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Resenha do livro Lolita: as memórias de um pedófilo

Fala pessoal, tudo bem com vocês? Espero que sim! A resenha de hoje é a do Livro “Lolita”, considerado uma das obras primas do século passado. O tema abordado é extremamente polêmico, e eu tenho certeza que você irá se surpreender com o material de hoje. A muito tempo que a curiosidade de finalmente ler esse clássico da literatura me perseguia.  O tão controverso “Lolita”, que foi retratado no cinema de maneira icônica e provocativa a ponto de tornar seu título um nome popular para ninfeta. Diante desse contexto, posso adiantar dessa resenha que o livro “Lolita” tem muito mais a oferecer que uma história rasa sobre um pedófilo e sua pupila.

Vladimir Nabokov e sua obra


Vladimir Nabokov

Em abril de 1947, Vladimir Nabokov enviou uma carta ao amigo Edmund Wilson, em que confidenciava: “Estou escrevendo dois textos agora: 1. Um pequeno romance sobre um homem que gostava de menininhas – que vai se chamar The kingdom by the shore (…)”. Esse romance sobre um homem que gostava de menininhas foi publicado em 1955 sob o título “Lolita”, que é considerado uma das obras-primas da Literatura no século XX, teve uma célebre adaptação para o cinema e até hoje é um dos livros mais vendidos no mundo. Entre os impactos da obra, podemos citar a inclusão da palavra Lolita como sinônimo de menina sexualmente precoce no léxico da maioria dos idiomas em que o livro foi publicado.

Vladimir Nabokov (São Petersburgo, 1899 – Montreux, Suíça, 1977) era o filho mais velho de uma família proeminente da aristocracia russa que emigrou para a Inglaterra e posteriormente para a Alemanha depois da Revolução Russa, e precisou novamente fugir, desta vez para os Estados Unidos, visando escapar da perseguição do regime nazista (Sergey, irmão de Vladimir, morreu num campo de concentração em 1945). Nabokov se casou com Véra Evgenyevna Slonim, uma russa de origem judaica, em 1923, com ela teve seu único filho e viveu até o resto da vida. Nos Estados Unidos, o autor se estabeleceu como professor universitário de Literatura, conquistando uma excelente reputação no meio acadêmico. Nabokov aprendera inglês antes dos cinco anos de idade e dominava o idioma com maestria.

Lolita Livro

Lolita, primeiro livro escrito em inglês por Nabokov, foi considerado por boa parte da crítica como um insulto aos Estados Unidos e sua cultura. A primeira edição do livro, em 1955, foi impressa pela Olympia Press, uma editora parisiense de “fama pornográfica’, que editava livros em inglês, depois de ser recusado por quatro grandes editoras dos EUA. Lolita foi proibido na França e na Inglaterra; e somente três anos após sua primeira edição pode ser publicada nos Estados Unidos.

Lolita resenha

No prefácio (fictício) do livro, John Ray Jr. Ph. D., o editor da obra, explica que o protagonista Humbert Humbert morreu na prisão antes de ser julgado por seus crimes e seu advogado, seguindo uma cláusula do testamento, deveria encaminhar o livro para publicação. Ray entende que foi escolhido para editar “Lolita” por haver recebido um prêmio devido a um livro em que discutia perversões. Ironicamente, ao longo da narrativa o protagonista Humbert Humbert escarnece da psiquiatria, considerando-a limitada devido à sua tendência em apresentar explicações lógicas e simplificadoras.

Humbert Humbert conta um pouco de sua vida na Europa, os motivos que o levaram aos Estados Unidos e relata o que ele julga ser a causa de sua parafilia.

H.H. conheceu Lolita, ou melhor, Dolores, uma menina de doze anos, quando alugou um quarto na casa da mãe da menina, com quem se casa para ficar mais próximo de Dolores. A mãe de Dolores a envia para um acampamento de férias, e durante a ausência da filha encontra uma espécie de diário do marido onde ele registra seus desejos em relação à menina. Charlotte o questiona sobre o achado, sai de casa transtornada e morre atropelada. Ao voltar do acampamento, Dolores descobre que a mãe morreu e parte com H.H. em uma viagem passando por diversos estados dos EUA. Nesse ponto, podemos dizer que a menina se torna uma exilada, alienada da sociedade que lhe é familiar em função da morte da mãe. Humbert Humbert também é um exilado nos EUA, mas por opção, enquanto Dolores foi forçada a seguir esse rumo.

