Os atores Jorge Dória e Carvalhinho na comédia "A Gaiola das Loucas"
Atores há que não passam em cena sem um caco colocado no Texto. Eu mesmo confesso que não resisto a um “aprimoramento” do autor (risos). Herança do grande ator Leopoldo Fróes - década de 1930 - este sim, o patrono do “caco” no Brasil. “Depois dele o dilúvio”, para os autores. Quando conversando com o já provecto Dr. Daniel Rocha, à época presidente da SBAT — Sociedade Brasileira de Autores Teatrais - sobre cacos, ouvi dele mesmo, contemporâneo que fora de Fróes, a afirmativa que ninguém, desde então colocara mais “cacos” ou improvisações num texto que Leopoldo Fróes, e ria das suas diatribes.
É claro que o “caco”, a Meu Ver, não cabe nas clássicas e bem-acabadas obras-primas.
Ao meu ver o “caco” surge exatamente da fragilidade de um texto em certo momento da peça. O ator atilado percebe a falha do texto. Então esse comediante, não pode e nem deve deixar cair o ritmo da comédia; é seu instinto que cria o “caco” para preencher a quebra da harmonia naquele momento.
Um dos maiores “caqueiros” contemporâneos, o falecido ator Jorge Dória, com muito humor me disse durante nossas apresentações de “Bonifácio Bilhões”, comédia de João Bethencourt:
- Bemvindo, quem põe caco é ator menor, eu escrevo textos inteiros — e ria deste chiste.
Mas há um consenso entre todos os comediantes: “caco” não se responde. É vergonhoso ver um ator pagando “mico” respondendo de forma medíocre a um “caco” brilhante, apenas porque quer pegar carona no brilho do outro. Apenas porque acha que tem o mesmo dom do “caqueiro”. O caco pertence ao mundo dos cômicos, e não dos atores.
O “caco” está na origem da improvisação teatral.
O “caco” seria um ensaio de improvisação.
Pessoas rígidas têm horror ao “caco”, talvez porque ele desordena seu sistema lógico, sua estrutura fechada. A maioria dos atores preferem ir para o abismo com um texto ruim a “reescreve-lo” com cacos.
Mas o “caco”, compreendo eu, é autorizado pela improvisação no teatro.
Ao longo dos séculos, houve muitos diferentes estilos de improvisações.
O ancestral mais direto da improvisação moderna é provavelmente a Commedia Dell’Arte, que foi popular por toda a Europa por quase 200 anos, com início por volta de 1500. Companhias de atores performáticos viajavam de cidade em cidade apresentando shows nas praças públicas e em palcos nos mercados. Eles improvisavam todo o diálogo. Só mais tarde, com Goldoni, vai se criando um texto mais fechado e escrito para a Commedia Dell’Arte.
Pequeno vídeo sobre o caco:
Escrito Por Bemvindo Sequeira
Colaboraram: Bemvindo Sequeira; entretenimento.r7.com