Italo Calvino (1990). As Cidades Invisíveis. Lisboa: Editorial Teorema.
Regressar a uma antiga leitura, é também descobrir os tortuosos caminhos da memória. Confesso que já não recordava as Cidades de Calvino pelo que são, apontamentos feéricos onde geografias e urbanismos surreais se cruzam com usos e costumes oníricos. Os mapas do imaginário que Marco Polo traça ao imperador Kublai Khan, detalhando os locais que nunca conhecerá do seu império, são assumidas efabulações, jogos de palavras e ideias, cidades que se resumem à representação mental pessoal de uma cidade. Talvez Calvino tenha conseguido, neste texto sedutor e incongruente, captar aquilo que nos faz amar as cidades, que não se traduz em fotos icónicas ou percursos turísticos.
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Talvez tenha sido contaminado pelo Efeito Calvino e, por isso, perdido a recordação do texto original. Chamo-lhe "efeito calvino", mas claro que é uma impressão minha, não sustentada por análises literárias profundas. É a sensação que este texto contaminou profundamente a literatura fantástica, sinto por vezes que escrever um conto ou um livro sobre uma cidade fantástica, com pormenores surreais e feéricos, se tornou um rito de passagem para os escritores e autores de BD que lidam com o fantástico. Não falo das cidades luminosas ou decadentes da Ficção Científica, nem dos medievalismos da fantasia, mas sim de cidades híbridas, palcos por vezes bizarros de histórias improváveis.
É irónico que a releitura deste livro me tenha feito pensar sobre memória. Porque as palavras de Calvino, nesta obra, refletem isso, a memória como efabulações cruzadas com imagens fugazes.