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Coreia do Norte à vista!

Uma cena que veríamos muitas vezes ao longo dos próximos dias
Ah, a Coreia do Norte! Poucas viagens poderiam ser marcadas por mais expectativa do que essa. Não é para menos: por mais que se pesquise, há pouca informação disponível sobre esse país. Pior ainda: muito do que se ouve e do que se lê são notícias tendenciosas publicadas por terceiros. Coisa rara, raríssima, é ter contato em primeira-mão com a Coreia do Norte.
Assim, está explicado um dos motivos por que decidimos ir até lá: muito mais do que qualquer outra país que já visitei, a Coreia do Norte é um lugar que só se pode conhecer e entender (pelo menos um pouco) estando lá pessoalmente.
E há, sim, muito preconceito. As pessoas torcem o nariz quando se fala em visitar a Coreia do Norte apontando diversos motivos: porque é uma ditadura, porque tem armas nucleares, porque é um país socialista... Bem, se a preocupação fosse mesmo com o armamento, ninguém visitaria o país que mais  tem gastos (ou investimentos) militares e que mais se envolve em conflitos bélicos - um tal de Estados Unidos, terra do Mickey e da liberdade... Assim como a questão política, que é virtualmente impossível de se dissociar da Coreia, não é motivo para não visitá-la: além de adicionar uma dimensão única à viagem, de fazer a gente abrir os olhos sobre muita coisa (e não só sobre a Coreia, as ditaduras ou o socialismo), é preciso lembrar que o país tem um único líder e dezenas de milhões de habitantes. Como qualquer lugar do mundo, a Coreia do Norte é feita pelas pessoas, todas elas, e encontrá-las é fascinante.
Aviões da Air Koryo em Pyongyang
"Ah, mas se o povo sofre, por que não faz nada? Não se revoltam?" - foi o que ouvi de alguns sobre a Coreia do Norte. Respondo com o que a norte-coreana Lee nos perguntou quando contamos a ela sobre alguns dos casos de corrupção no Brasil: "Mas por que o povo não faz nada? Vocês não protestam?" Digam-me qual dos dois países, Coreia do Norte ou Brasil, é considerado uma democracia, com livre acesso a informação e direito de opinião e manifestação; então respondam à pergunta dela e ganhem de brinde a resposta da pergunta sobre os coreanos. Ah, citar revoltas de Facebook não conta.
Bem, voltando a falar da viagem propriamente dita. Mais do que qual quer outra, ela começa antes, lendo, buscando informações e fazendo contatos. Só se pode entrar na Coreia do Norte através de uma agência de turismo, e sabendo que se vai andar o tempo todo na companhia de guias coreanos. Apesar de parecer que isso restringe a liberdade, no nosso caso foi super tranquilo. Nossas duas guias eram uns amores de pessoas e o roteiro (que na verdade foi montado com base nas coisas que pedimos para ver e fazer) não era tão rígido assim. A verdade é que isso facilita muito e permite acesso a muita informação e a conversas que não teríamos se estivéssemos por conta própria. Sim, acaba encarecendo o passeio mas, mesmo assim, quando penso no tanto de coisas que vimos, na qualidade das refeições e dos hotéis e no fato de termos guias e transporte à nossa disposição, dou-me conta de que o custo realmente não é tão caro assim.
Refeição de bordo
Agora, o difícil mesmo é descrever a expectativa que toma conta da gente no início da viagem. Em Pequim (parada quase que obrigatória, já que não há como ir diretamente da Coreia do Sul para a do Norte), seguindo a orientação de alguns sites da Internet, tivemos a precaução de largar o que tínhamos de livros e de artigos sul-coreanos. Mais tarde, teríamos a impressão de que o cuidado foi exagerado: uma das primeiras coisas que vimos quando chegamos em Pyongyang foi gente vestindo coisa alusiva aos Jogos Olímpicos que estavam acontecendo no vizinho do sul. Antes disso, ainda na hora de fazer o check-in, o coração já estava pulando forte. O voo foi bem mais cheio do que esperávamos e cada norte-coreano que estava ali levava caixas e caixas de bagagem. Certamente aproveitavam a viagem para comprar o máximo de coisas que podiam, dado que os embargos dos Estados Unidos e das Nações Unidas não permitem que uma série de produtos entre no país.
O voo em si, num Tupolev russo bem razoável, foi tranquilo. A televisão de bordo passava belas apresentações de cantoras coreanas; a comida, um curioso hambúrguer acompanhado de refrigerante fluorescente, era razoável e mais farta que a de muitos voos.
Aeroporto de Pyongyang
Ao desembarcar, a passagem pela imigração e pela aduana foi mais tranquila ainda. Ao contrário do que estávamos esperando, ninguém olhou nossas bagagens e passamos diretamente. Ao chegar no saguão do aeroporto, demorou uns minutos até que duas moças se adiantassem e se apresentassem como nossas guias, Lee e Choi. Achamos essa demora ligeiramente estranha, porque acreditávamos que elas estariam já esperando por nós e não seria difícil reconhecer dois estrangeiros como nós ali. Mais tarde, Lee esclareceu que estava esperando dois brasileiros e, portanto, duas pessoas negras; não imaginava que pudéssemos ser branquelos daquele jeito!
Enfim, a viagem estava começando. A terra dos Kim se abria para nós!


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