A insistência de que a Idade Média foi um período afogado na escuridão da ignorância nos leva a acreditar que foi preciso esperar Colombo viajar até as Índias para mostrar a todos que a Terra era redonda. Porém, a pergunta é: e por acaso alguém pensava que não fosse?

Dizer que o conceito da Terra esférica sempre existiu seria um equívoco: no Egito Antigo, acreditava-se que a Terra Era quadrada cercada por montanhas que apoiavam o céu enquanto que os babilônios acreditavam que a mesma era oca para dar espaço ao mundo dos mortos. Os antigos budistas acreditavam na Terra Plana, assim como na China Antiga. Porém, desde o surgimento dos estudos e comprovações matemáticas feitas pelos gregos no século IV antes de Cristo (em especial por Aristóteles) que comprovavam o formato esférico do nosso planeta, a ideia foi aceita por todos os estudiosos a partir de então, inclusive pela Igreja Católica.

Havia os descontentes, aqueles que apontavam para trechos bíblicos a fim de provar que a Terra nada tinha de redonda, mas com certeza não eram a maioria entre os acadêmicos do período em questão.

Ilustração de uma Terra esférica no L’Image du monde. 1245.

Então o que aprendemos na escola sobre Cristóvão Colombo ter dificuldades para conseguir apoio na sua busca de um novo caminho às Índias, pois acreditavam ele ser um louco ao dizer que a Terra Era Redonda, é mentira? Sim, é. O que Cristóvão realmente se enganou foi no cálculo exato do comprimento esférico da Terra, acreditando que o oceano Atlântico não era tão grande e que a Índia estaria muito mais próxima do que realmente estava. Se não fosse pela América no meio caminho, a frota de Colombo dificilmente teria sobrevivido à empreitada.

Mapa do astrônomo Toscanelli que influenciou diretamente os planos de Colombo.

Voltando à Terra plana, de onde surgiu acusação da ignorância medieval em relação ao formato do planeta? De historiadores e escritores do século XIX. Nessa época brotavam ideias darwinistas e o conceito do criacionismo sendo cada vez mais vandalizado. Aproveitando esse furor, muitos intelectuais da época queriam provar que a ciência e religião não poderiam andar juntas e como que a última sempre atrapalhava o avanço da primeira: daí surgiram diversos textos (inclusive uma biografia de Colombo escrita em 1828 por Washington Irving) alegando que durante toda a Idade Média o conceito da Terra plana era o que dominava entre os acadêmicos.

Juntando isso a uma imagem já mal vista dos questionamentos e tribunais católicos a qualquer conhecimento que não corroborasse com a Igreja ou os ensinamentos bíblicos, a ideia da Terra plana como senso comum em tempos medievais foi fácil de ser vendida e impregnada na sociedade. Nesse mesmo período, ironicamente, surgiram diversas teorias e doutrinas que acreditavam em diversos formatos para a Terra, muitas perdurando até o século passado e poucas ainda presentes no dia de hoje o que mostra que a ignorância científica não se limita a tempos antigos.