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O que atrai Olavo de Carvalho aos Estados Unidos?

Confusão esotérica antimarxista e antiprotestante num imigrante “conservador” brasileiro insatisfeito na nação mais protestante do mundo

Julio Severo
“O Protestantismo nasceu do ódio e da sêde de sangue. Sua inspiração cristã é ZERO,” disse no mês passado Olavo de Carvalho, um filósofo brasileiro que se notabilizou na década de 1980 por ter fundado no Brasil a primeira escola de astrólogos.
Foto real do curso de esoterismo de Olavo de Carvalho
O que o atrai aos EUA, sendo que ele tem desprezado o protestantismo, que é a própria alma e essência dos EUA? Ativistas homossexuais, satanistas e marxistas têm o mesmo desprezo pela alma protestante americana, que deu origem à maioria dos valores conservadores Dos Eua.
Em 2016, Carvalho disse:
“Lutero e Calvino eram almas cheias de ódio. O primeiro foi um genocida, o segundo o inventor do governo totalitário. Seus seguidores estão no caminho do inferno, e se for preciso xingá-los de tudo quanto é nome para tirá-los dessa enrascada, farei isso sem dó nem piedade.”

Carvalho, um imigrante “católico” brasileiro insatisfeito numa nação majoritariamente protestante

O que Carvalho fará? Ele xingará os presidentes americanos que mencionaram de forma positiva o protestantismo? Aliás, ao assinar a Declaração de Independência dos Estados Unidos, Samuel Adams afirmou: “Tenho a confiança de que neste dia o reinado do protestantismo político se iniciará.” Os 56 signatários eram na grande maioria protestantes.
De acordo com Patricia Bonomi, professora emérita da Universidade de Nova Iorque: “Os colonos americanos eram 98 por cento protestantes.”
Carvalho xingará os corajosos colonos americanos? Ele dirá que todos eles já estão no inferno?
Lidando diretamente com os EUA, Carvalho disse:
“Um dos mitos preferidos da cultura americana é o de que a Reforma protestante foi uma das fontes principais da liberdade religiosa, dos direitos individuais e da proteção contra os abusos de um governo central. Some-se a isso a falsa crença weberiana (ou semiweberiana) de que a ‘ética protestante’ gerou o capitalismo, e a única conclusão possível é que o cidadão de hoje em dia deve a Lutero e Calvino, no fim das contas, praticamente todos os benefícios legais, políticos e econômicos de viver numa democracia moderna. Mas tudo isso é propaganda, não História.”
Tal comportamento é diferente do comportamento dos comunistas? Durante o regime militar no Brasil, os comunistas escolheram exílio em países capitalistas, inclusive nos EUA. Acabaram morando num país cujo sistema capitalista eles desprezavam e condenavam.
Carvalho, que despreza e difama o protestantismo, se autoexilou no maior país protestante do mundo. Ele fez, em sua incoerência típica de comunista, o que qualquer comunista brasileiro teria feito. Enquanto os comunistas desprezam o capitalismo dos EUA, Carvalho despreza o protestantismo dos EUA. Ambos aparentemente foram atraídos pela fartura dos EUA.
Se Carvalho se sente atraído apenas pelo capitalismo americano e sua fartura, o capitalismo dos EUA sem seu alicerce judaico-protestante é inútil e perigoso. O protestantismo, com seus valores conservadores, é a vida do capitalismo.