Não se trata de uma viagem de lazer e sim de uma fuga, já que H.H. teme que sua guarda sobre a menor seja judicialmente contestada. É durante essa viagem que ele e Dolores começam a ter relações sexuais. Depois de algum tempo, Humbert estabelece uma residência fixa e Dolores passa a frequentar o colégio. Um dia, após ter sido hospitalizada, Lolita foge e H.H. fica um longo tempo sem vê-la, até que recebe uma carta sua. Dolores agora está casada, grávida e aparentando muito mais do que seus 17 anos. Humbert Humbert lhe ajuda monetariamente em troca de uma informação: quem a ajudou em sua fuga? Ela revela seu nome e era pelo assassinato de Clare Quilty que H.H. se encontrava na prisão quando escreveu “Lolita”.

Em 1997 Adrian Lyne dirigiu uma nova versão cinematográfica do livro.

O erotismo em Lolita

Embora “Lolita” seja um livro que conta uma história de pedofilia, o que por si só basta para chocar o leitor, a natureza erótica do romance não se materializa em descrições de cenas de sexo, nem do corpo de “Lolita”, e muito menos das sensações prazerosas sentidas pelo personagem Humbert Humbert ao se relacionar com a menina. O erotismo da trama se traduz na linguagem que o autor constrói ao longo da narrativa, como neste trecho:

“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-lita: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. ta”.

A linguagem em Lolita

Isso permite afirmar que um dos principais temas de Lolita, senão o maior, é o poder da linguagem. A ausência de passagens que possam ser consideradas pornográficas é uma das características ressaltadas pelos que defendem ser o livro uma obra de arte, embora a fronteira que separa o erotismo da pornografia seja um tanto imprecisa e nem todos considerem pornografia e arte conceitos antitéticos.

O estereótipo de pedófilo em Lolita

Lolita questiona o estereótipo do tarado, ou, para usar o termo adequado, do pedófilo. Dentro do estereótipo, a figura do pedófilo na maioria das vezes é reduzida aos seus impulsos sexuais irrefreáveis, mas na história, como já dissemos, o texto chega a surpreender pela economia com que descreve as sensações físicas de Humbert Humbert. Um exemplo disso é a passagem na qual o personagem vai entrar no quarto de hotel em que dormirá pela primeira vez lado a lado com Lolita. O personagem é dominado pela angústia minutos antes de abrir a porta e descreve suas sensações: “corpo tenso à beira do abismo, como aquele alfaiate que há quarenta anos, com seu paraquedas de fabricação caseira, pulou do alto da torre Eiffel”. Depois, já na beira da cama e diante de Lolita adormecida:  “um ataque de azia (grand Dieu, eles dizem por aqui que essas batatas são fritas à francesa!) viria somar-se a meu desconforto”. O fato de ser a menina quem inicia o jogo de sedução também ajuda a desconstruir esse estereótipo do pedófilo, embora sob um outro ponto de vista essa ideia de que a menina “provocou” Humbert seja um dos argumentos mais usados pelos pedófilos da vida real e que nesse ponto a história do livro realmente possa servir, talvez não como incentivo, mas ao menos como justificativa, para a prática desse crime hediondo.

Capas do livro Lolita

O teatro e a prisão como símbolos metafóricos em Lolita

O teatro e a prisão são locais centrais na simbologia da história. O teatro aparece como um símbolo do artifício. Humbert credita a recém adquirida habilidade de Lolita em mentir à sua participação na peça do colégio. A mesma peça da escola é usada por Quilty para atrair Lolita e Lolita é atraída pelo teatro devido à influência dele. Isso é particularmente incômodo para Humbert, que jamais foi capaz de despertar o interesse de Lolita pelas Artes.

