high fat. Mas não é.”

Porque a gordura nós não conseguimos contar para aplicar insulina e acertar na conta.

A gordura demora muito para ser absorvida.

Então não é uma dieta de alta gordura para Diabetes tipo 1.

Para Diabetes tipo 2 pode até ser. Depende do paciente.

Guilherme: Ah, eu queria saber quais são os outros dois livros. Você mencionou três.

Janaina Koenen: Um é do Adam Brown, que chama Bright Spots and Landmines – Pontos Brilhantes e Minas — aquelas minas de terra que as pessoas pisam e amputam a perna, ? Minas de solo, de guerra.

Quer dizer, são pontos brilhantes na sua atitude do dia-a-dia que dão certo no Diabetes e que você deve repetir e fazer parte do padrão.

E as landmines são as coisas que dão errado, que a maioria dos diabéticos simplesmente ignoram. E não pode ignorar.

O que dá errado você tem que usar aquilo como uma ferramenta para te ajudar a melhorar e não fazer aquilo mais.

Tanto o Bernstein quanto o Adam Brown fizeram isso.

Eles comiam carboidrato, a glicose subia, eles não comiam mais aquele carboidrato.

Eles começaram a testar todos os alimentos e viam o que mais subia a glicose e aquilo eles não comiam.

Então eles começaram a comer mais vegetais fibrosos… que é a low-carb, ?

Mas eles perceberam que a gordura aumentava muito a glicose, que era imprevisível, que não tinha como você comer muita gordura e logo depois aplicar a insulina e dar certo.

Então quem usa bomba de insulina, a bomba consegue fazer isso.

Ela tem um bolus que libera um pouquinho agora e mais depois, que é o bolus quadrado, o bolus pizza, que chama, carinhosamente.

A primeira lombada é para carboidrato da pizza. Isso sim consegue controlar, mas quem usa insulina de injeção, é mais difícil. E eles perceberam isso

Então tanto o Bernstein quanto o Adam Brown perceberam que comer proteína era melhor.

Então a low-carb para Diabetes tipo 1 é uma dieta low-carb/high protein.

Tem mais proteína. Porque a proteína a gente consegue contar.

E não necessariamente é uma carne gorda, mas uma carne mais magra.

Então a gordura é para complementar. É para dar saciedade mesmo.

Você vai colocar mais proteína no prato, um pouco de azeite, um pouco de gordura no prato —  da própria carne, nunca suplementar gordura — e aí você vai contar proteína.

E a gente não usa insulina ultrarrápida para contar proteína porque a proteína demora duas horas para subir a glicemia.

A gente usa a insulina regular. Então o tratamento é completamente diferente.

Nós usamos as insulinas, o perfil delas serem diferentes, que antes nós falávamos: “Essa é mais moderna e eu vou usar só essa”. Não. As insulinas são como ferramentas de uma caixa de ferramentas.

O que nós usamos no Diabetes tipo 1, dependendo da fechadura, da porta que você quer acertar, do que você come, do tempo que você vai demorar para subir a glicemia… então é muito mais dinâmico.

E aí vem o nome do terceiro livro, que chama Sugar Surfing, que é Surfando no Açúcar. Esse livro é o terceiro livro.

Só dá para ler quem já tem sensor e quem já leu os outros dois — pelo menos o do Adam Brown — é um livro mais complexo.

Ele ensina o monitoramento dinâmico do Diabetes.

Então ele ensina a pessoa a olhar o que está acontecendo no padrão do sensor — aí só com o sensor — e como você faz para nem deixá-lo subir.

Então às vezes a glicose está um pouco alta, você espera um pouco mais para almoçar, ou vai dar uma caminhada antes do almoço… então ela nunca sai do alvo, sabe?

É muito interessante esse livro, muito rico.

Tudo aquilo que as pessoas falam: “Nossa, eu faço low-carb perfeito, mas falta aquele ajuste fino”. Esse livro dá.

Então é um livro interessantíssimo de ser lido.

Pronto, falei os três livros!

Roney: Ah, muito legal, Jana!

Já anotamos aqui para ler, com certeza.

