RIO – Os números animam. De acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), em um ano economicamente complicado, o mercado de franquias no Rio cresceu 2,1% no primeiro semestre de 2017, faturando cerca de R$ 7,8 bilhões. No acumulado do primeiro semestre deste ano, o crescimento no faturamento foi de 8% comparado com mesmo período de 2016. Os números de redes e de pontos também aumentaram. A “mortalidade” é pequena: em torno de 5%.
Baseando-se nisso, muitas pessoas que sonham em abrir um negócio — ou que são empurradas para isto por conta da escassez no mercado do trabalho — optam pela “pseudo segurança” de franquias.
No entanto, elas se esquecem que fora o desempenho do setor e o preço da franquia, outros fatores devem ser levados em conta antes de optar por um negócio. E o mais importante deles é o perfil e a personalidade do empreendedor. Não adianta comprar uma franquia de hambúrgueres se o investidor é vegano.
— As pessoas não podem ir atrás de modismos, é preciso escolher uma área que se goste. E, por incrível que pareça, já vi muita gente cometer este tipo de falha. É preciso se perguntar: o que faz sentido pra mim? — diz o professor da FGV e diretor executivo do Canal Vertical, Roberto Kanter.
Assim fez o contador Marcelo Martins Fonseca, de 49 anos, que abriu uma unidade da ContabExpress há um mês. Após 20 anos numa empresa privada e de uma malsucedida experiência com um sócio, ele decidiu apostar no sistema de franquias.
— Optei por essa modalidade pois, enquanto eles cuidam mais da parte operacional, posso gerenciar a empresa, além de visitar e entrar em contato com os clientes, que é o que realmente gosto de fazer — conta ele.
Nos dias 28 a 30, 250 marcas estarão na Expo Franchising ABF Rio, no Riocentro. Para facilitar a escolha, selecionamos os setores que tiveram crescimento no faturamento no primeiro semestre e perguntamos para especialistas como deve ser o perfil do empreendedor para cada um.
Além do gosto pelo segmento, Eliane Bernardino, presidente da ABF Rio, defende que, ao escolher uma marca, é preciso identificação com os valores, a cultura e o propósito da empresa.
— Não é compra de um emprego, nem é um negocio independente, no qual há liberdade para fazer mudanças. É importante conhecer antes qual o papel de cada parte. E entender as vantagens e as desvantagens do sistema — defende ela.
André Luis Soares Pereira, fundador e consultor da GSPP, compartilha da opinião. Para ele, o primeiro passo quando se pretende montar uma franquia é verificar se existe aptidão para empreender.
— É preciso estar disposto a correr riscos, não ter salário fixo, trabalhar muito mais do que sendo CLT e ter capital disponível para o negócio que pretende montar — diz ele, que continua:
— Da mesma maneira que as franqueadoras sérias avaliam os candidatos que almejam ingressar na sua rede, os candidatos a franqueados também devem analisar com muito critério onde estarão investindo suas economias. Essa escolha é um passo importante e muitas vezes definitivo na vida de uma pessoa. Não é uma compra de impulso, de paixão pelo produto ou por uma determinada marca. Esta decisão requer uma análise prévia criteriosa e um envolvimento profundo após a tomada de decisão — argumenta ele.
Roberto Moreno tem uma unidade do Spa do Pé há mais de 20 anos. Consultor de engenharia, ele queria mudar de área e viu no segmento de bem-estar uma boa opção para empreender. Procurou, pesquisou e acredita que tomou a decisão correta.
— A crise afetou a todos, mas, como tenho uma clientela de bairro muito fiel há mais de 20 anos, a perda não foi catastrófica — explica ele, que tem apoio do franqueador para a substituição de mão de obra quando necessário e marketing.
PERGUNTAS BÁSICAS
Saber o que a franquia oferece é uma das dúvidas iniciais que o interessado deve tirar ao conversar com a empresa, defende Eliane. Segundo ela, vale perguntar quem são os fornecedores da marca, qual a margem de lucro, qual o suporte que será dado no início e durante a operação, onde e quanto tempo dura o treinamento e se há algum custo adicional.
— Um franqueador atento vai responder a todas estas dúvidas sem problema. Durante a feira, analise o atendimento no estandes, se é objetivo e transparente — aconselha ela.
Pereira também salienta a necessidade de procurar ler sobre a lei de franquia para ter mais fundamento na sua escolha. E não se esquecer de pesquisar os aspectos jurídicos, financeiros, operacionais e comerciais da marca.
— Caso não se sinta confortável para fazer essa pesquisa sozinho, contrate algum especialista da área. E faça contato com os ex e atuais franqueados, para saber se estão satisfeitos — defende.
OPINIÃO DE FRANQUEADORES
“No setor de limpeza e conservador, é ideal que o franqueado tenha conhecimentos básicos do segmento e foco em prestação de serviço” – Alessandra Luchi, diretora de franquia da Igui Trata bem
“Em alimentação, ele deve gostar de liderar pessoas com perfis variados, ter humildade e determinaçaõ para liderar por exemplo” – Antonio Moreira Leite, CEO do Grupo Trigo
“O segredo de um ramo tão competitivo como o de alimentação é a presença constante e atuante do dono” – Julio Monteiro, CEO da Megamatte
“O ramo de educação requer um empreendedor que tenha compromisso com o desenvolvimento do próprio país. Quem estiver pensando num negócio apenas por lucro, melhor procurar outra possibilidade” – Rogério Gama, diretor executivo do Yes
“Para trabalhar com hotelaria/turismo/agência de intercâmbio, é preciso mais do que gostar de viagens, é preciso conhecer os principais destinos do mundo” – Marília Cardoso, proprietária da Trust
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