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Ano novo, vida nova

Entre os poucos indultos que o Sr. Presidente da República deu (a rapaziada Nunca lhe perdoou o esquecimento das prisões no seu Roteiro) e as precárias nesta altura do ano, o Núcleo Duro ficou reduzido a metade (o Zé faz-nos tanta falta). E nesta coisa de entradas e saídas nunca se sabe como se deve interagir. Mas cá vou tentando aguentar esta pesada herança que aquele sacana nos deixou. O Zé.

Num balanço puramente estatístico, uma coisa bate certo: todos se queixam que a merda da vida aí fora tá fodida para aqueles que por mais dificuldades passam. E como se deve calcular, a esmagadora maioria dos reclusos não são originários de famílias abastadas. Daí, o termos testemunhado em conversas informais pelos corredores destas Alas que muitos já conhecem de cor, que muita malta “se desenrascou” para poder comprar uma merdice para os filhos, ou um simples bolo-rei que também custa a mastigar para colocar na mesa de Natal. E isso é fodido, meus. Uns viram as penas agravadas. Outros, lá se desenrascaram.

Certamente que nunca nos podemos queixar do tratamento e das regras deste Estabelecimento Prisional, ou de qualquer outro, porque as coisas funcionam mesmo assim. E por muito que possa doer a quem aqui criou raízes, sempre estivemos a par da realidade; somos escumalha e ninguém dá dois euros por qualquer um de nós. Mas se eu disser que há aqui gajos que estão encostados por pequenos delitos que a lei penalizou com dois ou três anos, e que possuem qualidades que muitos dos "certinhos" do lado de lá do muro não têm, não estarei a faltar à verdade.

Li algures que a medição da cultura dum povo se faz pelo tratamento que dá aos animais, ou coisa parecida. Eu acrescentaria sem pestanejar, que também se pode ajuizar pelo tratamento que os governantes querem, podem, e devem dar aos governados. E mesmo detidos por delitos que a sociedade julga e condena, também temos direito à opinião, sem contudo, recorrermos à indignação. Por motivos óbvios.

Serve este desabafo para constatar que estamos em tempos de mudanças. No Montijo estão a fazer-se coisas novas. Em Paços de Ferreira, também. Por aqui, as mudanças prendem-se com a troca de seringas e com a nova lei do tabaco. Não sei que para que quarto me vão mudar, mas deixar de fumar não deixo, e transformações mais importantes hão-de vir a lume. Nem que seja só p’ra queimar. Mas a malta aguenta.

Daremos notícias novas logo que tenhamos autorização.

Bruno Miguel Martins



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