A ideia que fazíamos do local ainda não estava bem definida, mas adentramos os ônibus com a esperança de ver boas condições de ressocialização pela frente. Da saída da Universidade até a chegada ao Complexo levamos mais ou menos uma hora, entre conversas e expectativas o tempo passou rápido e dali a pouco lá estávamos. Grades e muros por todos os lados, cercas elétricas, agentes penitenciários. O portão se abriu, aguardamos alguns instantes e então adentramos aquele local até então estigmatizado por pré-conceitos estabelecidos pela sociedade, pela mídia, por pessoas desinformadas. Foi um choque de realidade. Eu esperava visualizar um local novo, condições de ressocialização adequadas, corredores iluminados e paredes sem mofo, mas não era Isso que nos esperava. Sim, aquele local é muito melhor do que vários no nosso Brasil tão grande, mas me pergunto, se este é o melhor então como será o pior?! É triste, faltam recursos, reformas e mais Complexos Médicos para que não se torne apenas um grande local com alta rotatividade na troca de internos. Os tratamentos precisam ocorrer corretamente, os diagnósticos... falta pesquisa médica e legal. Falta muita humanização e conscientização. A palavra que reflete grande parte do que nos apareceu é falta.
Os agentes carcerários nos atendenram muito bem, bem como o pessoal da direção que nos mostrou o local esclarecendo as pequenas dúvidas a medida que percorríamos aqueles corredores. Para nós que não estamos acostumados, há muita curiosidade e dúvida, misturado com uma ânsia de poder fazer mais e estar de mãos atadas, e, quem dirá, pés também. Na entrada passamos ao lado de salas onde há assistência social, área jurídica entre outras. Nos mostraram a área em que os detentos tomam sol (apenas uma hora por dia) e também explicaram que havia 11 grávidas no Complexo e estas ficavam em ala separada, elas poderiam permanecer ali até o nascimento da criança quando então iam para outro local. Então fomos conhecer as alas, das grávidas, das mulheres... medidas de segurança, olhos tristes e atentos nas janelas das celas atentas a tudo que acontecia. Não há como explicar nem julgar o que se passa com cada uma delas. Passamos para a parte de trabalhos de arte, onde os detentos fazem suas artes e tentam recortar um pouco o passado criando mosaicos de coisas novas e boas. Andamos mais um pouco e conhecemos a ala masculina, mas não pudemos adentrar, conhecemos outro pátio para tomar sol. Saímos dali e fomos conhecer outra sala de artes. E essa é a parte mais interessante. Depois dela conhecemos a parte em que ficam os detentos mais doentes, alguns com câncer, outros com tiro na coluna... descrevendo crimes pelo artigo e tentando contar a história do passado com algumas das palavras que ainda não se perderam na memória. Mas, voltemos à segunda sala de artes... Lá conhecemos B. Gabriel. Não sabíamos qual crime cometeu, qual pena cumpre, qual doença tem, apenas conhecemos B. Gabriel como quem era ali naquele instante, despidos de preconceitos e munidos apenas de curiosidade e talvez, não tão boa, pena. Foram algumas poucas palavras comigo e mais uma colega, mas isso já fez muita diferença e com certeza trouxe alegria para esse artista plástico, como ele mesmo se autointitula. Ele nos mostrou fotos de seus trabalhos, nos contou que até já os havia exposto fora dali, nos mostrou algumas obras que ali estavam expostas e então nos presenteou com desenhos dele. Um ato pequeno para muitos, talvez sem ter o devido valor dado, por outros. B. Gabriel ficou feliz em poder fazer isso, ele gostou e queria demonstrar sua obra, presentear e mostrar como pode ter algum valor apenas por ser ele e tentando esquecer-se dos "erros". Como ele próprio diz "cometi alguns erros na vida, mas agradeço por agora ter essa chance e me tornar um artista plástico". Não nos cabe medir o ser humano como objeto, amontoá-lo e roubar-lhe a personalidade, a identidade, como alguns fazem.
Deixo claro que essas são algumas ideias do que eu vi o que conclui isso de modo resumido e em texto corrido, sem desprestigiar o trabalho dos que lá estão.