Comentários Polêmicos e Sujos de Carvalho

Mas Carvalho não faz declarações absurdas e imorais somente contra o protestantismo. Eis uma pequena amostra de declarações polêmicas dele (perdoe-me por ter de expor a linguagem vulgar dele) em seu Facebook no Brasil:
“A liberdade de opinião é o último refúgio dos idiotas.”
“Eu me ajoelho diante do padre para receber a comunhão, mas se depois da missa tiver de mandá-lo tomar no cu farei isso com a maior tranqüilidade: — Olhe aqui, seu Zé. Ali você era Jesus Cristo, aqui é apenas um merdinha.”
“Cristãos valentes, que eu saiba, só houve em Portugal, na Espanha, na Hungria e na Polônia. No resto do mundo, uma multidão de boiolas.”
“Se eu tivesse uma buceta, faria chantagem sexual com todos os deputados e senadores e destruiria a classe política inteira de uma vez.”
“Repito: nunca existiu uma entidade chamada ‘Inquisição’ e muito menos ‘Santa Inquisição.’”
“O Bergoglio tem de ser tirado do trono de Pedro a pontapés, e o quanto antes.”
“Depois que o sujeito foi estuprado, ele pode buscar algum consolo retroativo na idéia de que uma piroca tinha sido sempre o seu desejo secreto.”
“Não sou de direita, nem de esquerda.”
“A Igreja Católica nasceu oferecendo mártires, a igreja protestante nasceu matando.”
“Herodes salvou muitas almas: matou as criancinhas antes que pudessem pecar.”
“Vocês acham possível ser uma pura coincidência o fato de que o crescimento brutal da criminalidade e sobretudo da corrupção política tenha acontecido ao mesmo tempo que a destruição interna da Igreja Católica pela Teologia da Libertação e que a ascensão generalizada de mil e uma igrejas ‘evangélicas’ improvisadas, repletas de pastores vigaristas?”
“A credulidade com que tantos evanjegues ouvem pastores semi-analfabetos, drogados, ladrões e putanheiros é a oitava maravilha do mundo.”
“Nos filmes de Hollywood, em cada três palavras duas são ‘fuck.’ É isso o que isola e debilita os conservadores.”
“Lênin já sabia que, na política, quem xinga mais sempre leva vantagem.”
“Enquanto me restarem energias, violarei sistematicamente todas as regras de boa conduta verbal que chegarem ao meu conhecimento.”
Como pode um homem com tal linguagem suja ter alcançado algum sucesso entre conservadores católicos do Brasil? Não sei, exatamente como não sei como um falso messias enganou os conservadores americanos. Em seu livro “Bad Moon Rising: How Reverend Moon Created the Washington Times, Seduced the Religious Right, and Built an American Kingdom” (Lua Negra Surgindo: Como o Reverendo Moon Criou o Washington Times, Seduziu a Direita Religiosa e Construiu um Reino Americano), o escritor John Gorenfeld conta como poderosos evangélicos americanos foram seduzidos pelo falso messias Moon. Assim como Moon usou os evangélicos conservadores dos EUA para crescer, Carvalho tem usado os católicos brasileiros para crescer.
Nos EUA, onde Carvalho adora viver como imigrante, ele tem uma entidade chamada Instituto Inter-Americano, cuja metade dos membros são evangélicos que, por não entenderem português, desconhecem totalmente as declarações e opiniões de seu diretor, que não as publica em inglês.
Os EUA, que na sua fundação tinham uma população 98% evangélica, são o maior país evangélico do mundo, com uma influência evangélica histórica vasta em seus costumes sociais, culturais e políticos. Mas obviamente não é a predominância evangélica que atrai Carvalho aos EUA.

É o catolicismo que atrai Carvalho?

Será o catolicismo então? Se fosse, ele estaria no Vaticano, ou no Brasil, que é o maior país católico do mundo. Carvalho disse: “Vocês já notaram que só nos países católicos foi possível oferecer uma resistência séria ao comunismo?” Mesmo assim, ele prefere viver como imigrante no maior país protestante a viver no maior país católico.
Católicos brasileiros eufóricos preferem olhar para os católicos brancos americanos, que para eles são a verdadeira referência, identidade e esperança de catolicismo e conservadorismo autêntico. Seria esse o caso de Carvalho? A verdade é que, como mostrou reportagem do DailyMail, não se deve, em pesquisas sobre o catolicismo nos EUA, levar em consideração os católicos brancos, pois eles “são muito mais mesclados e influenciados pela cultura protestante mais ampla.” Isto é, o conservadorismo dos católicos brancos americanos reflete o protestantismo americano original!
Além disso, o DailyMail atribui o espírito criativo americano, que é um importante fundamento dos EUA, ao protestantismo na cultura americana.
De que o Carvalho chamaria essa criatividade? Propaganda enganadora? Afinal, durante séculos os americanos de fato foram os maiores promotores de uma propaganda que revelava a Inquisição em sua natureza sangrenta. O lado oposto da questão é que o Vaticano, com seu vasto poder político, financeiro e religioso durante séculos, foi o maior promotor de uma propaganda de Inquisição benevolente e humanitária. Enquanto que a propaganda do Vaticano beneficiou apenas o Vaticano, a propaganda dos EUA beneficiou protestantes e judeus, que eram as maiores vítimas da Inquisição.