Janaina Koenen: Eu postei no Instagram! Aí eu vou te dar o link dele. Tem a capa deles para vocês.

Roney: Ah, maravilha!

Enquanto você falava sobre a questão das gorduras me surgiu uma dúvida (e que talvez tenha sido dúvida de outras pessoas) que nós geralmente ouvimos dizer que: “Ah, gordura não eleva a insulina”.

E eu queria saber como é essa interação que você falou que a gordura não é tão boa para os diabéticos tipo 1 por causa justamente da questão da insulina.

Janaina Koenen: A gordura não eleva a insulina, mas muita gordura, eventualmente, vira glicose.

A glicemia sobe depois.

Então, no diabético tipo 1, por exemplo, isso é muito comum.

O diabético tipo 1 que faz low-carb errado, sem orientação, janta, a glicemia fica ótima antes de dormir, quando dá duas da manhã a glicemia vai a 300.

Aí eles chegam assim no meu consultório: “Mas Janaína, eu não sei o que fazer”.

Aí eu falo assim: “Vamos sentar aqui. Me fala o que você comeu nesse dia”.

Aí eles começam a falar. Invariavelmente o dia em que a glicose subiu às duas da manhã e ficou alta a madrugada inteira eles comeram gordura à noite: ou um churrasco, ou uma coisa com muito creme de leite…

Então é fato que a glicose sobe.

A insulina subir no Diabetes tipo 1 não acontece porque ele não tem insulina nenhuma.

Então, a gordura em si, não sobe a insulina, mas se você consome uma quantidade absurda de gordura e essa gordura aumenta a glicemia tardiamente, você pode, sim, ter um pico de insulina.

Nunca é um pico como um pico de quando você consome carboidrato, mas a insulina pode subir em decorrência da subida da glicose. É uma coisa secundária. Entendeu?

Roney: Certo, perfeito.

Janaina Koenen: Mas é muito comum isso.

Se os diabéticos estiverem me ouvindo, se vocês observarem isso, tanto que eu sugiro: se vocês querem fazer um churrasquinho, comerem uma carne mais gorda, façam no almoço e três, quatro horas depois comecem a acompanhar a glicemia e corrijam.

Corrijam, se necessário, porque não tem como ficar contando gordura.

É muito difícil porque não tem insulina com esse perfil, que começa a dar pico quatro horas depois, certinho,

Então é melhor você ir acompanhando e aí o tal do surfar na onda da glicose, do açúcar, como se você estivesse surfando mesmo, olhando para onde está indo e aí você corrige, se necessário.

E à noite comer uma carne magra mesmo e contar a proteína.

Eu sugiro que ninguém comece a low-carb sem um Endócrino junto ou um Nutricionista com experiência, que eu conheço pouquíssimos com Diabetes tipo 1.

Para mexer a insulina eu acho que tem que ser um Endócrino porque você pode ter uma hipoglicemia monstruosa porque além de você não usar a ultrarrápida para comer, você vai usar a regular para cobrir proteína, a dose da basal pode ser reduzida em até 70%, que é a insulina que eles usam só para manter o básico, que são as insulinas lentas.

Então é muito perigoso. A pessoa pode ter hipoglicemia.

É interessante que ninguém empolgue, que comece a fazer low-carb sem reduzir a insulina concomitantemente.

Não dá para esperar: “Ah, na hora que começar a baixar, eu vou reduzir”. Não.

Na hora que eu passo a low-carb eu já reduzo 30% a basal, eu olho o mapa da pessoa diariamente, eu acompanho tudo, porque realmente é dinâmico, sabe?

Não é que a pessoa de um dia para o outro vai chegar na glicemia que é para ser já. É dinâmico.

A pessoa pode ter muita resistência à insulina de tanto carboidrato que ela come e com o tempo vai melhorando.

Então, às vezes, no começo você reduz pouco, de repente a glicose despenca e você tem que reduzir muito.

Então, alertando, para ninguém começar a fazer do nada, sem orientação adequada e acompanhamento diário de um Endócrino, com muita paciência e muito amor, que é necessário e nada mais do que justo.

Roney: Ah, com certeza!