Embora Humbert tenha escrito Lolita na cela da prisão, seu confinamento havia começado muito antes do assassinato de Quilty. Nabokov usa o conceito de prisão metaforicamente para simbolizar os próprios segredos internos de Humbert. O protagonista é primeiro aprisionado por seu desejo proibido por meninas e depois pelo “amor” que sente por Lolita.

   Sue Lyon viveu Lolita no filme dirigido por Stanley Kubrick em 1962

Os principais personagem em Lolita

Lolita sem dúvidas trás diferentes personagens marcantes, que nos fazem engolir a seco muitas de nossas convicções e refletir sobre a contemporaneidade e maneira mais crítica. Entre eles temos: Humbert Humbert, Lolita, Clare Quilty e Charlotte Haze.

Humbert Humbert – o narrador

O narrador usa seu talento com a linguagem para seduzir seus leitores, propondo complexos jogos de palavras enquanto descreve seus atos criminosos. Se vê como um intelectual e critica ferozmente a cultura estadunidense, a qual considera vulgar. Seu talento linguístico somado à sua aparência e suas raízes europeias o tornam um homem capaz de seduzir as mulheres ao seu redor sem dificuldades. Nunca faz julgamentos morais de seus atos e se recusa a aceitar que Lolita pode não corresponder aos seus sentimentos.

Lolita – a protagonista

É uma pré-adolescente absolutamente “normal”, com os gostos e comportamento típicos da idade. Após ser vítima de Humbert e Clare, se torna uma mulher cansada e precocemente envelhecida, física e emocionalmente, com apenas 17 anos de idade.

Clare Quilty – o dramaturgo pedófilo

É dramaturgo e faz filmes de pedofilia. Ao longo da história são dadas algumas pistas a seu respeito. Quilty é o “Doppelgänger” (em alemão: o duplo que caminha junto) de Humbert Humbert, a exteriorização do conflito na psique do protagonista.

Charlotte Haze – a mãe de Lolita

A mãe de Lolita, com quem mantém um relacionamento frio e em relação a quem em vários momentos demonstra uma atitude hostil. Estereótipo da típica estadunidense de classe média. É religiosa e tem uma mentalidade absolutamente pautada no senso comum. Vê em Humbert a personificação da sofisticação artística e cultural da Europa.

Como trabalhar Lolita em sala de aula

  • O livro pode ser trabalhado no Ensino Médio, em Literatura, Língua Portuguesa e Nos cursos de graduação em Direito, Letras, Ciências Sociais e Artes também é uma excelente indicação de leitura.
  • Como qualquer outro livro, ao trabalhar com Lolita é interessante expor informações biográficas do autor, o impacto que o livro teve na época e o lugar que ele ocupa na história da Literatura ocidental. Uma sugestão é pedir que os alunos pesquisem essas informações antes da leitura da obra propriamente dita.
  • O livro pode dar subsídio para um debate sobre a liberdade de expressão nas Artes, trazendo a discussão para o contexto do Brasil contemporâneo e dando exemplos de obras que suscitaram o mesmo questionamento.
  • Por se tratar de uma história de pedofilia, trabalhar a origem e o significado dessa definição se faz absolutamente necessário. É importante tratar de aspectos como: a historicidade da questão, legislação, a dimensão cultural e tabus relacionados ao tema.
  • “Lolita” permite fazer uma análise comparativa com outros livros que tratam de temas polêmicos e sofreram duros ataques ao serem publicados.
  • Embora trate de um tema polêmico, Lolita segue sendo um dos livros mais vendidos no mundo. Pode-se propor aos alunos, após lerem a obra, que exponham suas impressões sobre os motivos que levaram o livro a ter tanto sucesso.
  • O livro já foi adaptado para o cinema, o que permite complementar sua leitura com a análise dos filmes nele inspirados.

Vídeos legais sobre Lolita no Youtube

Literatura Fundamental 67: Lolita – Aurora Fornoni Bernardini

Lolita (1997), filme legendado em português

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