Carvalho, os judeus e a Inquisição

Diferente do Vaticano, os EUA têm uma longa história de amizade e parceria com os judeus. Enquanto os EUA foram um dos primeiros países a reconhecer o moderno Estado de Israel, o Vaticano foi um dos últimos.
Os judeus nunca fizeram acusações contra a propaganda protestante americana de Inquisição sangrenta, pois eles sabiam e sabem que não é propaganda. É verdade. Mas até hoje eles têm muitas acusações contra a propaganda católica de uma Inquisição benevolente e humanitária.
Diferente dos judeus, que há séculos acusam e condenam a Inquisição, Carvalho há anos acusa e condena quem acusa e condena a Inquisição, chamando a Inquisição de “lenda negra,” “mito,” “campanha de calúnia e difamação” e “invenção.”

Carvalho: Evangélicos americanos são piores do que comunistas

Ao tratar do tema da Inquisição em 2016, Carvalho publicamente opinou que os opositores da Inquisição, a quem ele chamou de “paladinos da fé,” são muito piores do que comunistas. Ele disse:
“Jamais vi um comunista, no exercício da verborréia revolucionária mais feroz e difamatória, descer aos abismos de malícia e perversidade em que se deleitam, neste país, os paladinos da fé.”
Pelo fato de que Carvalho vive nos EUA, “neste país” provavelmente significa EUA.
Se evangélicos (e também judeus) anti-Inquisição são piores do que comunistas, o que Carvalho está fazendo vivendo como imigrante no maior país evangélico do mundo? Por que ele não se muda para a Cuba comunista, já que os EUA protestantes são piores?
 Carvalho disse:
“Sem a lenda negra da Inquisição, as igrejas protestantes jamais teriam alcançado o sucesso que alcançaram. Quem não quer fugir das mãos sangrentas de torturadores para os braços de Nosso Senhor? A lenda é elemento integrante do prestígio protestante e, se ela cair, ele cai junto.”
O que Carvalho quer dizer é que os EUA nunca teriam alcançado o sucesso de se tornar a maior potência protestante do mundo se não fosse pelo papel predominante dos EUA nas denúncias contra a Inquisição. Carvalho também disse:
“O mito da Inquisição foi a mais vasta e duradoura campanha de calúnia e difamação de todos os tempos, dura até hoje, com financiamento milionário, e parece que não vai acabar nunca. Quem a inventou não foram iluministas nem comunistas. Foram protestantes, que continuam a promovê-la até agora, tendo como centro irradiante as igrejas dos EUA.”
“Cinco séculos de feroz e, até hoje, ininterrupta invencionice anticatólica fazem dos protestantes os campeões absolutos do assassinato de reputações — muito superiores, nisso, a iluministas e comunistas.”
Essa é uma das teorias de conspiração mais mirabolantes que já vi. Carvalho então considera os evangélicos em geral e os evangélicos americanos em particular como piores do que os comunistas. Se isso fosse verdade, o maior país protestante do mundo seria uma verdadeira União Soviética. Não é. O país mais protestante do mundo é os EUA e Carvalho adora viver como imigrante ali.
Carvalho trata os evangélicos dos EUA como mentirosos que inventaram uma Inquisição que nunca existiu, como se multidões de judeus nunca tivessem sido vítimas do que o Carvalho insiste em chamar de lenda e mito. Mas o que ele chama de propaganda mentirosa dos evangélicos americanos contra a Inquisição os judeus chamam de verdade.
Aliás, até mesmo a história do Brasil desmascara uma Inquisição brutal e sangrenta contra os judeus. Muitos judeus brasileiros foram torturados e mortos pela Inquisição. E os primeiros colonos judeus em Nova Iorque eram judeus brasileiros que haviam fugido da Inquisição no Brasil. O primeiro cemitério judeu em Nova Iorque tem nomes brasileiros. Esses judeus brasileiros encontraram refúgio e paz entre protestantes americanos! No Brasil, eles enfrentavam constante ameaças de saque, tortura e morte. Então a própria história do Brasil se opõe à obsessão de Carvalho.