A gente sempre ressalta aqui nos nossos textos de low-carb a importância de começar com um acompanhamento de um Médico ou Nutricionista, principalmente… em todos os casos, mas principalmente no caso de já ter uma condição pré-existente, como Diabetes tipo 1, Diabetes tipo 2… enfim, nós sempre ressaltamos essa importância.

Jana, mudando um pouquinho de assunto, nós gostaríamos também de falar um pouco sobre enxaqueca.

Achamos um tópico legal, acho que ainda não cobrimos no podcast.

Você pode falar um pouquinho para nós de enxaqueca, tratamento para enxaqueca?

Janaina Koenen: Posso sim.

A enxaqueca acomete muitas pessoas, eu não sei exatamente os números, mas é muito frequente as pessoas se queixarem — mulheres, principalmente, no período pré-menstrual.

É uma dor vascular, é um espasmo arterial.

As artérias se apertam e soltam e aí vem uma dor.

Então por isso que a dipirona, paracetamol, que são os analgésicos comuns, não têm uma ação muito boa nesse tipo de enxaqueca.

Nós usamos drogas específicas. Eu sei que aqui não é para falar de drogas para enxaqueca, mas só para saber que os tratamentos são diferentes.

Têm pessoas que pioram muito na fase pré-menstrual e têm pessoas que têm direto, independente da menstruação.

É uma dor de cabeça muito forte, geralmente, para quem não sabe o que é exatamente, é uma dor que pulsa.

Ela fica latejando, geralmente na têmpora, que é na região entre a orelha e os olhos, aqui do lado da cabeça, e geralmente ela é de um lado só.

A pessoa pode ter uma aura antes, que geralmente a pessoa enxerga umas luzinhas, que são tipo uns vagalumes, que nós chamamos de escotomas.

Ou ela pode sentir um cheiro ruim; ou a luz pode incomodar muito e pode dar uma náusea, um enjoo. Isso chama aura.

Geralmente quem tem enxaqueca com auras as enxaquecas são mais graves.

Então ela já sabe que vai ter a dor.

Então tem que tomar o remédio na hora da aura. Não é para esperar a dor vir.

Nunca sem ir no médico, , gente?

Quem está se identificando: “Eu tenho isso!”, vai no Neurologista, faz o diagnóstico direitinho. Vale a pena ir.

Quem tem enxaqueca com aura não pode tomar anticoncepcional oral porque aumenta o risco de AVC. Eu já vi casos.

Realmente é muito perigoso, então, se você é mulher e tem enxaqueca com aura, vai no seu Ginecologista, vai trocar; põe o DIU, usa outra pílula, se for o caso.

Bom, então vem a dor. E essa dor não passa por nada no mundo.

A pessoa vai ficar em um quarto escuro.

A luz incomoda, barulho incomoda, dá enjoo, têm pessoas que vomitam e, dependendo do grau, o remédio oral não adianta.

Então isso é enxaqueca.

Têm vários níveis, como vocês podem perceber.

Tem gente que toma Neosaldina e resolve, mas quem tem enxaqueca mesmo, não.

A minha enxaqueca eu tinha que ir para o hospital, tomar corticoide na veia, tomava remédio nasal — os medicamentos que vão pelo nariz — porque eu vomitava e tal.

Têm tratamentos para prevenir a enxaqueca: tem antidepressivos, que aumentam o ganho de peso demais, tem muito efeito colateral, dá constipação, boca seca…

Não vou falar os nomes aqui.

Tem anticonvulsivantes que tratam enxaqueca, que são bons para dor crônica, mas que por outro lado dão déficit de atenção — eu tenho pacientes que já caíram do banquinho.

Subiu no banquinho, esqueceu que estavam em cima do banquinho, caiu e quebrou o braço, por uso dessas medicações.

Guilherme: Caramba!

Janaina Koenen: Tem gente que está indo para casa, esquece que estava indo para casa, esquece onde é casa, esquece a chave…

Então tem pessoas que ficam muito bem, e tem pessoas que têm muitos efeitos colaterais.

Então não é que é uma doença com tratamento estabelecido, que está ótimo, lindo e maravilhoso.

Para que outra droga? Para que outra ideia? Porque são tratamentos difíceis.

Eu tenho pacientes que não se adaptaram.

Eu mesma não quis tomar nada disso porque eu tinha medo dos efeitos colaterais, embora tenha sido indicado para mim porque a minha enxaqueca era grave.

E aí vem a ideia…  eu nem sabia que a dieta cetogênica melhorava a enxaqueca!

Eu achei curioso porque nunca mais eu tive crise nenhuma.

Aí eu entrei no PubMed, porque eu gosto de olhar tudo na raiz, sou meio chata com isso, e fui estudar.

E achei pouca coisa na literatura, mas achei.

Achei alguns artigos mostrando várias aplicações da dieta cetogênica na Neurologia, então não só na enxaqueca: têm alguns estudos em déficit de atenção.

A dieta cetogênica, então, algumas crianças estão sendo estudadas fazendo dieta cetogênica, que tem que ser acompanhada com um especialista, com Nutricionista.

O problema da dieta cetogênica em criança é a deficiência de Cálcio e de alguns nutrientes, que tem que ser muito bem equilibrada, algumas coisas têm que suplementadas.

Então eu não aconselho ninguém fazer nem low-carb para crianças em Diabetes tipo 1, nem cetogênica, sem acompanhamento de um Nutricionista, suplementação de Cálcio e Vitamina D e das calorias.

Porque é importante as calorias estarem adequadas para a fase de crescimento de cada criança. A mesma coisa para a cetogênica.

Então a enxaqueca, eu achei, tem na literatura, a dieta cetogênica tem uma ação anti-inflamatória no Sistema Nervoso Central: nos neurônios, no cérebro.

Os neurônios consomem glicose, mas eles são perfeitamente capazes de consumir corpos cetônicos, que é o que aumenta no sangue quando nós fazemos uma dieta cetogênica, que é quando nós comemos menos de 25 gramas de carboidrato por dia — algumas pessoas menos, algumas pessoas mais, isso é individualizado.

Então eles perceberam que tem essa ação anti-inflamatória no cérebro e começaram a testar para várias doenças.

Na verdade, é uma dieta antiquíssima.

Nos anos 20 já se usava a dieta cetogênica para epilepsia.

Então a epilepsia refratária, na qual nada melhorava em crianças, eles usavam a cetogênica com boa resposta.

Mas aí apareceram os anticonvulsivantes: “, é melhor deixar o menino comer o docinho dele, o arrozinho, carboidrato, crescer sem problema nenhum e sem ficar com essa preocupação de contar a caloria dos nutrientes, já que tem o remédio”.

Então caiu em desuso.

Mas até hoje a dieta cetogênica é muito utilizada aqui em Belo Horizonte, na CGP, que é o Centro Geral de Pediatria, que tem um ambulatório de doenças metabólicas e de epilepsia, que se usa dieta cetogênica em crianças.

Não é nada absurdo, nada radical no sentido de que: “Olha, estou experimentando nas pessoas”. Não.

Existem ambulatórios especializadíssimos em Belo Horizonte, do SUS, excelentes, onde se faz dieta cetogênica em crianças.

E eu tenho experiência com pacientes epiléticos também no meu consultório, no qual eu consegui reduzir muito a dose de anticonvulsivante.

Alguns pacientes ficaram sem. Outros usavam três ou quatro e agora estão com dois.

Então os Neurologistas deles ficaram super satisfeitos porque perde gordura corporal, melhora o foco deles, eles se sentem mais dispostos e conseguem reduzir um pouco essas drogas que têm muito efeito colateral.

Então essa ação anti-inflamatória, tanto na enxaqueca quanto na epilepsia, vem crescendo no sentido de estudos, na literatura está lotado de estudo.

Não é moda como as pessoas gostam de falar.

É percebido um aumento de foco, de concentração, melhora da disposição e da qualidade de vida.

Mesmo em assuntos controversos, como câncer, os pacientes foram testados, têm algumas meta-análises em dieta cetogênica em câncer terminal, em pacientes terminais, que estão muito cansados, muito debilitados e a dieta cetogênica melhorou a qualidade de vida.