Carvalho: defender a Inquisição é infinitamente mais importante do que derrotar o comunismo

Sua obsessão para sanear e reabilitar a Inquisição é tão grande que em julho de 2016 ele disse que “eliminar da consciência popular mitos como a Inquisição” é infinitamente mais importante do que tirar do poder a presidente socialista Dilma Rousseff. Muitos no Brasil e nos EUA pensam que sua prioridade e alvo eram Dilma, mas ele mesmo confessou que é a reabilitação da Inquisição. Ele disse:
“Quem quer que tenha estudado a ofensiva cultural soviética e a posterior estratégia gramsciana compreende algo que parece ainda totalmente ignorado de cem por cento dos liberais e conservadores neste país: eliminar da consciência popular mitos como a ‘Inquisição’… é infinitamente mais valioso do que ‘tirar a Dilma.’”
Nas décadas de 1980 e 1990, eu estava envolvido ativamente no movimento pró-vida brasileiro e nunca ouvi falar do nome de Carvalho. Mas a partir do ano 2000 ele apareceu com um discurso pró-vida, pró-família, pró-homeschooling, anti-vacina e anticomunismo. Esse discurso atraiu líderes pró-família como eu. Mas depois, com uma fama já estabelecida, ele deixou claro, conforme suas palavras, que eliminar um suposto mito da Inquisição é infinitamente mais importante do que derrotar o comunismo.
No passado, quem quisesse derrotar o comunismo teria de derrubar a União Soviética, o maior propagandista do comunismo. Ronald Reagan fez isso. Quem quiser derrotar a propaganda contra a Inquisição deverá derrubar os EUA, o maior propagandista durante séculos dos males da Inquisição?
Isso será tarefa para Carvalho, que se enxerga com uma missão mais importante do que a missão de Reagan?
A Inquisição não foi o único alvo de propaganda dos EUA. Os EUA também foram os maiores propagandistas contra o marxismo soviético e hoje (pelo menos sua população conservadora) são os maiores propagandistas contra o aborto.
Antes de os EUA focarem no comunismo como inimigo, o maior foco da sociedade americana era o Vaticano e sua Inquisição. Aliás, o histórico da Inquisição foi o que mais dificultou a relação dos EUA com o Vaticano. Foi principalmente a questão da Inquisição que fez os EUA romperem relações diplomáticas com o Vaticano na década de 1860, pois para os EUA, o Vaticano e a Inquisição eram a mesma coisa. Os EUA só reataram relações com o Vaticano na década de 1980, no governo de Ronald Reagan, que tinha como foco a luta contra o comunismo. O comunismo fez com que os EUA se esquecessem da base de sua antiga hostilidade com o Vaticano.
O que atrai Carvalho aos EUA? Os judeus? Mas ninguém que de fato ame os judeus defende ou desculpa a Inquisição, que massacrou milhares de judeus, sempre saqueando suas riquezas.

Esoterismo nos EUA

O que atrai então Carvalho aos EUA? Meu palpite é o esoterismo. Carvalho tem um histórico fortemente esotérico e os EUA, paralelo à influência evangélica, têm também um histórico fortemente esotérico.
Os EUA não são somente a maior nação protestante do mundo, mas também a nação mais maçônica do mundo, de acordo com o livro “Christianity and American Freemasonry” (Cristianismo e Maçonaria Americana), escrito pelo escritor católico William Whalen e publicado pela proeminente editora católica Ignatius Press. Whalen diz que a maior parte dos maçons do mundo vive nos EUA e que a influência da maçonaria na sociedade americana é tão generalizada que até as igrejas que proíbem a maçonaria têm pelo menos 90 milhões de membros que são maçons.
Ainda mais revelador é que o escritor Thomas Horn afirma, em entrevista ao WND (WorldNetDaily), que desde sua fundação os Estados Unidos têm sido manipulados pela maçonaria para seguir uma meta: construir uma sociedade ocultista que um dia dará as boas-vindas ao espírito e pessoa do Anticristo.
Horn é o autor do livro “Apollyon Rising 2012,” que explica que os maçons incorporaram na república dos EUA muitos símbolos esotéricos que, mais de 200 anos atrás, já prediziam que os EUA liderariam o mundo numa nova ordem mundial. O que essas “profecias” mais prediziam era a hegemonia e supremacia dos EUA. Horn aponta essas “profecias,” que estão presentes na moeda e símbolos governamentais dos EUA, como demoníacas.
Logo no início de seu livro, Horn cita o presidente americano George W. Bush, que em seu segundo discurso de posse em 20 de janeiro de 2005 disse: “Quando os fundadores dos EUA declararam uma nova ordem das eras… eles estavam se guiando por uma antiga esperança que estava destinada a um cumprimento.” Horn diz que essa “antiga esperança” eram as “profecias” esotéricas dos maçons feitas há mais de 200 anos sobre a futura hegemonia dos EUA.
Infelizmente, até um presidente evangélico conservador como Bush viu com bons olhos as “profecias” maçônicas sobre seu deus, o diabo, dando a supremacia governamental mundial aos EUA.
Tenho “Apollyon Rising 2012.” Por curiosidade, perguntei a Carvalho anos atrás o que ele achava desse livro, e sua resposta foi que esse livro não é recomendável para leitura… Em contraste, os livros do bruxo islâmico René Guénon sempre foram muito bem recomendados por ele.