A gente pode até fazer um podcast só disso se vocês quiserem.

E eu não estou falando de cura de câncer nem nada assim. Eu estou falando de qualidade de vida e disposição — porque nós sabemos que quimioterapia e radioterapia acabam com a pessoa. “

A pessoa fica muito cansada e não tem jeito, tem que fazer, tem que tratar o câncer.

Mas dá um cansaço danado.

Fora o câncer em si que aumenta a inflamação e dá cansaço, então a dieta cetogênica em um paciente tão debilitado consegue melhorar a qualidade de vida.

Eu vejo algumas postagens de pessoas no Instagram falando que diminui o foco da pessoa, a pessoa não tem foco…

Isso é só no comecinho da dieta, e olhe lá.

Porque, se você suplementar sal, magnésio e potássio — se você comer abacate; se você comer castanhas, como baru, amêndoas; salsão, que tem muito potássio — se você suplementar magnésio, seja via oral, seja comendo semente de abóbora, castanha-do-Pará, folhas verdes escuras; e comer muito sal e hidratar; talvez você não sinta nada.

E se você sentir, você põe um pouco de sal na boca e vira um copo d’água e em dez minutos você melhora.

Porque isso é o que acontece no começo da cetogênica: a gente perde sal, potássio e magnésio pela urina.

Uma pessoa que pega uma dieta de blog e vai fazer não sabe disso.

Cada um é de um jeito.

Um hipertenso que usa um diurético vai passar mal.

Eu tiro o diurético de hipertenso que eu acompanho e faz low-carb.

Imagina uma cetogênica.

Então não é que ela faz a pessoa passar mal.

Isso é uma adaptação do corpo da gente a uma dieta diferente.

Então é muito tranquilo. Eu acompanho pacientes e é muito tranquilo.

Raramente alguém passa mal e aí é só por sal na boca e melhora em dez minutos.

Eles ficam bobos: “Nossa, é mesmo, sal. Já melhorei”.

Então não justifica não tentar, sabe?

E com relação à enxaqueca eu não tenho nenhum paciente no meu consultório que tenha feito cetogênica e tenha entrado em cetose efetivamente que não esteja sem crise.

Ou pelo menos que não tenha melhorado absurdamente, tanto a intensidade quanto a frequência das crises de enxaqueca.

Para falar a verdade eu tenho uma paciente que não melhorou, mas ela nunca entrou em cetose.

Então tinham outras questões da dieta, do estilo de vida, que ela não conseguia entrar em cetose.

Mas todos os pacientes que fizeram dieta cetogênica e tinham enxaqueca, todos melhoraram.

Guilherme: Caramba, fascinante!

E é uma coisa que não é muito divulgada.

Pelo menos nós mesmos nunca vemos, claro, na mídia e tudo não nem como esperar.

Se já falam mal da low-carb na maior parte do tempo, ou então que “ajuda a emagrecer, mas é perigosa”…

Então é por isso que é fascinante ver uma dieta que é bem baixa em carboidratos, justamente sendo usada como terapia, como forma complementar de ajudar a tratar condições de saúde importantes.

Janaina Koenen: E vale a pena!

As pessoas me perguntavam: “Você não sente falta da batata?”.

Eu falava: “Claro que eu sinto! Eu sou alemã! Mas eu tenho uma motivação muito boa. Eu estou bem, eu estou tranquila, eu consigo dormir melhor, eu consigo estudar melhor, eu guardo as informações que eu leio, eu tenho muito mais foco, eu não fico passando mal, tremendo…”.

Eu dava aula para residente no hospital, eu tinha a cadeira de residente, chegava 11h00 eu estava tremendo, mal-humorada e com dor de cabeça. Acabou tudo!

Eu não tinha mais a dependência do carboidrato; eu podia comer a hora que eu quisesse; escolher o que eu ia comer.

Se eu ia em uma festa e não tinha nada que eu podia comer, eu simplesmente jejuava, não comia e comia depois; eu não tinha mais dor de cabeça…

Só quem tem enxaqueca grave sabe como é difícil você ficar dois, três dias passando mal.