Carvalho, Nancy Pearcey e René Guénon

Por que uma denúncia evangélica detalhada contra as premonições ocultistas e esotéricas na história dos EUA deixou Carvalho tão incomodado? Por que ele chama as premonições do bruxo Guénon de “magistrais,” principalmente uma premonição de que a única salvação para a Europa é a Igreja Católica?
Em seu livro “As Garras da Esfinge” (2017), página 25, Carvalho confirma essa “premonição,” dizendo:
“O labirinto de impossibilidades só tem uma saída: o catolicismo só pode ser devolvido à sua integridade originária se consentir em submeter-se ao guiamento de mestres islâmicos. Ou isso, ou a ocupação do Ocidente pelos muçulmanos.”
Ele então acrescenta, na mesma página:
“Que, en passant, Guénon e seus continuadores tenham feito várias contribuições valiosas até mesmo à compreensão do catolicismo… é coisa que ninguém em seu juízo perfeito poderia negar.”
Não sei se o bruxo islâmico Guénon fez as alegadas contribuições “valiosas” ao catolicismo, mas é inegável que Carvalho, que já traduziu para o português um dos livros de Guénon, tem fixação por ele.
Carvalho enxerga as questões sobrenaturais no sentido metafísico entendido por Guénon. Em “As Garras da Esfinge,” página 14, Carvalho diz:
“Que é propriamente uma metafísica? Não uso o termo como denominação de uma disciplina acadêmica mas no sentido muito especial e preciso que tem nas obras de Guénon e Schuon.”
A escritora evangélica conservadora americana Nancy Pearcey identifica Guénon como promotor da Nova Era. Mas Carvalho discorda. Ele disse: “Confundir Guénon com Nova Era é como achar que Karl Marx era os Beatles.”
Com sua boca suja que hostiliza os evangélicos em geral (Lutero, um genocida, Calvino, um tirano), Carvalho disse:
“O problema do Julio Severo é que, além de vigarista desde o ADN, ele é muito inculto. Escreve com a maior cara-de-pau (ou inocência perversa) sobre assuntos que estão inalcançavelmente acima não apenas da sua capacidade, mas até da sua imaginação. Numa dessas ele chamou o René Guénon de ‘ocultista’ e ‘expoente da Nova Era’ (expressão que copiou de Nancy Pearcey).“
Seus xingamentos atuais são chocantes, pois por dez anos (2003-2013) eu havia sido colunista oficial em seu site Mídia Sem Máscara, que havia me convidado para ser um membro de sua equipe de escritores, a maioria dos quais era então conservadora fiscal, e apoiava alguns itens da agenda gay, que é oposta por mim. Aceitei o convite e trabalhei gratuitamente por uma década.
Em minha condição de primeiro colunista evangélico do Mídia Sem Máscara, atraí muitos evangélicos, inclusive da Frente Parlamentar Evangélica, onde eu era muito conhecido por causa do meu livro “O Movimento Homossexual,” publicado pela Editora Betânia. No primeiro congresso da Frente Parlamentar Evangélica em 2003, dei o discurso de abertura e essa foi uma das razões por que o Mídia Sem Máscara me convidou.
No entanto, o site de Carvalho não era minha única plataforma midiática. Eu já era um colunista do JesusSite, que era no início da década de 2000 o mais importante site evangélico do Brasil. Eu contribuía para o Pro-Vida-Familia, o maior site pró-vida católico do Brasil. E eu também contribuía para qualquer site evangélico e católico que me convidasse para escrever artigos pró-vida.
Com minha longa experiência (desde a década de 1980) de aliança pró-vida com proeminentes líderes católicos do Brasil, eu havia pensado que com Carvalho, que dizia que era católico, eu teria a mesma experiência boa que tive com ativistas pró-vida católicos. Por algum tempo, havia tolerância, ainda que eu muitas vezes fizesse pedidos a ele para que evitasse linguagem suja — um mau hábito que nunca vi em nenhum outro líder católico do Brasil. Além disso, em todos os meus anos de aliança pró-vida com católicos, nunca vi nenhum deles defendendo ou desculpando a Inquisição.
Por mais de dez anos, Carvalho louvou meu trabalho. Mas uma mera discordância entre ele e mim por causa da defesa que ele fez do revisionismo da Inquisição em 2013 foi suficiente para ele lançar uma campanha persistente e duradora, regada a boca suja, de assassinato de reputação contra mim.
Seu caso me faz pensar se realmente vale a pena uma aliança entre evangélicos e católicos (esotéricos), até mesmo por amor a uma causa pró-vida.
Em meus 10 anos como colunista no Mídia Sem Máscara, eu não sabia que Carvalho já havia sido processado, por seus ex-alunos de astrologia, por estelionato. Então a acusação dele (“vigarista”) contra mim equivale a Lênin acusando os anticomunistas de serem o que ele era.
Nunca vim a entender, até 2013, as profundezas da paixão dele pelo revisionismo da Inquisição e o envolvimento dele com as ideias de Guénon.
René Guénon (1886-1951) era um católico que se converteu a uma das formas mais ocultistas e esotéricas do islamismo e morreu no Egito islâmico. De acordo com Andrew Phillip Smith, em seu “Dicionário de Gnosticismo” (Quest Books, Theosophical Publishing House Wheaton, Illinois, 2009), Guénon foi um “escritor metafísico francês e fundador do movimento tradicionalista. Ele estava envolvido na Igreja Gnóstica Francesa e publicava um revista chamada Gnose.” Ninguém fez mais para tornar esse rei do gnosticismo conhecido no Brasil do que Carvalho. De acordo com Nancy Pearcey, Guénon era um expoente da Nova Era.
Pearcey tem um livro intitulado “Total Truth: Liberating Christianity from its Cultural Captivity” (Verdade Total: Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural), publicado pela editora Crossway Books em 2004. Esse livro tem um Apêndice 2 intitulado “Islamismo Moderno e o Movimento Nova Era,” em que Pearcey mostra como uma mistura das ideias de Platão e hinduísmo e islamismo (uma genuína salada de Nova Era) está transformando intelectuais católicos em heréticos. Ela diz:
“Durante a era dourada do Islamismo nos séculos VII e VIII, os exércitos de Maomé devastara (sic) tudo desde a península Árabe, anexando territórios da Espanha à Pérsia. Com esta ação, poderíamos dizer, eles também anexaram as obras de Platão, Aristóteles, Plotino e outros pensadores gregos. Por conseguinte, o mundo árabe tinha uma rica tradição de comentários sobre os filósofos gregos muito antes que a Europa. Nos cursos universitários de História, aprendemos que o renascimento foi despertado pela recuperação dos antigos escritos clássicos. Mas raramente aprendemos que foram os filósofos muçulmanos que tinham preservado esses documentos e que os reintroduziram no ocidente.”
“O neoplatonismo se tornou uma forte influência no pensamento islâmico. Hoje, os principais filósofos muçulmanos adotam a filosofia perene, com sua fusão do panteísmo ocidental e oriental. Na realidade, os primeiros proponentes desta filosofia, que eram europeus, acabaram se convertendo ao islamismo! (Entre os grandes proponentes europeus da filosofia perene que se converteram ao islamismo estão René Guenon, Fritjof Schuon e Martin Lings. Hoje, o proponente muçulmano mais bem conhecido da filosofia perene é Sayyed Hossien Nasr). Para completar o círculo, a pessoa que lançou a filosofia perene (um francês chamado René Guenon) acreditava que havia um âmago comum que unia os três: o neoplatonismo, no Ocidente, o hinduísmo, no Oriente, e o islamismo, no Oriente Médio.”

Carvalho e esoterismo islâmico

Além de recomendar Guénon, Carvalho também recomendou o muçulmano esotérico Seyyed Hossein Nasr. Ele disse em seu site pessoal:
“Leiam, por exemplo, ‘Knowledge and the Sacred’ ou ‘Man and Nature’ de Seyyed Hossein Nasr, que foi ministro da Cultura do Irã no tempo de Reza Pahlevi. Livros como esses nos trazem de volta, no refluxo da maré histórica deslanchada por uma grande mentira, as verdades que foram traídas e esquecidas no início do processo. ‘Ex Oriente lux’: a luz vem do Oriente. Pouco importa que tenha sido trazida, de contrabando, na bagagem de ladrões, genocidas e stalinistas. Isso não basta para ofuscá-la. É dela que depende em grande parte, hoje, a reconquista dos ideais ocidentais abandonados pela cultura imanentista dos últimos dois séculos.”
Carvalho sempre esteve à vontade com estudos islâmicos. Seu site pessoal também diz:
“Durante um tempo, [Olavo de Carvalho] dedicou-se aos estudos islâmicos — aprendeu árabe e recita trechos do Alcorão — e ganhou um prêmio na Arábia Saudita em 1985 por um livro de 200 páginas (não publicado) sobre Maomé, no qual usou os conhecimentos da simbólica medieval para interpretar episódios da vida do profeta. Pratica o cristianismo, mas afirma que ficaria à vontade para professar o islamismo. Isso porque, na sua opinião, cristianismo, islamismo e judaísmo têm no fundo o mesmo objetivo. A existência de Deus é para Olavo uma obviedade suprema, a base fundadora de tudo.”
Em 2016, Carvalho se gabou de que a única iniciativa séria para compreender a estratégia comunista na América Latina foi o Grupo de Estudos Ibn Khaldun, em homenagem a um muçulmano árabe. Esse grupo secreto foi criado por Carvalho em 2003. Pode uma estratégia antimarxista que ao mesmo tempo homenageia muçulmanos ter alguma aparência católica?
Guénon é muito raramente citado na literatura evangélica porque a penetração desse ocultista nos meios evangélicos não existe. Ele é um desconhecido. Mas parece que nos meios católicos o inverso está acontecendo.
Guénon tem sido conhecido no Brasil apenas por evangélicos que seguem Carvalho, que também os está influenciando com outros esotéricos, inclusive Mario Ferreira. Carvalho disse:
“Está muito bem que as pessoas se interessem pelos escritos da chamada ‘escola tradicionalista,’ mas tudo o que René Guénon, Titus Burckhardt e ‘tutti quanti’ escreveram sobre o simbolismo dos números — a linguagem essencial de todo esoterismo — é apenas um joguinho de jardim-da-infância quando comparado ao que o Mário Ferreira dos Santos fez em ‘Pitágoras e o Tema do Número’ e sobretudo em ‘A Sabedoria das Leis Eternas’ e demais volumes da série ‘Mathesis.’”
“Um documento precioso que tenho nos meus arquivos (agora guardado no storage) é o horóscopo do Mário Ferreira dos Santos.”



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