Porque na hora que você toma remédio para a dor, melhora a dor. Mas você fica com uma ressaca daquele remédio dois, três dias.

Então só quem sabe, quem tem enxaqueca sabe o tanto que isso atrapalha o dia-a-dia.

E é uma motivação muito boa que eu tinha.

As pessoas falam: “Nossa, mas é uma dieta tão restritiva”.

Eu falo: “Gente, eu tinha restrição: eu não conseguia comer carne, eu não conseguia comer nada com lactose, tudo em fazia mal, tudo me dava gases. Eu tirei os grãos, eu tirei o açúcar, eu melhorei completamente”.

Então eu tenho muito menos restrição hoje.

Eu tenho uma motivação muito boa.

Se você consegue ser magro, bonito, sarado, gostoso, saudável comendo carboidrato, tapioca, arroz com feijão; não tem problema, mas têm pessoas que são doentes, que precisam de uma alternativa.

E a gente simplesmente não fala sobre isso mais.

Então no meu consultório eu tenho pessoas que chegam: “Ah, doutora, eu ouvi que é bom tirar o glúten”, eu falo assim: “Você tem algum problema de saúde?”, “Não”; “Você está magro? Está.”; “Você faz muita atividade física?”, ”Faço”; “Sente alguma coisa?”, “Não”; “Então pode comer seu arroz com feijão e comer seu macarrão de vez em quando”.

Eu não tiro não, não sou radical que todo mundo tem que fazer essa dieta.

Tem muita gente que faz trabalho braçal, que come arroz com feijão e está saudável.

O problema é quando eles começam a comer pão de sal com refrigerante no intervalo e quando eles param de fazer essa atividade física, daí dez anos eles ficam todos obesos, como muitos atletas que nós vemos.

Então eu não acho que a dieta rica em carboidrato com 50.000 calorias vindas de carboidrato é a melhor dieta para o atleta.

Eu não acho. Mas têm atletas que precisam.

Eu acho que tem que individualizar.

Agora, a gente negar uma informação que está na literatura… podem jogar no PubMed “Enxaqueca e dieta cetogênica” e vocês vão ver e estudos.

E assim, a minha experiência, eu falo porque eu tenho experiência pessoal e de consultório, muito boa.

E tem drogas que não melhoraram a enxaqueca. Tem drogas que não melhoram a epilepsia.

Então falar assim: “Mas nem todo mundo melhora?”, isso não é uma desculpa aceitável.

Porque nem todo mundo responde às drogas para a Diabetes e acaba indo para a insulina.

Nem todo mundo responde às drogas para a epilepsia e fica tendo uma crise atrás da outra, tomando três, quatro anticonvulsivantes, cheio de efeito colateral.

Nem todo mundo responde às drogas para a enxaqueca e fica aí caído três dias por mês no hospital.

Existe um tratamento adjuvante que nós podemos começar, que não interfere em nada, quem sabe reduz as drogas ou tirar.

Por que não tentar?

Falar que é perigoso, uma dieta que é feita em criança, há anos, que tem laboratórios especializados de Pediatria que faz isso.

Uma dieta tem que ser equilibrada.

Ela não vai ficar bebendo óleo e comendo torresmo.

Eu faço uma cetogênica rica em verduras, folhas verdes escuras, cores no prato. Eu gosto muito do protocolo da Wahls. Já leram esse livro?

Guilherme: O do Protocolo Autoimune?

Janaina Koenen: É, mas não é só Autoimune. Ela tem três protocolos.

É muito interessante como ela consegue fazer uma dieta cetogênica equilibrada nutricionalmente. Então eu sigo muito essa linha. Eu me preocupo muito com isso.

Guilherme: Muitos vegetais de folhas verde escuras, é isso?

Janaina Koenen: Isso, folha verde escura.

Eu falo para os meus pacientes: “Eu quero que você emagreça e cure a sua enxaqueca, com os cabelos na cabeça, com a pele bonita, com saúde.

E não comendo só bacon co



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Podcast #045 — Endócrino Janaína Koenen Fala De Dieta Cetogênica Para Diabetes Tipo 1 E Enxaqueca

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